Do Pragmatismo Político – 01/08/2013
“Medicina
cubana ensina a atender o povo com qualidade e humanismo”
A saúde no Brasil tem sido tema
de grandes debates nas últimas semanas, provocados tanto pelas manifestações
das ruas, que exigem melhoras e mais investimentos na área, quanto pelas
propostas recentes do governo em trazer médicos de outros países para trabalhar
em regiões mais carentes.
Essas propostas, assim como a
obrigação dos estudantes de universidades públicas em cumprir dois anos no
Sistema Único de Saúde (SUS), tem sido alvo de fortes críticas das associações
de médicos, que afirmam que essas não seriam as soluções para os problemas.
A Página do MST conversou com
Augusto César e Andreia Campigotto, ambos formados em medicina em Cuba, sobre o
tema.
Nascido em Chapecó e com 25 anos
de vida, Augusto César ainda não exerce a profissão. Está estudando para fazer
a prova de revalidação do diploma cubano e, assim, poder atuar no Brasil.
Quando conseguir seu registro, pretende trabalhar na área rural, atendendo os
Sem Terra e os assentados da Reforma Agrária.
Andreia Campigotto tem 28 anos e
nasceu em Nova Ronda Alta (RS). Trabalha em Cajazeiras, no sertão paraibano,
como residente em medicina da família em uma unidade básica de saúde, que
atende uma comunidade de 4 mil pessoas.
Formato
O curso de medicina cubano dura
seis anos. Para estudantes de outros países, ele se inicia na Escola
Latinoamericana de Medicina, localizada em Havana. Depois de um período inicial
de dois anos, os estudantes são enviados para as diversas universidades do
país. Augusto e Andreia foram para a universidade da província de Camagüey.
O curso de medicina cubano não se
difere muito do brasileiro, do ponto de vista curricular.
“Os dois primeiros anos trabalham
com as ciências médicas. Estudamos fisiologia humana, anatomia humana e desde o
primeiro ano temos contato com os postos de saúde. Quando somos distribuídos
para as universidades, vivenciamos o sistema público de saúde. Comparado com o
Brasil, o nível teórico é igual, mas o nível de prática é maior”, afirma
Augusto.
“Um estudo do governo federal
mostra a compatibilidade curricular dos cursos de medicina de 90% entre Brasil
e Cuba. Então, não há grandes diferenças teóricas”, conta Andreia.
A diferença principal entre os
dois cursos está na concepção de medicina e de saúde na formação dos médicos.
“O curso brasileiro é voltado para as altas especialidades. Tem essa lógica de
que você faz medicina, entra numa residência e se especializa. Já em Cuba o
curso se volta à atenção primária de saúde, para entendermos a lógica de
prevenção das doenças e o tratamento das enfermidades que as comunidades possam
vir a ter”, diz Augusto.
Em contrapartida, “saúde” e
“medicina” no Brasil são sinônimos de pedidos de exames e tratamento com
diversos medicamentos, calcados em sua maioria na alta tecnologia. Com isso, a
medicina preventiva fica em segundo plano, alimentando uma indústria baseada na
exigência destes procedimentos.
“No Brasil, temos uma limitação
na formação do profissional, pois ela é voltada ao modelo hospitalacêntrico,
que pensa só na doença e no tratamento. Em Cuba isso já foi superado. Lá eles
formam profissionais para tratar e cuidar com qualidade, humanismo e amor cada
paciente; aprendemos de verdade a lidar com a saúde do ser humano”, analisa
Andreia.
Ela destaca que os médicos
formados na ilha são capazes de atender a população sem utilizar somente a alta
tecnologia, condição que não necessariamente limita um atendimento com
qualidade à população que mais carece.
“É mais barato fazer promoção e
prevenção de saúde. No entanto, isso rompe com a ditadura do dinheiro. Com
isso, os médicos aguardam o paciente ficar doente para pedir um monte de exames
e dar um monte de medicamentos”, afirma Augusto
De acordo com ele, essa estrutura
fortalece o complexo médico-industrial, que se favorece sempre que há alguém
internado ou que precise tomar algum medicamento.
“Não negamos a necessidade de
medicamentos e equipamentos, porque precisamos dar atenção a esse tipo de
paciente. Mas não precisamos esperar que todas as pessoas fiquem doentes para
começar a trabalhar a questão da saúde”, acredita Augusto.
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