Da Folha – 20/08/2013
O sentimento de rejeição é
provavelmente a ferida psicológica mais comum e recorrente nas nossas vidas,
afirma o livro "Emotional First Aid" (Primeiros Socorros Emocionais),
recentemente lançado nos Estados Unidos.
Não há quem não tenha sido
preterido em alguma brincadeira infantil, esquecido na hora de uma festa,
perdido o emprego ou sofrido desilusão amorosa, enumera o doutor em psicologia
e especialista em terapia de casais Guy Winch, autor da obra.
"As rejeições são os cortes
e arranhões psicológicos que machucam a pele emocional e penetram na
carne", diz ele. Mesmo com a frequência das ocorrências, o rejeitado pode
não conseguir formar uma carapaça --muitos sofrem tanto que a dor lhes inunda
de raiva e solapa a autoestima.
Não é para menos, explica a
terapeuta de casais Marina Vasconcellos. "O ser humano tem necessidade de
ser aprovado, de ser aceito. Pertencer a uma sociedade, a uma família, é uma
necessidade básica. E a rejeição tira esse direito. Fica um vazio."
A sensação é profunda, diz ela:
"Dói no peito, parece que estão enfiando uma faca".
Não se trata de figura de
linguagem. Em seu livro, Winch cita estudos que, por meio de ressonância
magnética, mostram que a dor da exclusão social ativa no cérebro as mesmas
áreas acionadas pela dor física.
O mesmo acontece em relação ao
sofrimento amoroso, demonstrou trabalho mais recente, não citado no livro. Em
pesquisa feita nos EUA, 40 pessoas que tinham recentemente levado um chute do
parceiro foram submetidas a duas experiências: em uma, viram fotos de seus
"ex"; na outra, receberam estímulos térmicos semelhantes ao de café
quente derramado na mão. Nos dois casos, o cérebro deu respostas similares
(veja ao lado).
As reações das pessoas, porém,
são diferentes. Há os que simplesmente superam, vão em frente, mas também há os
que caem na autocomiseração e na depressão. Sem falar nos casos em que a
rejeição se transforma em raiva.
"É uma reação que pode vir
da própria depressão. Você está indo para o fosso, então violentamente tenta
sair do fosso", afirma a terapeuta de casais Tai Castilho.
Em 551 casos de homens que
mataram suas mulheres nos Estados Unidos, quase a metade dos crimes ocorreu em
resposta a uma separação, constataram cientistas citados no livro de Winch.
FRUSTRAÇÃO
As pessoas estão menos capazes de
lidar com as rejeições impostas pela vida, avalia Araceli Albino, presidente do
Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo. "Há pessoas que acham
que o mundo é uma grande teta e que todos têm de fazer o que elas querem",
diz.
"O mundo contemporâneo
propaga que é possível você ter tudo; se você não tiver, não alcançar, a
frustração é maior", afirma Castilho.
Talvez por isso, diz
Vasconcellos, as relações sejam mais instáveis. "As coisas estão mais
passageiras. Em relações amorosas, as pessoas não investem o quanto deveriam
investir. Se está difícil, já passam para outra."
Mas fica a dor. Que pode ser
superada. "É preciso encarar a rejeição como um aspecto da vida. E
reconhecer que você pode trilhar outro caminho para abrandar a dor",
orienta Joel Rennó Jr., psiquiatra do Programa de Saúde da Mulher da USP.
Não que isso seja simples. Em
muitos casos, é preciso buscar ajuda de um especialista. Mas o rejeitado também
pode se ajudar. "Ouça o que as pessoas falam de você, e não apenas o que
você pensa", diz Marina Vasconcellos. E não tenha vergonha de falar sobre
o assunto, propõe Tai Castilho: "As pessoas não devem ficar
trancadas".
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