domingo, 28 de julho de 2013

Julgamento do Massacre do Carandiru recomeça na próxima semana

Da Agência Brasil – 26/07/2013

São Paulo – A segunda parte do Tribunal do Júri do Massacre do Carandiru começa na segunda-feira, dia 29, às 9h, na capital paulista. Serão julgados, no Tribunal da Barra Funda, os 26 policiais militares (nove deles ainda na ativa) integrantes do 1º Batalhão de Choque, acusados da morte de 73 detentos no terceiro pavimento do Pavilhão 9 do antigo presídio.
Fernando Pereira Filho, promotor de justiça, declarou que, para essa segunda fase, existem provas materiais ainda mais evidentes do que no primeiro julgamento da existência de um massacre dos policiais. No primeiro julgamento foram condenados 23 dos 26 policiais acusados da morte de 13 detentos no segundo pavimento.
O promotor Eduardo Olavo Canto destacou o fato de quase 70% do total das mortes do massacre terem ocorrido no terceiro pavimento. “Não só pela quantidade de tiros: os exames mostram o excesso criminoso. Temos os disparos feitos dentro das celas, há trechos do laudo dizendo, claramente, que houve tiros em rajadas”, disse ele.
O primeiro julgamento ocorreu entre 8 e 20 de abril. Na época, os policiais receberam uma pena de 156 anos de reclusão cada um, em regime inicial fechado. Se forem responsabilizados pelas 73 mortes do terceiro pavimento, os réus podem ser penalizados em 876 anos de pena.
Os promotores explicaram que, inicialmente, 30 policiais eram acusados pelas mortes do terceiro pavimento. Porém, três deles morreram e um foi considerado inimputável por insanidade mental. Além disso, o número de mortos no terceiro pavimento é de 78 detentos. No entanto, cinco deles foram mortos por um único coronel do Batalhão de Choque, que será julgado separadamente, pela conduta individualizada.
Serão ouvidas oito testemunhas de acusação, além do aproveitamento de oitivas já feitas de três testemunhas, que serão exibidas em vídeo. A defesa convocou cinco testemunhas, incluindo o perito Osvaldo Negrini Neto, que será ouvido novamente.
O juiz responsável será Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, em substituição ao juiz José Augusto Nardy Marzagão, que atuou no primeiro julgamento. A previsão dos promotores é que essa segunda parte do julgamento se encerre até sábado, dia 2.
O caso Carandiru ficou conhecido como o maior massacre do sistema penitenciário brasileiro. No dia 2 de outubro de 1992, os policiais acusados entraram no Pavilhão 9 da Casa de Detenção para reprimir uma rebelião. A ação resultou em 111 detentos mortos e 87 feridos.



PARA SABER MAIS:

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Após legalização, Uruguai não registra morte de mulheres por aborto

Do Pragmatismo Político – 23/07/2013

O subsecretário do Ministério da Saúde Pública do Uruguai, Leonel Briozzo, apresentou nesta semana os dados oficiais sobre interrupções voluntárias de gravidez dos primeiros seis meses desde a sua legalização no país. Entre dezembro de 2012 e maio de 2013, não foi registrada a morte de nenhuma mulher que abortou de forma regulamentada no Uruguai.
Foram realizados 2.550 abortos legais, aproximadamente 426 por mês. O Uruguai é um dos países com taxas de aborto mais baixas do mundo. Briozzo explicou que desde o novo marco legal para o aborto, o país os pratica de forma segura, com a consolidação de serviços de saúde para este fim.
A política pública do governo tem o objetivo de diminuir a prática de abortos voluntários a partir da descriminalização, da educação sexual e reprodutiva, do planejamento familiar e uso de métodos anticoncepcionais, assim como serviços de atendimento integral de saúde sexual e reprodutiva.
Segundo esses dados, o Ministério da Saúde Pública atesta que 10 em cada mil mulheres entre 15 e 44 anos abortam no Uruguai atualmente. Esses números situam o país entre um dos que têm menores indicadores, ao lado dos estados da Europa Ocidental.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Votação do Marco Civil da Internet é adiada para agosto

Do Terra – 16/07/2013

A votação do projeto do Marco Civil da Internet, considerado a "constituição da rede" e que era prevista para acontecer na terça-feira, dia 16, foi adiada para a segunda semana de agosto. Com o adiamento da votação do projeto de lei que direciona os recursos dos royalties do petróleo à educação e à saúde, que tem urgência constitucional e tranca a pauta do Congresso, o marco civil só poderá ser votado após o recesso.
Até lá, o relator do projeto, Alessandro Molon (PT-RJ), tenta costurar um acordo com a base aliada para a aprovação do texto, discutido desde 2011. O projeto, que pretende, segundo seu texto, estabelecer "princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil", voltou à pauta do Congresso em meio a denúncias de que o Brasil seria um dos países mais investigados pela NSA (National Security Agency, na sigla em inglês).
Na semana do dia 6 de julho, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), pediu urgência na aprovação do projeto. "É de muita importância que possamos ter da parte do Congresso Nacional uma reposta muito pronta. É inadmissível a violação a soberania e a privacidade do cidadão brasileiros nesse momento", afirmou a ministra.
O caso de espionagem foi revelado pelo jornal O Globo, que teve acesso a documentos coletados pelo ex-técnico da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA), Edward Snowden. Dentro do projeto do marco civil, a ministra aponta como "ponto primordial" a guarda das informações e do trânsito pela rede. Para isso, o texto poderá ser modificado para tratar de maneira mais rigorosa a questão da segurança virtual.


quarta-feira, 17 de julho de 2013

Absolvição de Zimmerman retoma debate sobre preconceito racial nos EUA

Do Exame.com – 15/07/2013

 (Manifestação na Times Square - NY)

Washington - A absolvição de George Zimmerman, o ex-segurança de origem hispânica que matou o jovem negro Trayvon Martin no último ano, reabriu o debate sobre preconceitos raciais nos Estados Unidos e fez com que milhares de pessoas fossem às ruas para cobrar justiça pela morte do adolescente desarmado.
Associações e ativistas americanos foram às ruas no dia 15, segunda-feira, para exigir que o Departamento de Justiça apresente acusações federais contra Zimmerman - por violação dos direitos civis, por exemplo -, embora os especialistas tenham advertido que essa via não é tão simples quanto parece.
O secretário de Justiça, Eric Holder, qualificou hoje a morte de Martin como "trágica" e "desnecessária", confirmando que seu departamento já abriu uma investigação sobre a perspectiva dos direitos civis.
Zimmerman foi absolvido no sábado, dia 13 de julho,  porque o júri popular do tribunal do estado da Flórida aceitou a tese da defesa, a qual citava que o ex-segurança tinha atuado em legítima defesa.
A promotoria, no entanto, argumentou que Zimmerman pressupôs desde o princípio que o jovem afro-americano era suspeito e, por isso, teria provocado um confronto que acabaria com a vida do rapaz.
Como já havia o registro de outros roubos no bairro, o ex-segurança se deixou levar por seus preconceitos e acabou identificando Martin como um possível marginal, ainda que a polícia, por telefone, tinha indicado para não se aproximar do jovem.
Apesar dos fatos já terem sidos julgados, uma intervenção do Governo Federal permitiria abrir uma via não penal contra Zimmerman, baseada na mesma lei sobre direitos civis que compensava às vítimas dos abusos cometidos no passado pelo Ku Klux Klan (KKK) no sul do país após a Guerra Civil.
"Somos conscientes da dor que a nação sente em relação a essa trágica e desnecessária morte em Sanford, na Flórida, no ano passado", afirmou Holder.
O procurador-geral assegurou que "o Departamento continuará atuando de maneira coerente com a lei" e "trabalhando para aliviar as tensões e atender as preocupações da comunidade".
Em entrevista à emissora "Fox News", o ex-promotor Alan Vinegrad declarou que o Departamento de Justiça não tem muito poder para apresentar acusações, já que, para isso, teria que provar que o ataque teve um motivo racial.

"Há vários obstáculos fáticos e jurídicos que os juízes federais teriam que superar: teriam que demonstrar não só que o ataque não estava justificado, mas também que o senhor Zimmerman atacou o senhor Martin por sua raça e porque estava usando uma instalação pública, a rua", ressaltou Vinegrad.
O Bureau Federal de Investigações (FBI) já iniciou a busca dessas provas no último ano, embora tenha interrompido suas investigações para não obstaculizar o processo estadual da corte da Flórida.
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, assegurou na segunda, dia 15, em sua entrevista coletiva diária que a decisão de intervir está nas mãos do Departamento de Justiça e que a possibilidade de levantar acusações federais contra Zimmerman "não é algo que o presidente (Barack Obama) possa decidir".
"Seria inadequado que um presidente opinasse sobre o que o Departamento de Justiça deva fazer", declarou o porta-voz. "Obama não tem nenhuma opinião que expressar sobre a disposição do Departamento de Justiça para tratar este caso", completou.
Na ocasião, Carney também se referiu às declarações feitas pelo presidente Obama no domingo ao julgamento, nas quais pediu uma "reflexão acalmada" à cidadania e reiterou suas condolências pela morte do jovem Martin.
Em reação à absolvição de Zimmerman, manifestações e protestos foram realizados ao longo de todo o fim de semana nos EUA, um fato que resultou em dezenas de detenções tanto em Los Angeles (Califórnia) como Nova York.
A polícia de Los Angeles informou que deteve seis manifestantes entre a noite do domingo, dia 14, e a manhã da segunda-feira, 15. Algumas das pessoas que participavam dos protestos teriam lançado pedras e pilhas nos agentes de segurança, que dispararam balas de borracha em resposta, informou o jornal "Los Angeles Times".
Em Nova York, o protesto reuniu mais de mil pessoas na Times Square na noite do último domingo, dia 15. Na ocasião, a polícia local anunciou a prisão de pelo menos 12 manifestantes.

Senador italiano compara ministra negra a orangotango

Da AFP – 14/07/2013

Um senador do partido da Liga do Norte comparou Cecile Kyenge, primeira ministra negra da história da Itália, a um orangotango, o que provocou a reação do chefe de Governo, Enrico Letta.
No sábado, dia 13, durante uma reunião de seu partido em Treviglio (norte), o senador Roberto Calderoli, conhecido por suas declarações polêmicas, declarou que a ministra de origem congolesa, Cecile Kyenge, "faz bem de ser ministra, mas deveria o ser em seu país (...) Eu me consolo quando navego na internet e vejo as fotos do governo. Adoro animais (... ), mas quando vejo imagens de Kyenge, não posso deixar de pensar em suas semelhanças com um orangotango, mesmo que eu não diga que ela seja um deles".
Essas declarações imediatamente repercutiram nas redes sociais, provocando uma onda de indignação.
No domingo, dia 14, em um comunicado oficial, Enrico Letta reagiu pessoalmente: "as palavras que apareceram hoje na imprensa e atribuídas ao senador Calderoli sobre Cecile Kyenge são inaceitáveis e ultrapassam qualquer limite".
Em um comunicado, ele também expressou "sua plena solidariedade e apoio à Cecile". O presidente do Senado, Pietro Grasso, exigiu desculpas formais de Calderoli. Cecile declarou neste domingo à agência de notícias Ansa que "não toma pessoalmente as palavras de Calderoli, mas elas me entristecem por causa da imagem que dão à Itália". "Eu acredito que todas as forças políticas devem considerar o uso que fazem da comunicação".
Em 2006, Calderoli precisou renunciar sob o governo Berlusconi após se exibir com um camiseta anti-islã sobre Maomé.
Desde sua nomeação, Kyenge precisou enfrentar várias manifestações hostis por parte da Liga do Norte, um partido aliado ao Povo da Liberdade de Silvio Berlusconi.
Desde sua posse, no final de abril, a ministra foi alvo de agressões verbais e até ameças de morte postadas em sites racistas e em sua página oficial no Facebook.


Medicalização: troca de carinho e atenção por remédios e tratamentos

Da Rede Brasil Atual – 14/07/2013

São Paulo – Diante de uma suposta dificuldade no processo de aprendizagem é cada vez mais comum profissionais de educação logo aventarem a possibilidade de um problema orgânico. E sem sequer refletir sobre outros aspectos relacionados à própria prática pedagógica, à escola ou mesmo a outros fatores, inclusive familiares, recomendam que os pais procurem ajuda de especialistas, como fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos e psiquiatras, entre tantos outros. Não demora e a criança é submetida a exames e mais exames – isso quando já não sai da primeira consulta com um diagnóstico de um distúrbio qualquer e nas mãos uma receita de medicamentos capazes de ajudá-la a manter sob controle distúrbios que estariam dificultando o aprendizado.
Assim é o chamado fenômeno da medicalização da educação e da sociedade, processo que transforma em distúrbios a serem tratados com terapias e medicamentos questões inerentes à vida social, como emoções, sentimentos e comportamentos que não são aceitos socialmente. Ou seja, comportamentos diferentes do padrão imposto pela sociedade acabam transformados indiscriminadamente em doença passível de medicação e de acompanhamento excessivo com psicólogos, fonoaudiólogos e outros profissionais. É o caso do transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), que tem sido cada vez mais diagnosticado no Brasil. Ao mesmo tempo em que aumentaram os diagnósticos, cresceu a prescrição de medicamentos como o metilfenidato, com o nome comercial de Ritalina, ainda sem estudos suficientes sobre os efeitos nocivos de seu uso prolongado.

Preocupados com o crescente fenômeno, especialistas brasileiros, argentinos, chilenos, cubanos e espanhóis, entre outras nacionalidades, reúnem-se no 3º Seminário Internacional A Educação Medicalizada: Reconhecer e acolher as diferenças. Organizado pelo Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, o evento que começou na noite da última quarta-feira (10) e terminou ontem (13), na capital paulista, contesta a criação de pretensos transtornos que justificariam diferentes comportamentos, questionamentos e ritmos de aprendizagem, além de discutir a crescente judicialização e criminalização das relações sociais.
"Esse fenômeno social é importante porque atinge a sociedade como um todo, de maneira contundente. Leva ao uso excessivo de remédios e terapias, transforma sofrimentos e dificuldades em doenças e a vida das pessoas em produtos; é uma máquina de consumo, de controle", disse o presidente do Sindicato dos Psicólogos de São Paulo (Sinpsi), Rogério Giannini, que participou da organização do seminário.
Em sua participação no debate sobre patologização, judicialização e criminalização da vida e da política, a juíza Dora Martins, da Vara da Infância e Juventude do Fórum Central João Mendes, em São Paulo, criticou a falta de um olhar individualizado e reabilitador às crianças moradoras de abrigos, que geralmente recebem medicamentos para controlar comportamentos agressivos quando deveriam receber tratamento adequado para as angústias e sofrimentos que provocam tais comportamentos.
"Quem nunca ficou em abrigos não pode imaginar o que é morar com mais de vinte pessoas no mesmo espaço, sem pai nem mãe. Algumas crianças até se conformam, outras se rebelam, reclamam, berram, choram, brigam e são medicadas para se comportarem. Estigmatizadas, dificilmente conseguem ser adotadas porque tomam um monte de medicamento", disse a juíza. Ela lembrou de um menino que cresceu em abrigos. Considerado o terror dos abrigos por onde passava, recebia muitos remédios para controlar seu comportamento agressivo. Aos 7 anos, teve a sorte de ser adotado por uma médica que o levou para morar no exterior e aos poucos foi retirando a medicação. "Hoje o menino está ótimo, tranquilo, extremamente sociável, normal. É o que acontece quando em vez de medicamentos desnecessários a criança recebe afeto e atenção".
A presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro e psicóloga Cecília Coimbra destacou que a medicalização é uma das técnicas praticadas pelos estados modernos para subjugar e controlar as populações, o chamado biopoder. "A escola, a família, o trabalho impõem determinadas ideias e modos de estar no mundo e de viver como se fossem únicos e verdadeiros, mas que na verdade interessam ao sistema econômico capitalista no qual vivemos. E acabamos vendo isso como natural."
A médica Mariana Arantes Nasser, do Centro de Saúde Samuel Barnsley Pessoa, ligado à USP, a psicóloga Lúcia Masini, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, e Marilda Nogueira de Almeida, do Instituto Sedes Sapientiae, apresentaram conceitos e práticas não medicalizantes na educação e na saúde. Elas integram o grupo de trabalho Educação e Saúde do Fórum, que lançou a primeira edição revista de suas recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde.
Entre as recomendações estão a inclusão de toda a comunidade no projeto pedagógico da escola, a discussão de iniciativas e estratégias que deram certo e levantamento de temas sobre os quais os alunos querem aprender e a investigação apurada das queixas relativas ao mau comportamento e dificuldades de concentração.
"A medicalização na educação é importante porque é lá que a sociedade se reproduz. E ao se responsabilizar o aluno, e não o sistema pelas dificuldades, a questão acaba nos serviços de saúde", disse Mariana Nasser.
Apesar do título, o documento escrito em linguagem simples e acessível por educadores, psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, médicos e antropólogos é útil também para orientar pais e demais pessoas interessadas no assunto.  O documento pode ser acessado no site do Fórum sobre medicalização da educação e da sociedade.
Participam ainda do grupo de trabalho representantes do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de Psicologia Clínica da Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho (Unesp), Grupo Interinstitucional Queixa Escolar, Associação Palavra Criativa e Rede HumanizaSUS, entre outras entidades.


Cimi: violência contra índios cresce no Brasil

Do Portal do Senado Federal – 28/06/2013

O assassinato de Adenílson Kirixi Munduruku, em novembro de 2012, durante a Operação Eldorado, da Polícia Federal, foi uma das 60 mortes de índios registradas no ano passado pelo Conselho Indigenista Missionário(Cimi), ligado à Igreja Católica. Adenílson foi baleado em uma ação policial que destruiu balsas de garimpo no Rio Teles Pires, na divisa entre Mato Grosso e Pará. O caso dele é um dos que compõem o relatório Violência contra os povos indígenas no Brasil, lançado no dia 27 de junho, pelo Cimi, em Brasília.
Além dos assassinatos, que cresceram 17% com relação a 2011, o documento denuncia o alarmante aumento de 237% na violência contra os indivíduos — que reúne tentativas de homicídio, ameaças de morte ou atos de racismo e de violência sexual contra índios. Em 2012, foram 1.276 episódios, número bem maior que os 378 registrados em 2011. A população indígena afetada pela falta de assistência médica e de educação escolar saltou de 62 mil para 106 mil, um crescimento de 72% nesse tipo de violência classificada pelo conselho como omissão do poder público. “Nossa avaliação é que há uma violência institucional contra os povos indígenas, que se dá por meio de diferentes instrumentos”, analisa Cleber Buzatto, secretário executivo do Cimi.
Com 10 homologações em dois anos, o governo da presidente Dilma Rousseff é o que apresenta o menor número absoluto e a menor média de criação de terras indígenas desde 1985. Entre os instrumentos citados por Buzatto está a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que transfere poderes de demarcação e homologação de terras indígenas do Poder Executivo para o Congresso Nacional.
“A bancada ruralista tem 214 deputados; como defender os interesses indígenas se 41% dos deputados são declaradamente contrários às demandas indígenas?”, pergunta Antônio Canuto, secretário da Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Atritos com fazendeiros, madeireiros e posseiros são os maiores motivos de violência contra índios no Brasil. O mais recente assassinato por esse tipo de conflito foi Oziel Gabriel, morto em 30 de maio, durante a desocupação da Fazenda Buriti, em Sidrolândia, Mato Grosso do Sul, reivindicada pela etnia Terena. De acordo com a CPT, só neste ano, oito índios foram assassinatos.

Números da agressão (entre 2011 e 2012)
Crimes contra o indivíduo, como homicídios, tentativas de assassinato, ameaças de morte, racismo e violência sexual 378 para 1.276 (237%);
Por omissão do poder público, como oferta precária de saúde e de educação escolar 61.988 para 106.801 (72%);
Crimes contra o patrimônio, como invasão de terras, exploração ilegal e demora na regularização das áreas indígenas 99 para 125 (26%).
Fonte: Relatório Violência contra os povos indígenas no Brasil, 2013, Cimi


Uma outra polícia é possível?

Da Rede Brasil Atual – 13/07/2013

Discussão sobre a desmilitarização volta a ganhar força depois de violências explícitas nas manifestações do último mês. Especialistas apontam que mais que tirar fardas é preciso mudar estruturas

São Paulo – Há anos grupos que lutam contra a violência policial exigem mudanças em meio a crimes com comprovada e presumida participação de funcionários públicos que deveriam garantir a segurança, e não humilhar, agredir e matar. Em meio às manifestações que tomaram o país no último mês, o uso desproporcional da força de policiais de vários estados reaqueceu o debate. Diversos movimentos sociais centrados em outras pautas passaram a colocar como uma das prioridades para o país a desmilitarização das polícias estaduais.
As imagens de policiais atirando gás e balas de borracha contra pessoas paradas, jornalistas trabalhando e manifestantes desarmados foi um dos motores que impulsionaram a multiplicação de ativistas em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Mas o problema é antigo e tem causado danos irreparáveis. Em maio do ano passado, a Dinamarca chegou a recomendar que o Brasil extinguisse a Polícia Militar no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) que exigiu mais esforços do país para acabar com grupos de extermínio formados por policiais.
A questão vai muito além de uma mudança de nome, de roupa e da forma de chamar o policial. A rígida estrutura a que são submetidos os PMs tem consequências negativas para eles mesmos e para o resto da sociedade, afirmam especialistas.
Proibidos de reivindicar melhores salários e de se organizarem em sindicatos, são impedidos de acessar garantias trabalhistas, além de terem seus direitos humanos constantemente desrespeitados com amparo em códigos de conduta. “Segundo uma pesquisa que fizemos recentemente, muitos regulamentos disciplinares são inconstitucionais e extremamente autoritários. É difícil esperar uma polícia que trate o cidadão como tal quando ele foi tratado no quartel de modo autoritário”, afirma o sociólogo e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Ignácio Cano. Para ele, a manutenção dessas normas interessa aos oficiais militares, e não aos soldados de patente inferior. “Os praças não têm nada contra a desmilitarização, até porque acham que vão receber melhor como servidores civis do que como servidores militares”, afirma.
O professor e cientista político Guaracy Mingardi lembra que a polícia como a conhecemos hoje é fruto de uma exigência dos militares que comandaram o país depois de um golpe entre 1964 e 1985 para aumentar seu controle. Antes disso, afirma o professor, as diversas forças de segurança civil não eram “nem melhores nem piores”, mas o que fica evidente é que pouco mudaram desde a redemocratização.
“O problema da força pública antes disso é que ela era, até mil novecentos e trinta e pouco, uma espécie de Exército. Mesmo depois, entre os anos 1930 e 1940. Só aos poucos foi entrando policiamento, porque a maior parte ficava aquartelada. A ideia de desaquartelar é dos anos 1980”, explica. “A saúde pública melhorou, a educação pode estar uma porcaria, mas melhorou. Pelo menos atende a todo mundo. Mas a segurança, que nunca foi uma maravilha, não melhorou”, aponta Mingardi.
Para o professor, é fundamental a extinção da Inspetoria Geral das Polícias Militares (IGPM), órgão do Exército que coordena as polícias militares de todo o país e da Justiça Militar. “Para os oficiais, é um privilégio, ele é sempre bem tratado. Já para os soldados é ruim. Tem muitas coisas que caem lá que têm peso militar; o sujeito é julgado como se estivesse no exército.”
A lógica de submissão a um código de conduta próprio seria a responsável pela visão do cidadão comum como um inimigo, a quem desmandos sofridos poderiam ser transmitidos sem consequências. “Há um ditado entre os PMs que é: 'Paisano é bom, mas tem muito'”, conta Mingardi. “Isso explicita que eles se veem de forma diferente do resto da sociedade”, argumenta.
“Na década de 1980, já tivemos coronéis falando assim: 'o suspeito típico é mulato, tem entre 18 e 22 anos, se veste de tal maneira'. Ou seja, caracteriza o sujeito. De qualquer forma, é mais fácil um civil se ver como parte da sociedade do que o militar. Uma parte da sociedade também vê assim, mas, quem passa, quem atua nisso é a polícia”, diz.
Para a diretora-executiva da Conectas Direitos Humanos, Lucia Nader, a polícia não recebe um treinamento diferente para brancos e negros, estes últimos alvos principais da violência policial. A atuação diferenciada seria fruto de uma “cultura de discriminação” disseminada pela sociedade e amparada por outras disparidades sociais. “Se hoje um guarda militar me para e viola meus direitos, eu sei muito bem o que fazer, a quem recorrer e como denunciar. E ele vai pensar duas vezes antes de fazer isso. Se ele fizer no Jardim Ângela (zona sul de São Paulo), a situação é um pouco diferente. É muito uma coisa de como a população tem acesso à Justiça, é ciente dos seus direitos e tem mecanismos confiáveis de denúncia”, argumenta.
Lucia acredita que a Polícia Militar é uma das poucas instituições que não passaram por um processo de redemocratização após a saída dos militares do poder. “Sem dúvida, tem muitos problemas na polícia e um deles é a questão da referência à ditadura, que vai desde o nome até uma série de estruturas e ligações com o Exército, mas na nossa opinião é mais profundo do que isso”, diz, em consonância com os outros especialistas.
Para eles, é mais importante mudar os preceitos e romper com estruturas formais da Polícia Militar do que desmilitarizá-los. “Podemos ter uma polícia desmilitarizada e continuar tendo uma polícia altamente violenta, com altas taxas de letalidade, como a polícia é hoje”, afirma Lucia. Ela sintetiza as mudança em cinco ações: valorização dos profissionais, fortalecimento da ação investigativa, responsabilização pelos abusos cometidos, recolocação da polícia como serviço público e maior controle sobre o uso da força. “Como e quando ela faz uso da força tem que ser regulamentado e de uma maneira restrita e proporcional à ameaça apresentada”, afirma.


Egito tem novo governo sem islamitas após queda de Mursi

Do Exame.com – 16/07/2013

O novo governo egípcio, sem a presença de partidos islâmicos, assumiu suas funções na terça-feira, dia 16, no Cairo, menos de duas semanas após o golpe militar que derrubou o presidente Mohamed Mursi, em meio à violência.
A nova equipe, com mais de trinta membros, foi imediatamente rejeitada pela Irmandade Muçulmana, movimento ao qual pertence Mursi.
"Não reconhecemos nem a legitimidade, nem a autoridade deste governo", reagiu o porta-voz da Irmandade, Gehad El-Haddad.
O novo primeiro-ministro, Hazem Beblawi, havia mencionado a possibilidade de incluir islamitas em sua equipe.
O chefe do Exército, general Abdel Fattah al-Sissi, que comandou a deposição de Mursi, manteve sua pasta da Defesa e recebeu também o posto vice-primeiro-ministro.
A pasta das Relações Exteriores será confiada a um ex-embaixador em Washington, Nabil Fahmy, e a das Finanças ficará com Ahmed Galal, um economista que trabalhou para o Banco Mundial.
Beblawi, um economista de 76 anos, foi encarregado de formar o novo gabinete pelo presidente interino nomeado pelo Exército, Adly Mansour.
O prêmio Nobel da Paz e um dos principais líderes da oposição, Mohamed ElBaradei, já havia tomado posse no domingo, dia 14, como vice-presidente encarregado das relações internacionais.
Ao menos três ministérios ficarão a cargo de mulheres, e outros três serão ocupados por membros da comunidade copta, a corrente cristã do Egito, hostil ao ex-presidente islamita.
"É um governo que reúne" todas as formações contrárias a Mursi, e "acredito que haverá uma tentativa de atrair os salafistas" para estender o governo para além das formações laicas, declarou à AFP Hassan Nafaa, professor de Ciência Política na Universidade do Cairo.
Exibida pela televisão estatal, a posse do novo gabinete na presença do presidente interino representa mais uma etapa na transição política no país.
A transição também prevê a adoção de uma nova Constituição e a realização de eleições legislativas até o início de 2014, antes das eleições presidenciais.
No dia 16, terça, as autoridades interinas fizeram um apelo a todas as forças políticas para que trabalhem pela "reconciliação nacional".
Contudo, a justiça egípcia abriu procedimentos judiciais contra vários líderes da Irmandande Muçulmana, entre eles o Guia Supremo, Mohamed Badie.
No total, mais de 100 pessoas morreram no Egito desde 3 de julho, dia em que o Exército derrubou o presidente islamita Mohamed Mursi, após uma série de manifestações que exigiam sua renúncia.
Na segunda-feira, dia 15, à noite, milhares de partidários de Mursi saíram às ruas e confrontos foram registrados em vários locais entre as forças de segurança e alguns grupos de manifestantes.
Os confrontos, que ocorreram durante a primeira visita de uma autoridade americana - o secretário de Estado adjunto Bill Burns - desde o golpe militar que derrubou Mursi, deixaram sete mortos e mais de 260 feridos, segundo uma fonte médica.
Pelo menos 401 pessoas foram detidas após os confrontos, os primeiros registrados na capital desde os que deixaram 53 mortos no dia 8 de julho em frente à sede da Guarda Republicana.
Os partidários de Mursi, que denunciam um "golpe de Estado militar" contra o primeiro presidente democraticamente eleito no país, afirmaram que vão manter a mobilização até seu retorno ao poder.
Os anti-Mursi, que acusam o presidente deposto de ter governado em favor de sua Irmandade e de não saber enfrentar a crise econômica, também continuam mobilizados na Praça Tahrir e em frente ao palácio presidencial.
Na mesma segunda, Bill Burns pediu que a situação no Egito seja apaziguada, considerando que as prioridades devem ser o diálogo e o fim da violência.
A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, anunciou que irá na quarta-feira ao Egito para pedir um "retorno à transição democrática, o mais rápido possível".
Ela afirmou que se reunirá com o presidente interino Adly Mansour e com membros do novo governo, e que terá encontros também "com outras forças políticas e representantes da sociedade civil."
No início da tarde do dia 16, terça-feira, as novas autoridades egípcias expressaram forte ressentimento pelas declarações de apoio do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, ao ex-presidente Mursi, vítima de um "golpe de Estado", segundo esse chefe de governo.
Erdogan afirmou recentemente que Mohamed Mursi, de quem é amigo, continua a ser o único chefe de Estado egípcio legítimo.


Estudante cria aplicativo para detectar primeiros sinais de câncer de mama

Da EFE – 17/07/2013

Um estudante da Universidade Nacional da Austrália, em Camberra, criou um aplicativo para smartphone, que pretende ajudar mulheres na prevenção do câncer de mama.
Sanjay Sreekumar, aluno da escola de Ciências e Engenharia da instituição, afirmou que o programa permite que sejam identificadas com antecedência irregularidades, com medições mensais, indicando a necessidade da realização de exames médicos.


Para Chomsky, empresas da web permitirão a governos 'saber tudo' sobre internautas

Da BBC Brasil – 11/07/2013

O linguista americano Noam Chomsky, conhecido pelas críticas que faz à conduta das autoridades de seu próprio país, acredita que as grandes corporações da internet estão juntando dados diversos de usuários da internet com mais competência do que os governos, e que isso permitirá que as autoridades possam conhecer "tudo" a respeitos dos seus cidadãos.
Em entrevista à BBC Mundo, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) ─ no mesmo lugar onde, em 1962, John Carl Robnett Licklider concebeu pela primeira vez a ideia de uma rede global ─, Chomsky opina que as revelações do ex-técnico da CIA Edward Snowden sobre a espionagem de cidadãos praticada pelos EUA são uma prova de que os governos podem se beneficiar de dados sobre usuários que são coletados pelas grandes corporações.
Chomsky, que revolucionou a linguística e escreveu mais de cem livros, reconhece que a web pode ser valiosa - ele mesmo a usa o tempo todo -, mas desmistifica seu impacto e questiona suas consequências.
O linguista argumenta que o advento do telégrafo e das bibliotecas públicas teve um impacto muito maior do que a rede mundial de computadores nas comunicações e no acesso ao conhecimento.
Além disso, ele considera o Google Glass — óculos inteligentes ainda em fase de testes — "orwelliano e ridículo" e acredita que a web pode isolar e radicalizar seus usuários.
Veja a seguir os destaques da entrevista:

Internet x telégrafo
"A internet representa uma mudança, mas houve mudanças maiores quando se observa o último século e meio.
A transição entre a comunicação viabilizada pela navegação à vela e a viabilizada pelo telégrafo foi muito maior do que (a transição) entre o correio tradicional e a internet.
Há 150 anos, se você mandasse uma carta à Inglaterra, a resposta poderia demorar dois meses, porque viajaria em um barco ou talvez não chegasse a seu destino.
Quando surgiu o telégrafo, a comunicação se tornou praticamente instantânea. Agora que temos a internet, ela apenas ficou um pouco mais rápida."

Internet x bibliotecas
"Há um século, quando foram criadas bibliotecas públicas na maioria das cidades americanas, a disponibilidade de informação e o incremento da riqueza cultural foi amplamente maior do que o gerado pela internet.
Agora você não precisa atravessar a rua para ir à biblioteca e pode acessar a informação em sua própria sala de estar. Mas a informação já estava lá, do outro lado da rua.
A diferença entre a internet e uma biblioteca é menor do que a diferença entre a ausência de uma biblioteca e sua existência (...). Além disso, na biblioteca pelo menos você pode confiar que o material terá certo valor, porque passou por um processo de avaliação.
A internet é um conjunto de ideias, e é difícil distinguir entre o que alguém pensou enquanto atravessava a rua ou algo que alguém de fato estudou com profundidade."

Mais unidos ou mais separados?
"Caminhar falando ao telefone é uma forma de se manter em contato com os demais, mas será um passo adiante ou para trás?
Acho que provavelmente seja um passo para trás, porque separa as pessoas e constrói relações superficiais.
Em vez de falar com as pessoas cara a cara, conhecê-las pela interação, está se desenvolvendo uma espécie de caráter casual dessa cultura.
Conheço adolescentes que acham que têm centenas de amigos, quando na verdade estão muito isolados. Quando escrevem no Facebook que amanhã terão uma prova na escola, recebem uma resposta como "boa sorte" e concebem isso como amizade.
Ainda não vi nenhum estudo a respeito, mas acho que a nova tecnologia isola as pessoas em um grau significativo, separa-as umas das outras."

Mente mais aberta?
"A internet fornece acesso instantâneo a todo o tipo de ideias, opiniões, perspectiva, informações. Será que isso ampliou nossas perspectivas ou as estreitou?
Acho que as duas coisas. Para alguns, ampliou. Se você sabe o que está procurando e tem um senso razoável de como agir, a internet abre perspectivas. Mas se você chega à internet desinformado, pode acontecer o oposto.
A maioria das pessoas usa a internet como entretenimento, diversão. Mas entre a minoria que a usa para buscar informação, nota-se que elas identificam muito rapidamente seus sites favoritos e os visitam porque eles reforçam suas próprias ideias. Daí você fica viciado nesses sites, que dizem exatamente o que você está pensando e (você) não olha mais aos demais.
Isso tem um efeito cíclico; o site se torna mais radical, e você se torna mais radical e se separa dos demais."

Sem segredos
"Apenas por fins comerciais, Google, Amazon e etc. estão colecionando enormes quantidades de informação sobre as pessoas - informação que não acho que eles devessem ter.
Rastreiam os seus hábitos, suas compras, seu comportamento, o que você faz, e estão tentando controlá-lo direcionando você para determinado caminho.
Acho que isso é feito em níveis que superam o do governo. Por isso, o governo está pedindo ajuda (a essas corporações).
Os mais jovens muitas vezes não veem problema nisso. Vivem em uma sociedade e uma cultura de exibicionismo, em que tudo é colocado no Facebook, em que você quer que todo o mundo saiba tudo sobre você. Assim, o governo também saberá tudo sobre você."

Tecnologia neutra?
"Quando os meios para fazer algo estão disponíveis e acessíveis, são tentadores. E as pessoas, principalmente as mais jovens, tendem a usá-los.
A internet é uma tecnologia acessível, há muita pressão para o seu uso, todo mundo quer dizer 'eu fiz isso, eu fiz aquilo'. Há um componente de autoglorificação.
Mas também há toneladas de publicidade. A internet vende a si própria como um meio de comunicação e, até certo nível, isso é verdadeiro: posso conversar com amigos de verdade em diferentes partes do mundo e interagir com eles de uma maneira que seria difícil por correio.
Por outro lado, a internet tem o efeito oposto. É como qualquer tecnologia: é basicamente neutra, você pode usá-la de forma construtiva ou danosa. As formas construtivas existem, mas são poucas."


OEA condena tratamento dado a Morales e exige desculpas de europeus

Da Carta Capital – 10/07/2013


A OEA aprovou na terça-feira 9, em Washington, uma resolução em que condena o incidente com o presidente da Bolívia, Evo Morales, e apela para que Portugal, França, Itália e Espanha apresentem explicações e peçam desculpas.
A resolução foi aprovada por consenso, mas EUA e Canadá expressaram sua oposição explícita em uma nota de pé de página do documento. Os dois países consideram que as circunstâncias do incidente diplomático com Morales ainda não foram esclarecidas e que o assunto deveria ser tratado bilateralmente entre a Bolívia e cada um dos países europeus envolvidos.
No dia 2 de julho, Morales permaneceu 13 horas no aeroporto de Viena porque França, Itália e Portugal não concederam, ao avião do presidente, permissão para atravessar os respectivos territórios, por suspeitarem que transportava o ex-consultor da CIA Edward Snowden, procurado pelos Estados Unidos e acusado de violar a lei de espionagem americana por ter vazado informações secretas sobre esquema de vigilância da Agência Nacional de Segurança (NSA) do país para a imprensa.
O documento final da OEA "condena as ações que violam as normas e princípios básicos do direito internacional, como a inviolabilidade dos chefes de Estado".
Morales acusou ainda a Espanha de ter revogado a autorização inicialmente concedida para o seu avião sobrevoar o território espanhol e de tentar, por meio do embaixador espanhol em Viena, inspecionar o avião presidencial boliviano. O governo espanhol negou que a Espanha tivesse proibido o sobrevoo e afirmou que não tem qualquer problema em pedir desculpas se houve um mal-entendido.
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Portas, afirmou na terça-feira no Parlamento que o seu governo autorizou o sobrevoo em território nacional do presidente da Bolívia.
"Portugal autorizou o sobrevoo do Falcon do presidente Morales no território nacional. Não só autorizou como na verdade o avião do presidente Morales passou no espaço aéreo português, entrou na zona do Alentejo, até o espaço aéreo de Porto Santo", declarou Portas.
O embaixador da Itália na OEA, Sebastiano Fulci, considerou inaceitável a menção a seu país na resolução, após ter solicitado a sua retirada argumentando que seu caso não tem nada a ver com o dos outros países. "A OEA se transformou em tribunal que julgou a Itália como culpada, sem provas, sem escutar o que dissemos. Acho que é muito grave, o vou tratar com meu governo e acho que vai ter alguma reação", disse Fulci.


A desafiadora jornada de pais e filhos

Da Folha – 09/07/2013

Do New York Times - O vínculo entre pais e filhos está repleto de desafios físicos e emocionais a cada passo do caminho. Mas o que acontece com o pai ou a mãe que se aproxima dos últimos dias de criação dos filhos?
Madeline Levine passou a sua carreira como psicóloga e escritora -e como mãe- com a crença de que sua tarefa era preparar seus três filhos para viver de forma independente e entrar com entusiasmo na idade adulta.
Mas, agora que o caçula dos seus três filhos acabou a faculdade e que os dois mais velhos estão fazendo exatamente aquilo que ela sempre quis para eles, sua reação a surpreendeu.
"É estranho que eu tenha sido tomada por uma sensação de perda à medida que meus filhos se encaminham completamente para terem vidas próprias", escreveu ela no "New York Times".
"Alguma parte de mim deveria saber que cada movimento na direção da independência -de fechar o zíper de um casaco a passear no shopping e dirigir um carro- significava não só que meus filhos estavam mais capazes, mas também que eu era menos necessária", prosseguiu Levine. "Encaro essa realidade com bem mais ambivalência do que eu previa."
Para quem está no processo de guiar seus filhos pelo caminho rumo a uma vida significativa, o melhor conselho talvez seja que menos é mais. Essas são as conclusões de vários estudos recentes que indicam que quanto mais os pais estão envolvidos na vida dos seus filhos -quanto mais superprotetores eles são-, menos responsáveis as crianças tendem a ser.
Um estudo publicado em fevereiro na "American Sociological Review" mostrou que, quanto mais dinheiro os pais gastam com a faculdade dos filhos, piores são suas notas.
Outro estudo publicado no mesmo mês na revista "Journal of Child and Family Studies" indicou que, quanto maior for o envolvimento dos pais nas tarefas escolares e na escolha de disciplinas, menor será a satisfação dos alunos universitários.
"Parece que certas formas de ajuda podem diluir a sensação do beneficiado de responsabilidade por seu próprio sucesso", escreveram Eli Finkel e Gráinne Fitzsimmons. "O universitário pode pensar: se mamãe e papai estão sempre por aí para resolver meus problemas, por que passar três noites consecutivas na biblioteca durante os exames finais, em vez de ir passear com meus amigos?"
Às vezes, são as ações dos filhos que causam danos, especialmente quando são crianças pequenas à solta.
Pais habitualmente sofrem concussões, dentes lascados, abrasões da córnea, fraturas nasais, cortes labiais e outras lesões por causa de ações agressivas dos seus filhos pequenos. Mais de uma mãe já teve um lóbulo auricular arrancado por um bebê que agarrou e puxou um brinco.
Quando Sarah Rosengarten foi atingida no rosto por um carrinho de metal atirado por seu filho de dois anos, Carter Roberts, ela foi parar no pronto-socorro, onde os médicos diagnosticaram uma trincadura na mandíbula. "Os filhos podem ser perigosos", disse Rosengarten, 27, ao "Times". Os pais mais ousados estão dispostos a invadir o mais perigoso dos territórios -a vida amorosa dos filhos.
Barbara Weisberg, 64, inspirou o desenvolvimento do TheJMom.com, site judaico de relacionamentos e uma das várias páginas da internet que surgiram para atender aos pais, pois achava que seus próprios filhos estavam desperdiçando oportunidades.
"Eles talvez estivessem procurando a atração superficialmente e não estavam olhando fundo o suficiente para ver tudo o que envolve uma pessoa", disse Weisberg, que está casada há quase 40 anos e mora no Kentucky.
Uma noite, seu filho Brad permitiu que ela analisasse indicações de relacionamentos para ele, e ela fez uma lista de candidatas que considerava promissoras para uma conexão amorosa. Mas Weisberg entende que há limites para até onde um pai pode e deve ir na hora de tentar identificar parceiros para os filhos. "As pessoas precisam se assentar quando estiverem prontas para isso", afirmou.


http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/07/1307968-a-desafiadora-jornada-de-pais-e-filhos.shtml

Opinião: Paixão pela leitura

Da Folha – 11/07/2013

Um fato em educação não admite sofisma: os alunos que, desafiando as dificuldades, escrevem melhor são os que mais leem.
Não se conhece uma pesquisa nacional confiável sobre essa verdade, mas se considerarmos os resultados das maratonas escolares, promovidas por secretarias de Educação, isso pode ser revelado, com uma indisfarçável ponta de otimismo. Quanto mais, melhor. É o começo da paixão pela leitura.
No Rio de Janeiro, a Secretaria municipal de Educação realiza pela quinta vez consecutiva a sua maratona escolar. Depois de Euclides da Cunha, Rachel de Queiroz, Erico Verissimo e Ariano Suassuna, chegou a vez de trabalhar a vida e a obra de Guimarães Rosa.
A secretária Claudia Costin, na Academia Brasileira de Letras (parceira do empreendimento), recordou que, ao dirigir o Círculo de Leitores em São Paulo, trouxe jovens alunos de favelas de São Bernardo do Campo para a capital, para que pudessem melhor se inteirar da obra do autor de "Grande Sertão: Veredas".
Concluiu que os resultados, em termos de motivação para a leitura, foram verdadeiramente excepcionais. Confia na repetição desse êxito, agora em outra capital.
Essa preocupação oficial, em termos culturais, integra o programa Uma Cidade de Leitores, voltado para alunos de oitavo e nono anos do ensino fundamental e da educação de jovens e adultos (EJA).
Os estudantes ouvem palestras de acadêmicos sobre Guimarães Rosa, podendo com eles tirar dúvidas porventura existentes. Depois, farão redações sobre qualquer obra do escritor de Cordisburgo (MG), nascido em 1908 e que viveu uma dramática experiência com a Academia Brasileira de Letras.
Não queria se candidatar. Temia pela emoção que isso poderia representar. Vencido pela insistência de amigos, entre os quais se incluía Pedro Bloch, cedeu e aceitou o pleito. Venceu, mas adiou a posse por quatro anos, fato inédito, até que em 1967 resolveu assumir a sua cadeira. Fez um bonito discurso, muito aplaudido. Morreu quatro dias depois, confirmando a sua premonição.
Os contos e romances de Rosa, como era conhecido, ambientaram-se quase todos no sertão brasileiro, que ele conhecia pessoalmente de diversas visitas, empunhando o seu caderninho de notas. Registrava expressões próprias, que se tornaram o hit das suas obras. Elas ultrapassaram o regionalismo tradicional, para se tornar universais.
Daí a existência de inúmeras traduções para diversos idiomas, tarefa que aparentemente parecia impossível de ser executada. As suas veredas ganharam o mundo.
Guimarães Rosa foi também médico e um diplomata aplicado. Em companhia de sua mulher, Aracy, na Segunda Guerra Mundial, ajudou a salvar a vida de inúmeros judeus perseguidos pelo nazismo. Era cônsul-adjunto em Hamburgo. Teve uma vida e uma obra muito ricas, daí o acerto da lembrança nas bem-sucedidas maratonas escolares.

ARNALDO NISKIER, 77, doutor em educação, é membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do Centro de Integração Empresa-Escola no Rio de Janeiro (CIEE-RJ)


Mais de 100 mil já morreram na Síria, dizem ativistas

Do Estadão – 26/06/2013

Mais de 100 mil pessoas já foram mortas desde o início da guerra na Síria há dois anos, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que acompanha o número de mortos no conflito através de uma rede de ativistas no país.
O grupo disse que a guerra já soma um total de 100.191 mortes ao longo de 27 meses. O chefe do Observatório, Rami Abdul-Rahman, acredita que o número real seja maior, já que nenhum dos lados têm informações completas sobre suas perdas.
Entre os mortos, 36.6661 eram civis; do lado do governo, 25.407 eram membros das Forças Armadas do presidente Bashar Assad, 17.311 eram combatentes pró-governo e 169 eram militantes do Hezbollah, grupo xiita libanês que luta ao lado de tropas do Exército. Entre os oponentes de Assad, 13.539 mortos eram rebeldes, 2.015 desertores do Exército e 2.518 eram combatentes estrangeiros lutando contra o regime.
A Organização das Nações Unidas (ONU) indicou que o número de mortos até o final de abril chegavam a 93 mil. O governo sírio ainda não divulgou o total de mortes.
Abdul-Rahman disse que a contagem de vítimas feita pelo grupo é baseada em informações de fontes médicas militares, registros obtidos por agências estatais e por funerais militares. Outra fonte são vídeos de ativistas mostrando soldados mortos em áreas controladas pelos rebeldes, que são posteriormente identificados. Fonte: Associated Press

http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,mais-de-100-mil-ja-morreram-na-siria-dizem-ativistas,1047275,0.htm

Deficientes encaram estigma do sexo

Da Folha – 16/07/2013

Em suas fantasias sexuais, ela é uma loura forte e impetuosa, que domina seus parceiros. Na vida real, é uma virgem que depende de uma cadeira de rodas elétrica, e seu corpo só é tocado por cuidadores domésticos e profissionais de medicina.

"Uma pessoa incapacitada é vista como uma criança", diz essa mulher, Laetitia Rebord, 31. "E, inevitavelmente, crianças e sexo não combinam."

Uma atrofia muscular espinal genética a deixou paralisada, com exceção do polegar esquerdo e dos músculos faciais.
Rebord, que diz ter sensações físicas agudas, procurou relacionamentos sexuais entre amigos de amigos, sites de namoro e até com garotos de programa. Mas diz que agora está disposta a pagar por sexo na Suíça ou na Alemanha, onde os "parceiros sexuais substitutos" são legais.
O tema dos parceiros substitutos chamou atenção na França em março, depois que a Comissão Nacional de Ética, que assessora o governo sobre questões de saúde, criticou a prática como um "uso antiético do corpo humano para fins comerciais".
Embora a prostituição seja legal na França, abordar possíveis clientes e servir de intermediário entre profissionais do sexo e clientes não o são. Mas algumas pessoas estão pedindo a legalização dos parceiros sexuais substitutos.
"A prostituição é um debate falso. Os objetivos são diferentes", disse Pascale Ribes, que em 2011 fundou o Grupo de Deficiências e Sexualidades, associação que defende os terapeutas sexuais na França.
"O parceiro substituto permite que uma pessoa deficiente física, que não pode acessar a sexualidade de maneira satisfatória, reconecte-se com o corpo", disse Ribes.
Sua associação está fazendo lobby por uma alteração na lei para permitir que pessoas com deficiência física, seus pais, amigos ou diretores de instituições aprovadas arranjem encontros com parceiros substitutos, que geralmente cobram cerca de US$ 130 por sessão.
Na França, a falta de debate sobre o assunto, as leis que regulamentam a prostituição e a recusa a legalizar os parceiros substitutos encorajaram práticas ilegais.
Aminata Gregory, 66, vem oferecendo ilegalmente assistência sexual na França há mais de um ano. Ela foi treinada como terapeuta sexual na Suíça, e seu trabalho envolve principalmente massagens e jogos eróticos, sem beijos na boca ou sexo.
Gregory, que é holandesa, tem cerca de dez clientes incapacitados na França e cobra honorários por meio de sua empresa na Holanda.
Gregory recentemente foi ao sul da França para conhecer um cliente, Daniel Doriguzzi, 49. Ele tem uma rara doença genética chamada ataxia de Friedreich, que o faz perder gradualmente a coordenação motora e a capacidade de falar com fluência.
Com uma prostituta, disse Doriguzzi, "dura um tempo limitado e mais nada". Com Gregory, "nós nos colocamos em uma bolha e nos tornamos um casal normal. Conversamos, fazemos o que quisermos. Perguntamos um ao outro o que queremos. No final da sessão, estouramos a bolha".
Os parceiros substitutos são legais na maioria dos países que permitem a prostituição, como Suíça, Alemanha e Dinamarca.
Em 2008, Catherine Agthe Diserens, uma educadora suíço-alemã, iniciou um programa de treinamento de parceiros sexuais substitutos durante seis meses, com ex-prostitutas, enfermeiras e fisioterapeutas.
As aulas tratavam de deficiências físicas, internamentos em instituições, colaborações com profissionais do sexo e cursos práticos explorando o que Diserens chama de "técnicas corporais".
Para muitas feministas francesas, que associam o sexo indesejado à violência, a ajuda sexual é humilhante para as duas pessoas envolvidas.
"É como dizer às pessoas incapacitadas que, como elas nunca terão uma vida sexual ou amorosa, vamos prescrever a ajuda sexual como paliativo", disse Anne-Cécile Mailfert, membro da Osez le Féminisme (Ousem ser feministas).
Ela também teme que ocorra dependência emocional nos terapeutas sexuais.
Mas a questão principal, disse Mailfert, tem menos a ver com a sexualidade do que com ensinar os profissionais de saúde a compreender as necessidades sexuais de pessoas deficientes e ajudá-las a encontrar outras pessoas.
Marcel Nuss, que tem dois filhos e respira com respirador artificial, é o autor de "I Want to Make Love" [Eu quero fazer amor].
O livro descreve sua realização pessoal por meio do amor com sua ex-mulher e uma vida sexual com acompanhantes.
"Alguém como eu não pode fazer nada sozinho", disse Nuss. "O sexo ajuda os deficientes a renascer e a recuperar seu aspecto humano."