Do Exame.com – 16/07/2013
O novo governo egípcio, sem a
presença de partidos islâmicos, assumiu suas funções na terça-feira, dia 16, no
Cairo, menos de duas semanas após o golpe militar que derrubou o presidente
Mohamed Mursi, em meio à violência.
A nova equipe, com mais de trinta
membros, foi imediatamente rejeitada pela Irmandade Muçulmana, movimento ao
qual pertence Mursi.
"Não reconhecemos nem a
legitimidade, nem a autoridade deste governo", reagiu o porta-voz da Irmandade,
Gehad El-Haddad.
O novo primeiro-ministro, Hazem
Beblawi, havia mencionado a possibilidade de incluir islamitas em sua equipe.
O chefe do Exército, general
Abdel Fattah al-Sissi, que comandou a deposição de Mursi, manteve sua pasta da
Defesa e recebeu também o posto vice-primeiro-ministro.
A pasta das Relações Exteriores
será confiada a um ex-embaixador em Washington, Nabil Fahmy, e a das Finanças
ficará com Ahmed Galal, um economista que trabalhou para o Banco Mundial.
Beblawi, um economista de 76
anos, foi encarregado de formar o novo gabinete pelo presidente interino
nomeado pelo Exército, Adly Mansour.
O prêmio Nobel da Paz e um dos
principais líderes da oposição, Mohamed ElBaradei, já havia tomado posse no
domingo, dia 14, como vice-presidente encarregado das relações internacionais.
Ao menos três ministérios ficarão
a cargo de mulheres, e outros três serão ocupados por membros da comunidade
copta, a corrente cristã do Egito, hostil ao ex-presidente islamita.
"É um governo que
reúne" todas as formações contrárias a Mursi, e "acredito que haverá
uma tentativa de atrair os salafistas" para estender o governo para além
das formações laicas, declarou à AFP Hassan Nafaa, professor de Ciência
Política na Universidade do Cairo.
Exibida pela televisão estatal, a
posse do novo gabinete na presença do presidente interino representa mais uma
etapa na transição política no país.
A transição também prevê a adoção
de uma nova Constituição e a realização de eleições legislativas até o início de
2014, antes das eleições presidenciais.
No dia 16, terça, as autoridades
interinas fizeram um apelo a todas as forças políticas para que trabalhem pela
"reconciliação nacional".
Contudo, a justiça egípcia abriu
procedimentos judiciais contra vários líderes da Irmandande Muçulmana, entre
eles o Guia Supremo, Mohamed Badie.
No total, mais de 100 pessoas
morreram no Egito desde 3 de julho, dia em que o Exército derrubou o presidente
islamita Mohamed Mursi, após uma série de manifestações que exigiam sua
renúncia.
Na segunda-feira, dia 15, à noite,
milhares de partidários de Mursi saíram às ruas e confrontos foram registrados
em vários locais entre as forças de segurança e alguns grupos de manifestantes.
Os confrontos, que ocorreram
durante a primeira visita de uma autoridade americana - o secretário de Estado
adjunto Bill Burns - desde o golpe militar que derrubou Mursi, deixaram sete
mortos e mais de 260 feridos, segundo uma fonte médica.
Pelo menos 401 pessoas foram
detidas após os confrontos, os primeiros registrados na capital desde os que
deixaram 53 mortos no dia 8 de julho em frente à sede da Guarda Republicana.
Os partidários de Mursi, que
denunciam um "golpe de Estado militar" contra o primeiro presidente
democraticamente eleito no país, afirmaram que vão manter a mobilização até seu
retorno ao poder.
Os anti-Mursi, que acusam o
presidente deposto de ter governado em favor de sua Irmandade e de não saber
enfrentar a crise econômica, também continuam mobilizados na Praça Tahrir e em
frente ao palácio presidencial.
Na mesma segunda, Bill Burns pediu
que a situação no Egito seja apaziguada, considerando que as prioridades devem
ser o diálogo e o fim da violência.
A chefe da diplomacia da União
Europeia, Catherine Ashton, anunciou que irá na quarta-feira ao Egito para
pedir um "retorno à transição democrática, o mais rápido possível".
Ela afirmou que se reunirá com o
presidente interino Adly Mansour e com membros do novo governo, e que terá
encontros também "com outras forças políticas e representantes da sociedade
civil."
No início da tarde do dia 16, terça-feira,
as novas autoridades egípcias expressaram forte ressentimento pelas declarações
de apoio do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, ao ex-presidente
Mursi, vítima de um "golpe de Estado", segundo esse chefe de governo.
Erdogan afirmou recentemente que
Mohamed Mursi, de quem é amigo, continua a ser o único chefe de Estado egípcio
legítimo.
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