domingo, 25 de maio de 2014

TEMA DE REDAÇÃO: VIOLÊNCIA URBANA E REAÇÃO POPULAR

Considerando a coletânea e os conhecimentos de que você dispuser, escreva um texto dissertativo-argumentativo em prosa sobre o tema: Violência urbana e reação popular

Texto 1. A maioria das pessoas já está cansada de saber que são os delinqüentes juvenis os maiores causadores de roubos e pequenos furtos no nosso país, sendo eles presos e logo soltos para voltar para o crime. Como resultado desse sistema, pessoas passam a ter medo de andar na rua. Muitas são as pessoas que sofrem doenças psicológicas em função do pânico que já passaram na mão desses facínoras, sendo obrigadas a gastar fortunas em tratamentos médicos e psiquiátricos. Muitas são as lojas assaltadas por esses menores que se vêem obrigadas a terem que contratarem seguranças e repassar esse investimento para seus consumidores. Logo, toda a nossa sociedade paga caro com a tolerância a esses delinqüentes. [...] Não é justo que uma pessoa que estupre, mate e roube, como foi o caso do criminoso Champinha, tenha uma pena tão pequena em troca de todo o mal e sofrimento que causou a família de suas vítimas, Liana Friedenbach e Felipe Caffé. Todos os dias, dezenas de menores infratores como Champinha cometem crimes bárbaros que acabam no esquecimento. Não é justo que bandidos perigosos voltem pouco tempo depois de seus crimes as ruas para cometer maldade contra outras pessoas. Liana e Champinha tinham ambos 16 anos. Para nossa lei, Champinha era muito novo para ser responsabilizado por seus atos; mas, Liana, mesmo sendo também menor de idade, não foi privada de ser responsabilizada pelos atos de Champinha. Por mais leve que seja a pena, menos pena esses jovens bandidos terão de nós. [...] A verdadeira desigualdade social é ver que muitos jovens pobres, que optaram por uma vida digna, acabando sendo as vítimas daqueles que não souberam – ou quiseram – pagar o mesmo preço que eles. Se a desigualdade gerasse crime, todos os jovens pobres seriam criminosos e sabemos que isso não procede. É preciso entender que esse menor pode causar muito mais prejuízo para a sociedade do lado de fora do que do lado de dentro da cadeia. Nossas leis são por si só criminosas e só favorece a quem decide optar pela criminalidade. De modo que a redução da maioridade penal é apenas o primeiro passo para que possamos criar um país menos acostumado com a imoralidade dos crimes.  (10 motivos a favor da redução da maioridade penal . Fonte: Blog “Xonei” – disponível em: http://www.xonei.com/10-motivos-a-favor-da-diminuicao-da-maioridade-penal/)

Figura 1.

Texto 2. No senso comum do brasileiro, o aumento da violência aparece como um fenômeno intimamente relacionado com a corrupção, envolvendo promíscuas relações entre o crime organizado com alguns policiais e políticos. Os meios de comunicação de massa têm tido um papel importante na formação desse imaginário.
A relação de corrupção com o crime organizado tem sido vista pela população como o principal fator responsável pela violência no país, mais do que qualquer outro, incluindo os de ordem socioeconômica que, sabemos, contribui para o problema. Esta visão torna-se bastante ameaçadora, ainda mais se considerarmos que ela põe em xeque a credibilidade dos poderes e das instituições públicas responsáveis por garantir o bom funcionamento do estado de direito. Convém mencionar, ainda, que, em alguns casos, o crime organizado passou a ser comandado pelas milícias, nova modalidade de atuação do crime, agora não mais comandado por marginais das próprias comunidades periféricas, mas, sim, por agentes que deveriam zelar pela segurança pública, sendo muitas vezes aliados a políticos para conseguirem impor o controle em várias comunidades. (Violência no senso comum brasileiro. Bruno Meschesi Silva – Brasil de Fato. 26/11/2010).
(Disponível:file:///C:/Users/Marcia/Downloads/A%20viol%C3%AAncia%20no%20senso%20comum%20do%20brasileiro%20_%20Brasil%20de%20Fato.pdf).

Figura 2.














Texto 3.  A mídia, composta por rádio, jornal, televisão e internet, não apenas relata a falência estatal e o aumento da criminalidade, mas tende a reduzir o significado desta a um significado totalizador, como, por exemplo, moradores da periferia.
Esses personagens carregam sobre seus corpos o estigma de que são o mal da sociedade, de que colocam em perigo uma das mais importantes promessas da modernidade, a segurança.
Assim, mediante um discurso punitivista e criminalizador, a mídia constrói “verdades” e demonstra a necessidade de maior repressão – sobretudo contra os setores socialmente desfavorecidos – como solução para o problema da criminalidade.
Em virtude de sua aparente credibilidade perante grande parte da população, a mídia passa a servir como uma espécie de guia da opinião pública e faz da “guerra contra os pobres” o caminho mais adequado para o “combate à violência”. Com a sacralização da segurança – direito elevado à condição de verdadeira obsessão nas sociedades ocidentais contemporâneas – e a disseminação de um sentimento de insegurança permanente, surgem oportunidades para a adoção de práticas punitivas extremamente arbitrárias e inconstitucionais, legitimadas por um discurso que justifica a profanação do mais fundamental de todos os direitos, a vida.
Formulados a partir de alguns mitos assimilados pela sociedade brasileira, tais discursos pugnam pelo controle e segregação dos grupos subalternos, “bodes expiatórios” de uma sociedade de consumo que descarta aqueles que não possuem o status de consumidor, equivalente à condição de cidadão. Além de fortalecer a seletividade do sistema penal, o discurso midiático dominante tem atuado como um instrumento de consolidação da subcidadania. Não obstante a minoria da população brasileira desfrute os prazeres da pós-modernidade e exerça plenamente grande parte de seus direitos, a maioria dos brasileiros continua vivendo os dissabores da pré modernidade, destituídos de seus direitos e garantias mais básicos. (Direitos fundamentais para quem? O discurso midiático e a criminalização da pobreza no Brasil contemporâneo. Boldt, Rafael; Krholing, Aloísio).
Disponível em: http://www.fdv.br/publicacoes/periodicos/revistadepoimentos/n12/3.pdf

Texto 4. “O marginalzinho amarrado ao poste era tão inocente que, ao invés de prestar queixa contra seus agressores, preferiu fugir antes que ele mesmo acabasse preso. É que a ficha do sujeito está mais suja do que pau de galinheiro.
No país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, que arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível. O Estado é omisso, a polícia é desmoralizada, a Justiça é falha. O que resta ao cidadão de bem que, ainda por cima, foi desarmado? Se defender, é claro. O contra-ataque aos bandidos é o que chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite. E, aos defensores dos Direitos Humanos, que se apiedaram do marginalzinho preso ao poste, eu lanço uma campanha: faça um favor ao Brasil, adote um bandido”. (Fala de Rachel Sheherazade, âncora do Jornal do SBT, ao comentar a ação de “justiceiros” que amarram um garoto de 16 anos em um poste na cidade do Rio de Janeiro).


   
Adolescente de 16 anos amarrado
em um poste no Rio de Janeiro                                       Negrinho do Pastoreio – Fábula do folclore brasileiro


Texto 5. A esta altura, todos conhecem a história do rapaz negro amarrado nu em um poste e espancado por populares no Rio de Janeiro por pretensamente ser um assaltante e ter supostamente roubado uma bicicleta. Todos devem conhecer também o teor dos comentários de certos apresentadores do noticiário televisivo que resolveram surfar na onda da mais nova modalidade de "indignação popular contra a insegurança e a ausência de mão forte do poder público".
Mas, ainda mais surpreendente do que os dois acontecimentos, é o teor da reação monitorada na internet, em sua ampla maioria favorável ao velho "justiça feita com as próprias mãos" ou ao "chegou o momento da revolta do homem comum".
Quem já estudou a ascensão do regime nazista sabe como esse era o tema central de sua retórica política: "os homens comuns e cidadãos de bem estão cansados da insegurança. Está na hora de atitudes enérgicas".
E então apareciam dois tipos de personagens: os que saiam vociferando sua raiva canina e os que diziam que não concordavam exatamente com tais métodos, mas que deveríamos dar uma reposta sem angelismos ao problema. São aqueles que dizem, atualmente, que a sociedade brasileira sofre com tanta violência e merece parar de ser importunada com essa conversa de direitos humanos de bandido. Ou seja, o velho truque do policial mau e do policial bom.
As pessoas que amarraram o jovem negro no Rio de Janeiro não apareceram do nada. Seus pais já apoiavam, com lágrimas de felicidade nos olhos, os assassinatos perpetrados pelo esquadrão da morte. Seus avós louvaram as virtudes do golpe militar de 1964, que colocaria de vez a ordem no lugar da baderna. Seus bisavós gostavam de ver a polícia da República Velha atirando contra grevistas com aquele horrível sotaque italiano. Seus tataravós costumavam ver cenas de negros amarrados a postes com um certo prazer incontido. Afinal, já se dizia à época, alguém tinha que pôr ordem em um país tão violento.
Sim, tais pessoas sempre estiveram no mesmo lugar. Só mudaram as gerações. Não há como compreendê-las nem nunca haverá acordo possível com elas. Que acordo haveria com alguém que nem sequer é capaz de estranhar seus próprios gestos no momento em que espanca, arranca a roupa e amarra alguém em um poste? Ou com alguém que não teme em justificar ação tão nobre e edificante?
Contra pessoas desse tipo, não se procura um acordo nem se deve esperar que elas mudem. Luta-se contra elas, sem trégua, até que tenham medo de mostrar sua barbárie na rua e a escondam dentro de suas próprias casas. (A Barbárie de sempre – Vladimir Safatle. Folha de São Paulo. 11/02/2014).

Disponível: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2014/02/1410292-a-barbarie-de-sempre.shtml


FIGURA 3


Rachel Sheherazade Conta verificada

@RachelSherazade

Jornalista - Âncora do SBT BRASIL (De segunda à sexta às 19h45 no SBT)
gente boa, obrigada pelo apoio. essas pesquisas só revelam o carinho e a empatia q vcs me demonstram todos os dias pela internet. obg :)

MERCANTILIZAÇÃO DA ÁGUA

Leia a coletânea a seguir e identifique os argumentos que melhor defendam sua tese sobre o tema. 

SEDE (COBIÇA) DO MERCADO: A MERCANTILIZAÇÃO DA ÁGUA




http://www.diplomatique.org.br/edicao_mes.php


A questão da água na América Latina.

Estamos em meio a uma profunda crise civilizatória. O modelo civilizatório ocidental, alicerçado na exploração de seres humanos por outros seres humanos e na intensa exploração da natureza por uma restrita elite mundial, já não tem mais sustentação. Dos seis mil milhões de pessoas que habitam a face do planeta, apenas 1,7 mil milhões pertence ao modo consumista e predador da civilização contemporânea. Para sustentar os caprichos dessa elite mundial são necessárias 1,5 Terras para alguns, ou até seis Terras para outros. Essa elite não está apenas no primeiro mundo, mas também tem seus nichos no segundo, terceiro e quarto mundo. Estender esse modelo de produção e consumo a todos os seres humanos é impossível, pelos próprios limites desses bens em nosso planeta. Para sustentar esse modelo o maior tempo possível para uma elite restrita, é preciso restringir o acesso dos demais a esses bens. O melhor mecanismo para selecionar os incluídos do modelo é aplicar as regras do mercado a todas as dimensões da existência. Quem puder comprar, entra. Quem não puder está posto de fora(Roberto Malvezzi. Disponível em: http://resistir.info/agua/questao_agua.html#asterisco).

De fato, o que se expõe acima é um dado incontestável, e a história da civilização ocidental recai morbidamente sobre os indivíduos com peso e ônus. O peso e o ônus dessa história, a partir do excerto (acima), podem ser observados pela lente que forma os dizeres: “A história de toda a sociedade até aos nossos dias nada mais é do que a história da luta de classes”. É quase um provérbio, se não fosse um ponto de partida analítico. Mas o que nos separa enquanto humanos ao tratar de um bem que nos origina universalmente? Existe um costume brasileiro oportuno para a questão. Aqui, não raras vezes, ouve-se que negar água a quem quer que seja é um pecado, não só isso, essa negação acarreta em má sorte, é distinção de soberba, arrogância e imprevidência, pois, não se sabe quando, no futuro, necessitaremos de alguém. Tal empenho sobre o futuro, marcado pela necessidade, revela-nos cordiais em detrimento de um tipo de indivíduo que almeja o ideal de mercado: o indivíduo livre, desejoso, distinto e universal (todos são iguais ao comprarem o mesmo produto no mercado).  Então existe uma diferenciação no agir, e outra questão se revela. "Qual condição é mais miserável do que viver assim, sem nada ter de seu, recebendo de outrem satisfação, liberdade, corpo e vida?" (Étienne de La Boétie, 1548); ou qual será nossa previdência de futuro e liberdade, em se tratando de um bem essencial como é a água? Será compartilhar, ou viver sob a lógica da privação? Pensemos no radical da questão: o que leva milhões a se submeterem a poucos? Que lógica é essa? Uma farsa? Ou da farsa nos fazemos?

       
Texto1. A falência de um modelo de gestão.  (Le Monde diplomatique – Brasil).

Como é que chegamos ao ponto de faltar água, um bem público essencial, nas torneiras de muitas de nossas casas? O racionamento já está em vigor em regiões como a de Campinas, no interior, e na Grande São Paulo, mesmo que o governo do estado se recuse a reconhecer oficialmente essa política. No Rio de Janeiro, bairros como Brás de Pina e Cordovil, na zona norte, e Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste, sofrem há meses com a falta de água. E não há perspectivas de curto prazo para a solução desse problema. Especialistas na área alertam que o rodízio no fornecimento de água pode se tornar regular, como é hoje o rodízio da circulação dos automóveis.
Com mais essa crise instalada num ano eleitoral, procuram-se os responsáveis. E a conta cai no colo de São Pedro, que não nos mandou um volume suficiente de chuvas. Na verdade, São Paulo precisa de mais um sistema de fornecimento de água do tamanho do Sistema Cantareira, que abastece 9 milhões de pessoas. No Rio de Janeiro é a mesma coisa: a água disponível não dá para todos. Além do fornecimento de água, precisamos de políticas efetivas de preservação dos recursos hídricos e de melhor aproveitamento da água disponível.
A necessidade existe, mas os investimentos não são feitos. Em 2013, dos R$ 759,4 milhões previstos para serem investidos em saneamento pelo governo do estado do Rio de Janeiro, 16,8% (R$ 127,6 milhões) foram efetivamente gastos. O mesmo acontece em São Paulo, onde a Sabesp deixou de investir R$ 815 milhões, entre 2007 e 2011, nas redes de água e esgoto previstos nos contratos firmados com prefeituras paulistas. “A Arsesp [Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo] considera que a subexecução desses investimentos contratuais criou um benefício extraordinário, que foi apropriado pela Sabesp e, portanto, deverá ser devolvido aos usuários no ciclo tarifário seguinte (2013-2016)”.1
Depois da crise dos transportes públicos, em junho passado, que levou milhões de brasileiros às ruas em quatrocentas cidades do Brasil, temos agora a crise do fornecimento de água, e já se anunciam os apagões e a falta de luz pela sobrecarga do sistema existente e a falta de investimentos em sua melhoria. Sem falar da deterioração da telefonia, especialmente a móvel, cuja expansão não garantiu a qualidade dos serviços.
Tais crises na prestação de serviços públicos essenciais têm uma explicação mais prosaica, mundana, que não mobiliza as forças divinas.
O modelo de gestão pública, adotado principalmente a partir dos anos 1990 e que lançou e lança mão de privatizações, concessões e terceirizações, orienta-se para viabilizar o maior lucro possível para essas operadoras, mesmo sacrificando o interesse público e as necessidades básicas dos cidadãos. Nesse modelo, o Estado é capturado pelos interesses dos poderes econômicos e atua em favor deles. A simbiose entre governos e empresas se aprofunda com o financiamento por empresas privadas das campanhas eleitorais.
A situação não permite remendos no modelo atual. Impõe-se uma discussão de fundo para garantir direitos e assegurar para todos o fornecimento de serviços públicos essenciais de qualidade. A premissa é que esses serviços são bens públicos comuns, são de todos, e não propriedade de ninguém. Não podem, portanto, ser vendidos por empresas privadas, cujo objetivo maior é o lucro.
Transportes coletivos, água, luz, gás, saúde e educação devem se converter em bens públicos comuns, geridos diretamente pelo Estado e fornecidos gratuitamente para toda a população, o que significa que não é o usuário que paga diretamente a conta, e sim os impostos arrecadados de todos.
Evidentemente, um Estado em simbiose com as empresas não é capaz de fazer isso. É um Estado corrupto, que favorece interesses privados. Garantir os direitos das maiorias e a prestação de serviços públicos essenciais de qualidade requer a reapropriação da máquina pública pela cidadania, isto é, uma profunda democratização do modelo de gestão, em que a participação cidadã, pela via de plebiscitos e referendos e pela presença em canais institucionais de participação, possa definir os investimentos, ou seja, quem paga a conta, e exercer o controle social das políticas públicas. (Silvio Caccia Bava. Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil)

1  Relatório técnico da Arsesp de abril de 2014, que autoriza o aumento das tarifas de água em 5,4% a partir de maio. A Sabesp, em função da crise, declara que o reajuste será praticado em data oportuna.


Texto 2. A água como mercadoria

O capitalismo mercantiliza os bens da natureza, os frutos do trabalho humano, todos os aspectos de nossa vida. Aprendemos na escola: 71% de nosso corpo são água, a mesma proporção existente em nosso planeta. 
Bebemos litros de água no decorrer do dia. Do velho e bom filtro? Não. Em geral, de garrafas pet vendidas em supermercados. Quem garante que a água engarrafada é mais potável que a filtrada em casa? A propaganda; ela faz nossa cabeça e direciona nossos hábitos.
 De olho no faturamento, empresas transnacionais procuram incutir na opinião pública a ideia da água como mercadoria de grande valor econômico, capaz de tornar-se uma fonte de renda para um país como o Brasil. Retira-se da água sua dimensão de direito humano, seu caráter vital, sua dimensão sagrada. Quem se opõe a esta ideologia é rotulado como “contrário ao progresso”. Porém, é na defesa da água como direito e bem comum que reside a possibilidade de salvarmos o planeta Terra – “Planeta-Água” – da desolação, e assegurarmos a vida das gerações futuras.
 O raciocínio da mercantilização da água é simples: tendo que pagar, a sua utilização será mais racional e cuidadosa. Ora, isso não implica incluir a água na categoria de mercadoria regida pelas leis do mercado.
Este argumento tem sua parte de verdade – cuida-se melhor daquilo que é mais caro. As consequências, porém, podem ser graves se a água for regida pela lei da oferta e da procura. A cobrança pelo uso da água pode ser um mecanismo de gerenciamento desde que se estabeleçam preços diferenciados conforme a concessão de uso. Uma fábrica de cerveja retira do poço artesiano toda água que necessita, sem pagar nada por ela. Depois descarrega parte dessa água, agora poluída por detergentes e dejetos, no rio mais próximo. O lucro com a venda da cerveja é todo dela; a perda no lençol subterrâneo e a poluição do rio são da comunidade local.
 Uma boa gestão cobraria preço baixo pela água usada como insumo e alto sobre o esgoto industrial, de modo a obrigar a indústria a filtrar dejetos antes de lançá-los de volta ao rio. Também é preciso estabelecer preços diferenciados conforme o uso da água (consumo humano, esgoto, energia elétrica, produção industrial, agricultura irrigada, lazer etc).
 Nas zonas urbanas já pagamos pelos serviços de captação, tratamento e distribuição da água, não pela água em si. A novidade é que, além dos serviços, deveremos pagar também pelo metro cúbico de água utilizada. Se este preço adicional vier a excluir alguém do acesso à água, tal medida será eticamente inaceitável.
O princípio que obriga a quem usa, pagar, não pode ser aceito ao contrário: “quem não paga, não usa.” Não sendo a água uma mercadoria, mas bem de domínio público, o princípio só se aplica como norma reguladora de uso, seja quantitativa (quem usa mais água, paga mais), seja qualitativamente (quem usa para fins lucrativos paga mais do que quem usa para consumo pessoal). Se assim não for, a água deixará de ser direito de todos os seres vivos, criando-se um impasse ético e uma tragédia: a dos excluídos da água. (Frei Betto. Correio da Cidadania, 2010. Disponível em:
 http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4891&Itemid=79
Texto 3.
A Força que nunca seca.
Já se pode ver ao longe
A senhora com a lata na cabeça
Equilibrando a lata vesga
Mas do que o corpo dita

Que faz o equilíbrio certo
A lata não mostra
O corpo que entorta
Pra lata ficar reta.

Pra cada braço uma força
De força não geme uma nota
A lata só cerca, não leva
A água na estrada morta
E a força nunca seca
Pra água que é tão pouca

Pra cada braço uma força
De força não geme uma nota
A lata só cerca, não leva
A água na estrada morta
E a força nunca seca
Pra água que é tão pouca
(Chico César/Vanessa da Mata).