sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Conflito na Síria: a primavera que não consegue se estabelecer

Do Brasil Escola

A Síria está atravessando um período bastante turbulento com o crescimento das revoltas contra o governo de Bashar al-Assad. Mesmo com as sanções impostas pela ONU, o presidente sírio não abre mão do poder e a escalada de violência aumenta a cada dia.

Desde o início dos protestos sociais em março de 2011, a Síria atravessa um momento de grave tensão social. A maioria da população corresponde aos sunitas, divisão do islamismo que abrange cerca de 90% dos islâmicos do mundo. O presidente sírio Bashar al-Assad pertence à seita islâmica alauita, uma vertente dos xiitas. Os alauitas podem ser considerados como a elite econômica e política da Síria, possuindo também uma posição privilegiada nas forças armadas. O governo sírio é apoiado pelo Irã, país de maioria xiita e que é declaradamente opositor à dominação geopolítica do ocidente na região. Recebe também grande influência do grupo xiita Hezbolah, milícia islâmica que luta pela criação de um Estado palestino e que recentemente assumiu o poder no vizinho Líbano.
Bashar al-Assad chegou à presidência no ano de 2000 após o falecimento de seu pai, Hafez al-Assad, prometendo uma série de reformas que nunca foram realizadas. O partido Ba’ath governa a Síria desde 1963 e pouco tempo depois que chegou ao poder impôs censura à imprensa e decretou um Estado de Emergência, que é quando o governo pode tomar medidas que contrariam os direitos civis em nome dos ideais do Estado, efetuando prisões, impondo toques de recolher, entre outras medidas.
Atualmente o país é governado por uma espécie de cartel formado por governistas e empresários. Algumas reformas políticas foram realizadas nos últimos anos, mas não foram suficientes para impedir as manifestações da população civil que começaram na cidade de Deraa, ao sul, e que se espalharam por todo o país. A violência aumentou muito, e os dados da ONU indicam ao menos 10.000 mortes em 1 ano de conflito.
Ao final do mês de abril de 2011, o governo encerrou o Estado de Emergência que vigorou no país por 38 anos, afirmando que as manifestações políticas pacíficas seriam permitidas no país. Após a projeção internacional da crise, o líder sírio tentou convencer a ONU que as ações contra os manifestantes não eram intensas, diferente das informações que os rebeldes e os opositores em exílio expuseram para a comunidade internacional. ONU e Liga Árabe procuraram saídas diplomáticas e negociaram um cessar-fogo que aparentemente não foi praticado. Os bombardeios contra os focos de resistência rebelde ainda são constantes.
As deserções de soldados sírios começaram a ajudar os opositores, que pretendem criar um conselho transitório de governo. Os principais alvos dos rebeldes são os símbolos do poder do governo, como delegacias e tribunais. As cidades de Aleppo (a mais populosa e importante) e a capital Damasco concentram a maior parte dos confrontos. O número de refugiados já ultrapassa a marca de 250 000 indivíduos, a sua maioria em direção à Jordânia.
Os Estados Unidos parecem não querer interferir diretamente na questão Síria por entenderem o momento inoportuno para encarar o Irã, que pode se sentir ameaçado ao ver o ocidente interferindo nas políticas internas do seu aliado. Além disso, a característica apresentada pelo governo norte-americano de Barack Obama é evitar “novos Iraques”, isto é, guerras dispendiosas do ponto de vista financeiro e humano. Há uma disposição por parte da ONU de tomar medidas mais drásticas contra Bashar al-Assad, que são veementemente refutadas por China e Rússia, países que possuem em seus territórios conflitos separatistas e etnias que buscam autonomia. Várias sanções políticas e econômicas já foram impostas, como o congelamento dos bens do Estado sírio e a suspensão da comercialização do petróleo, principal produto exportado pelo país. A saída de al-Assad é algo inevitável, mas pode ceifar milhares de vidas até a sua consumação.
 Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP


Opinião: Existe esperança para os sírios?

Da Carta Capital – 22/08/2013

As horrendas imagens das vítimas de um aparente ataque com armas químicas em Ghouta, subúrbio de Damasco, correm o sério risco de entrar para a história apenas como mais uma das atrocidades cometidas na guerra civil da Síria. A ofensiva pode ser a mais grave do tipo desde 1986 (quando Saddam Hussein matou ao menos 3,2 mil curdos), o que configuraria uma derrota moral da comunidade internacional, mas ainda assim pode ficar impune. A dificuldade de comprovar a autoria do ataque é imensa e, caso isso ocorra, não parece haver disposição e possibilidades factíveis para punir os responsáveis.
Diversos especialistas ouvidos pela mídia internacional apontam que as fotos e, principalmente, os vídeos postados na internet indicam o uso de armas químicas em Ghouta. As imagens parecem trazer ao presente alguns dos piores relatos da Primeira Guerra Mundial. As vítimas têm dificuldade de respirar, algumas apresentam convulsões, tremedeiras e espumam pela boca. Os corpos de mulheres e crianças estão nas pilhas de mortos.
A oposição síria atribui os ataques a Bashar al-Assad. É uma acusação verossímil. Em abril, França, Israel e Reino Unido afirmaram que “muito provavelmente” o regime realizou ataques químicos em pequena escala. Para um especialista, a estratégia de Assad era inserir aos poucos esse tipo de armamento no conflito (como fez com tanques, helicópteros, caças e mísseis) para testar a reação da comunidade internacional. Não se sabe por qual razão Assad usaria esses armamentos num momento em que os ventos da guerra sopram a seu favor.
O governo sírio negou de forma veemente o uso de agentes químicos e a Rússia, sua principal aliada, atribuiu os ataques aos rebeldes. Não é impossível. O Jabhat al-Nusra, braço da Al-Qaeda que atua nas fileiras rebeldes de forma proeminente, pode ter algum tipo de arma química. O uso na escala em que os vídeos de Ghouta mostram, entretanto, seria uma grande surpresa em termos da capacidade da oposição. A motivação seria provocar a comunidade internacional a intervir.

ONU continua paralisada
Se comprovado o uso de armas pelos rebeldes, muito provavelmente o apoio ocidental a eles ficaria insustentável. A pressão de organizações humanitárias, da mídia e de outros setores da sociedade civil faria minguar a pouca ajuda que Estados Unidos, França e Reino Unido enviam aos opositores de Assad. Para esses países seria, também, uma forma de lavar as mãos e abandonar um conflito visto por muitos como insolúvel.
Se for comprovado que Assad foi o responsável pelo ataque, a comunidade internacional seria instada agir. Das Nações Unidas não virá o sinal verde para a intervenção. A entidade é a melhor organização que os seres humanos foram capazes de criar para não nos matarmos até o fim dos tempos, mas ela é inoperante neste caso. Ao que consta, a Rússia bloqueou, em reunião do Conselho de Segurança na noite de quarta-feira 21, uma resolução que condenava o ataque. Após o encontro, o vice-secretário-geral da ONU, Jan Eliasson, disse que a entidade "vê necessidade" de investigar o ataque na Síria e "espera" que o governo sírio autorize a investigação.
A constrangedora declaração revela o que o mundo já sabe. Ninguém pode forçar Assad, o principal suspeito do ataque, a autorizar a investigação. Nesta semana, chegou à Síria um pequeno grupo de inspetores da ONU para avaliar denúncias de uso de armas químicas em março. A ONU tenta obter autorização do regime para enviar os inspetores para Ghouta, mas é improvável que Assad a conceda. Como a forma ideal de comprovar o uso de armamentos com toxinas seria examinar as vítimas logo após o ataque, talvez o caso prossiga duvidoso por muito tempo.
A alternativa à ONU é uma ação unilateral das potências ocidentais, como a que houve na Líbia. O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, afirmou que o Ocidente deveria reagir “com força”, mas afastou qualquer possibilidade de enviar tropas à Síria. A porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos rechaçou perguntas sobre a “linha vermelha” estabelecida por Barack Obama em agosto de 2012, quando o presidente dos Estados Unidos disse que o uso de armas químicas “mudaria seus cálculos”. “Não estou falando sobre linhas vermelhas. Não estou tendo um debate ou conversa sobre linhas vermelhas e não estou estabelecendo linhas vermelhas”, afirmou Jen Psaki. William Hague, o ministro do Exterior do Reino Unido, manifestou indignação com o ataque e afirmou que espera ver, “um dia”, a punição dos culpados.
A guerra civil síria está em seu terceiro ano. Deixou mais de 100 mil mortos, 1,8 milhão de refugiados e provoca instabilidade política no Líbano e no Iraque. A ONU está paralisada e as potências ocidentais, que poderiam mudar a história numa mistura de interesses humanitários e imperialistas, temem entrar no conflito e torná-lo ainda pior, com o envolvimento do Irã e de Israel. Neste contexto, resta à comunidade internacional observar, estarrecida, mais um fracasso da humanidade. Diante do dilema, os governos de EUA, França e Reino Unido optam por dar declarações genéricas. Preferem pedir justiça em longo prazo. Só que em longo prazo, como lembrou John Maynard Keynes, estaremos todos mortos.
por José Antonio Lima


França defende força na Síria caso ataque químico seja comprovado

Da Folha – 22/08/2013

França defendeu na quinta-feira, dia 22 de agosto, o uso de uma força internacional para resolver o conflito na Síria caso sejam comprovadas as denúncias de rebeldes de que o regime de Bashar al-Assad realizou um ataque com armas químicas na madrugada de quarta-feira, dia 21.
Segundo a oposição síria, tropas aliadas ao ditador bombardearam quatro cidades da periferia de Damasco com um gás que afeta o sistema nervoso, deixando centenas de mortos. O regime sírio nega a acusação e voltou a dizer que nunca usou armas químicas contra os rebeldes nos dois anos de conflito.
A denúncia causou forte reação da comunidade internacional, em especial de Paris, Londres e Washington, que apoiam a oposição síria. O Conselho de Segurança da ONU pediu "clareza" sobre o ataque.
Uma equipe de monitores que está na Síria ainda não recebeu autorização do regime sírio para chegar ao local. O uso de armas químicas foi a condição imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para realizar uma intervenção militar.
Em entrevista ao canal francês BFM, o chanceler francês, Laurent Fabius, pediu uma reação da comunidade internacional mesmo que não haja uma decisão enérgica do conselho da ONU, que pode ser impedida pela Rússia, aliada do regime sírio.
"Teria de haver uma reação com força na Síria por parte da comunidade internacional, mas não há dúvida sobre o envio de tropas ao terreno".
Na quinta, dia 22, a Alemanha também pediu investigação do incidente. Já a Turquia afirmou que "todos os limites já foram ultrapassados na Síria" e criticou as potências ocidentais por não terem tomado nenhuma ação para impedir a continuidade do conflito, que já deixou mais de 100 mil mortos, segundo a ONU.

IRÃ
O chefe da diplomacia do Irã, Mohammad Javad Zarif, acusou os rebeldes de terem feito o ataque químico. "Se a informação relacionada com o uso de armas químicas é exata, com certeza foram usadas pelos grupos terroristas e outros que renunciaram à fé islâmica, que demonstraram não retroceder ante qualquer crime".
A acusação dos iranianos acontece após a Rússia ter dito na quarta, dia 21, que grupos rebeldes que atuam na área do suposto ataque foram os responsáveis por lançar o foguete com o agente químico. A área é dominada por diversas milícias opositoras, incluindo a Frente al-Nusra, vinculada à rede terrorista Al Qaeda.
Em entrevista à agência de notícias France Presse, integrantes do Exército sírio afirmaram que o uso do gás de destruição em massa seria um suicídio político, visto que era o primeiro dia de trabalho de uma missão da ONU destinada a investigar a aplicação de armas químicas no conflito na Síria.
O grupo de inspetores chegou no domingo, dia 18, a Damasco para avaliar três suspeitas do uso do armamento na periferia de Damasco e na Província de Aleppo. A visita foi autorizada pelo regime sírio após quatro meses de negociações.
Em meio à discussão sobre o suposto ataque, forças de Bashar al-Assad fizeram bombardeios ao leste da capital, área onde teria ocorrido o bombardeio químico, assim como na região de fronteira com o Líbano, onde alguns morteiros caíram em cidades libanesas.


Síria: bombardeios químicos ainda são intensos, dizem ativistas

Do Terra – 22/08/2013

Ativistas políticos na Síria disseram nesta quinta-feira que o bombardeio, com uso de armas químicas, nos arredores de Damasco, capital do país, permanece intenso. Segundo eles, cerca de 1.300 pessoas foram mortas nos últimos dois dias em decorrência do uso dessas armas pelo governo do presidente Bashar Al Assad, que nega as acusações. O governo brasileiro recomenda cautela e a investigação por peritos internacionais.
A Comissão Geral da Revolução Síria, organização não governamental, destacou que os bombardeios atingiram Muadamiya e Guta, na periferia de Damasco. Também foi atingido o bairro de Al Qabun. Os comités de coordenação local, que apoiam a oposição, informaram que houve bombardeios com artilharia pesada em outras áreas, como Jan Sheij e Daraya.
A organização Exército Livre Sírio (ELS), que também apoia a oposição, domina áreas próximas a Damasco. O governo sírio lançou ontem (21) uma operação sobre bairros dos arredores da capital, controlados pela oposição, e desmentiu que tenha utilizado armas químicas, conforme denunciado.
A Coligação Nacional Síria, que atua em favor da oposição, denunciou que pelo menos 1.300 pessoas morreram ontem. Atualmente, na Síria, há uma missão de peritos das Nações Unidas destinada a investigar três casos de ataques químicos.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) se reuniu ontem à noite, mas não conseguiu chegar a acordo para pedir formalmente uma investigação sobre o ataque químico denunciado nessa quarta-feira pela oposição síria.
Desde o início dos confrontos na Síria, em março de 2011, morreram mais de 100 mil pessoas e aproximadamente 7 milhões de sírios precisam de ajuda humanitária de emergência, de acordo com balanço da ONU. Os confrontos foram deflagrados pela disputa política entre a oposição e o presidente Bashar Al Assad, que é pressionado a deixar o poder, mas resiste.

*Com informações da agência pública de notícias de Portugal, Lusa

Veja algumas fotos (Atenção - as imagens são fortes):
 Rebeldes sírios enterram vítimas do suposto ataque com armas químicas contra os oposicionistas na periferia de Damasco


 Homens esperam por atendimento após o suposto ataque químico das forças de segurança da Síria na cidade de Douma, na periferia de Damasco; a fotografia é do escrtitório de comunicação de Douma


 Corpos são enfileirados no subúrbio de Damasco


Nesta imagem da Shaam News Network, órgão de comunicação da oposição síria, uma pessoa não identificada mostra os olhos de uma criança morta após o suposto ataque químico de tropas leais ao Exército sírio em um necrotério improvisado na periferia de Damasco; a fotografia, de baixa qualidade, mostra o que seria a pupila dilatada da vítima

Um milhão de crianças sírias estão refugiadas por causa do conflito, informam Agências da ONU

Da ONU Brasil – 23/08/2013

Um milhão de crianças sírias já foram registradas como refugiadas, forçadas a deixar seu país por causa do conflito iniciado em março de 2011, informou as Nações Unidas na sexta-feira, dia 23.
“O que está em jogo é a sobrevivência de uma geração de inocentes”, disse o chefe da Agência da ONU para Refugiados, António Guterres. “A juventude síria está perdendo sua casa, os membros de sua família e seu futuro. Mesmo que cruzem a fronteira e encontrem segurança em outro país, estes jovens estão traumatizados, deprimidos e precisando de esperança.”
As crianças são mais da metade dos refugiados do conflito sírio, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). As últimas estatísticas mostram que cerca de 740 mil crianças refugiadas sírias têm menos de 11 anos de idade. Muitas estão no Líbano, Jordânia, Turquia, Iraque e Egito. Mais e mais sírios têm agora buscado os países do Norte da África e a Europa.
“Um milhão não é apenas mais um número”, afirmou o diretor executivo do UNICEF, Anthony Lake. “Significa que crianças foram realmente tiradas de casa, talvez até mesmo tiradas de sua família, encarando situações de horror que mal podemos imaginar.”
“Todos nós devemos dividir esta vergonha”, afirmou Lake, “porque enquanto trabalhamos para aliviar o sofrimento das pessoas afetadas pela crise, a comunidade global falhou na sua responsabilidade com essas crianças. Devemos parar e nos perguntar como, em plena consciência, continuaremos falhando em proteger as crianças Sírias.”
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), cerca de 7 mil crianças já foram mortas desde o início do conflito sírio. O ACNUR e o UNICEF estimam que mais de 2 milhões de crianças estejam deslocadas internamente na Síria.
A violência física, medo, estresse e o trauma vivido por tantas crianças são apenas uma parte da crise humanitária. As duas Agências destacam ainda que as crianças refugiadas estão sujeitas às ameaças do trabalho infantil, casamento precoce e o potencial risco de exploração sexual e tráfico. Mais de 3,5 mil crianças na Jordânia, Líbano e Iraque deixaram a Síria desacompanhadas ou separadas de seus familiares.
A maior operação humanitária da história já vista pelo ACNUR e UNICEF têm mobilizado apoio às milhões de famílias e crianças afetadas pela crise.
Por exemplo, mais de 1,3 milhão de crianças em campos de refugiados e comunidades de acolhida foram vacinadas contra sarampo este ano com o apoio do UNICEF e seus parceiros. Quase 167 mil crianças refugiadas estão recebendo assistência psicológica e mais de 118 mil continuam seus estudos tanto em escolas formais quanto montadas especificamente para atendê-las.
O ACNUR registrou como refugiadas 1 milhão de crianças sírias, que receberam documentos de identificação. A Agência também ajuda a providenciar certidões de nascimento para os bebês nascidos no refúgio, prevenindo que se tornem apátridas. O ACNUR assegura ainda que toda família refugiada e seus filhos vivam em abrigos seguros.
Ainda há muito a ser feito. O Plano Regional de Resposta para a Síria recebeu apenas 38% dos 3 bilhões de dólares necessários para atender as necessidades mais urgentes dos refugiados até dezembro deste ano.
São necessários mais de 5 bilhões de dólares para lidar com a crise Síria, as necessidades mais urgentes são educação, atendimentos de saúde e outros serviços específicos tanto para crianças refugiadas quanto para crianças em comunidades de acolhida. Outros recursos são necessários para desenvolver uma forte rede de identificação das crianças sírias em risco, além de providenciar apoio a elas e às comunidades de acolhida.
É preciso intensificar os esforços para se chegar a uma solução política para a Síria, as partes em conflito devem parar de atingir os civis e cessar o recrutamento de crianças. Crianças e suas famílias devem ter acesso às fronteiras para sair do país em segurança e as fronteiras devem permanecer abertas.
O ACNUR e UNICEF declararam ainda que os países que não cumprirem com estas obrigações previstas na legislação humanitária internacional devem ser responsabilizados.


Oposição diz que ataque com armas químicas matou mil na Síria; confira o vídeo

Da BBC Brasil – 21/08/2013

Um ataque com armas químicas na quarta-feira, dia 21 de agosto, matou centenas de pessoas, próximo à Damasco, a capital da Síria, segundo ativistas de oposição sírios.
A principal aliança de oposição na Síria afirma que mais de mil pessoas foram mortas. Os dados não puderam ser confirmados de forma independente.
Eles dizem que foguetes com componentes tóxicos foram lançados contra o subúrbio de Ghouta, em um ataque de forças do governo contra rebeldes. Eles afirmam ainda que há mortos também nas regiões de Irbin, Duma e Muadhamiya.
A agência estatal Sana e o exército sírio negam a informação.
Caso confirmado, o número de mortos é muito superior a outros supostos ataques do tipo.
O diretor de uma comissão de inspeções de armas químicas da ONU que está na Síria, Ake Sellstrom, disse que viu vídeos dos supostos ataques.
"Parece-me que é algo que precisamos investigar", disse ele à agência sueca de notícias TT.
Essa decisão, no entanto, precisaria ser tomada pelo secretário-geral da ONU a pedido de algum país.
Pressão
Os Estados Unidos, o Reino Unido e a França convocaram a realização de uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, para discutir o suposto ataque.
O presidente francês, François Hollande, e o ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, William Hague, pediram que os inspetores da ONU que estão na Síria tenham acesso à área onde teriam sido usadar armas químicas.
A Liga Árabe também pediu que os inspetores tenham acesso à região.
Imagens colocadas no YouTube mostram muitas pessoas sendo atendidas em hospitais e lugares improvisados, mas a autenticidade dos vídeos não pôde ser confirmada.
Mas um médico ouvido pela BBC que diz estar tratando os feridos confirmou que os sintomas dos pacientes – especialmente crianças – são consistentes com o uso de armas químicas: falta de ar, excesso de salivação e visão borrada.
“Há alguns tipos de sintomas que indicam que trata-se de fósforo, uma arma química. Pode também ser sarin, muito provavelmente”, disse o médico, Ghazwan Bwidany.
“Nós não temos a capacidade de tratar todas essas pessoas”, explicou. “Nós os estamos colocando em mesquitas, em escolas. Nós estamos com falta de suprimentos médicos, especialmente atropina, que é um antídoto para armas químicas.”
Em julho de 2012, o governo sírio deu indícios de que possui um estoque de armas químicas, que incluiria gás mostarda e sarin. O governo de Damasco disse que as armas nunca seriam usadas dentro do país.

Exército sírio
O Exército sírio classificou as acusações de uso de armas químicas como graves, mas também destacou o direito dos militares de lutarem contra o que classificam como terrorismo na Síria.
A instituição acusou a oposição do governo de fabricar a acusação para desviar a atenção das derrotas que as forças rebeldes sofreram recentemente.
A agência Sana diz que as alegações são “sem fundamento” e “uma tentativa de desviar a comissão de investigação de armas químicas da ONU de seus deveres”.
Os inspetores da ONU estão na Síria desde domingo. Eles foram investigar três outros lugares onde supostos ataques químicos foram perpetrados em março. Em um deles, na cidade de Khan al-Assal, 26 pessoas teriam morrido.
O editor da BBC para o Oriente Médio, Jeremy Bowen, disse que muitos se questionam por que o governo da Síria atacaria com armas químicas os rebeldes em um momento em que inspetores da ONU estão no país.
Mas Bowen diz que as imagens que estão saindo da Síria nesta quarta-feira são tão chocantes que dificilmente poderiam ser fabricadas.
O ex-comandante de um órgão de armas químicas e biológicas do Exército britânico, Hamish de Bretton-Gordon, também disse que é muito difícil fabricar imagens como as que estão sendo divulgadas agora.
Ele disse que os inspetores sírios possuem equipamentos suficientes para identificar que tipo de armamento teria sido usado no suposto ataque.

Juíza concede liminar suspendendo CPI dos Ônibus

Do Estadão – 22/08/2013

Após uma sessão tumultuada que terminou em pancadaria do lado de fora da Câmara Municipal do Rio, a juíza Roseli Nalin, da 5ª Vara de Fazenda Pública, concedeu, no fim da tarde da quinta-feira, dia 22 de agosto,  liminar suspendendo a instalação da CPI dos Ônibus na Casa. O pedido de suspensão havia sido feito por vereadores da oposição que questionam a proporcionalidade da composição da comissão, cujos presidente e relator são peemedebistas da bancada governista e não haviam assinado o requerimento para abertura da investigação. Do lado de fora da Câmara também teve confusão.
O presidente da Câmara, Jorge Felippe (PMDB), foi intimado a manifestar-se em até 48 horas. O vereador Eliomar Coelho (PSOL), autor do pedido de abertura da comissão, comemorou a decisão. "Não vemos legitimidade na sessão com a atual composição", declarou. Além de Eliomar, são autores da ação os vereadores Paulo Pinheiro, Renato Cinco e Jefferson Moura, do PSOL, Teresa Bergher (PSDB) e Reimont (PT).  Para eles, a composição atual "afronta o direito de participação das minorias".   A primeira audiência pública da CPI dos Ônibus foi marcada por tumulto e agressões entre opositores e apoiadores da atual composição. O vereador Chiquinho Brazão (PMDB), que presidia a sessão, referiu-se aos manifestantes que ocupavam as galerias como "cidadões (sic)" e quase foi atingido por um tênis atirado por um deles. As duas galerias ficaram divididas entre grupos pró e contra a atual composição da CPI.
A sessão teve início às 10 horas, mas bem antes havia uma fila de pessoas esperando para entrar. Senhas eram distribuídas por policiais. Do lado de fora, um grupo fez uma "desbaratização", usando dedetizadores de purpurina e um borrifador, em referência ao empresário Jacob Barata Filho, conhecido como "Rei dos Ônibus" no Rio. A PM cercou a entrada do Palácio Pedro Ernesto, bloqueando todos os acessos à rua Alcindo Guanabara.
Cerca de cem pessoas assistiram à sessão no plenário. Na galeria do lado direito, ficaram manifestantes que se opõem à composição da CPI. Eles usavam máscaras de Brazão e do relator, Professor Uóston (PMDB), exibiam baratas gigantes e gritavam frases como "Brazão, eu não me engano, seu coração é miliciano". Na galeria oposta, o grupo de apoiadores de Brazão ostentava uma faixa com a frase "Deixa a CPI trabalhar". Acusados de serem milicianos e de terem recebido dinheiro, chamavam os opositores de "maconheiros" e "vândalos". Em vários momentos houve tumulto quando parte do grupo "pró-Brazão" tentou agredir manifestantes. "Um cara veio tirar fotos da gente; eu não queria, então fui lá brigar mesmo", afirmou um rapaz que se identificou como Ricardo dos Santos. Dois repórteres da GloboNews foram agredidos pelo grupo pró-Brazão.
Com gritos de protesto e vaias do início ao fim, era praticamente impossível ouvir o que diziam os participantes da CPI. A sessão foi interrompida quando o tênis foi lançado por uma mulher - ela foi levada para fora da Câmara por seguranças. Os opositores também ficaram de costas para o plenário por cerca de cinco minutos, gritando "não, não, não me representa".   Um dos ouvidos na sessão, o secretário municipal de Transportes, Carlos Osório, foi vaiado e teve sua fala marcada por gritos de "é mentira". Ele afirmou que, apesar de o transporte no Rio não ser bom o suficiente, foi a cidade que teve mais investimentos nesse setor no Brasil e, lendo as respostas, enalteceu os projetos do prefeito Eduardo Paes (PMDB). Em entrevista após a sessão, os vereadores de oposição acusaram o secretário de ter tido acesso às perguntas previamente. "Ele foi muito articulado, já tinha as respostas prontas." Integrantes da CPI não anotaram nada e não houve réplica.
Sobre a possibilidade de os apoiadores serem milicianos, Eliomar Coelho afirmou que não pode caracterizar as pessoas com base em prejulgamentos. "Mas a atuação deles é semelhante à de alguns nesta casa que agem de forma intimidatória", disse, lembrando que há envolvimento de parlamentares com a milícia. O chefe da segurança da Câmara, coronel Marcos Paes, disse que conhecia o homem que tentou agredi-lo na entrada lateral e afirmou que ele "é do Jacarezinho e pode ser miliciano". O desentendimento foi motivado porque o homem queria pegar uma senha sem entrar na fila.


Mais Professores seguirá exemplo do Mais Médicos

Do Pragmatismo Político – 22/08/2013

O Ministério da Educação (MEC) quer levar professores a escolas onde faltam docentes em ação semelhante ao Mais Médicos. O Mais Professores faz parte do Compromisso Nacional pelo Ensino Médio, apresentado no dia 21 de agosto, quarta-feira, pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, na Câmara dos Deputados. A criação do programa já havia sido comentada antes pelo ministro, mas é a primeira vez que é apresentado em detalhes.
Segundo Mercadante, o compromisso ainda está em fase de desenvolvimento e depende do Orçamento disponível. Entre as ações do programa, está a proposta de levar professores a escolas de municípios com índices de desenvolvimento humano baixos ou muito baixos e que tenham um baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) – índice calculado a partir do fluxo escolar e o desempenhos dos estudantes em avaliações nacionais.
A intenção é que, mediante o pagamento de uma bolsa, professores se disponham a reforçar o quadro dessas escolas. Para as escolas com baixo rendimento, a pasta quer atrair bons professores para melhorar o ambiente acadêmico. Caso não haja professores disponíveis na rede, o MEC cogita a participação de professores aposentados que queiram voltar às salas de aula.
Segundo Mercadante, as áreas com as maiores carências de professores são matemática, física, química e inglês. O ministro diz que as disciplinas representam cerca de 3% das matrículas de ensino superior, índice que tem se mantido constante. O Mais Professores, esclarece o ministro, ainda é uma proposta em aberto.
Além de atrair professores para áreas carentes, o compromisso propõe o aperfeiçoamento da formação continuada dos docentes, com o desenvolvimento de material didático específico e a criação da Universidade do Professor, uma rede que vai concentrar todas as iniciativas voltadas para a formação docente. Pretende-se que em um mesmo portal o professor possa acessar todos os cursos e programas disponíveis.
O compromisso prevê também um redesenho curricular do ensino médio, para que as disciplinas ensinadas tenham uma maior integração entre si. Para que o ensino seja melhorado, a pasta aposta na educação integral. Para 2013, segundo o ministro, está prevista a adesão de 5 mil escolas no ensino de dois turnos. No ano que vem, serão 10 mil centros de ensino.
Faz parte do compromisso a ação Quero ser Professor, Quero ser Cientista, com a oferta de 100 mil bolsas de estudo para jovens que queiram ingressar na área de exatas. Além disso, o ministério desenvolveu, em conjunto com pesquisadores, um kit para estimular o interesse pelas ciências. “Vamos distribuir os kits de ciências para alunos de toda a rede. Ele vai poder manipular, usar. É inspirado em alguns brinquedos, mas mais sofisticado e barato”, explicou Mercadante.
Mercadante diz que o ensino médio é uma fase que precisa de atenção. “Andamos muito nos anos iniciais [do ensino fundamental], melhoramos nos anos finais e simplesmente atingimos a meta [do Ideb] no ensino médio. O que é pouco. Ainda precisamos de um salto de qualidade”, disse.
Em 2012, 8.376.852 alunos estavam matriculados regularmente e 1.345.864 cursavam o ensino médio pelo Educação de Jovens e Adultos (EJA), de acordo com o Censo Escolar. A maioria das matrículas do ensino médio está na rede estadual de ensino (84,9%). As escolas privadas ficam com 12,7% das matrículas, as escolas federais com 1,5% e as municipais com 0,9%.
A defasagem idade-série ainda é alta, segundo o MEC, em 2012, dos estudantes matriculados no período, 31,1% têm idade acima do esperado para a série que cursam.

Ministério da Saúde acerta vinda de 4.000 médicos cubanos para o Brasil

Do UOL Notícias – 21/08/2013

O Ministério da Saúde anunciou na tarde da quarta-feira, dia 21 de agosto, um acordo de cooperação com intermédio da Opas, braço da Organização Mundial da Saúde para as Américas, para a vinda de 4.000 médicos de Cuba. Eles irão preencher as vagas que não foram selecionadas por brasileiros ou estrangeiros até o momento no programa Mais Médicos e não poderão escolher o município de atuação.
Na primeira etapa, participarão 400 médicos cubanos, que serão destinados a municípios do Norte e Nordeste. Eles vão passar por acolhimento e avaliação em universidades de oito capitais a partir da segunda-feira, dia 26, - o ministério irá aproveitar a estrutura que já foi formada para os inscritos no Mais Médicos.
Cerca de 85% dos 4.000 profissionais têm mais de 16 anos de experiência e todos eles têm residência médica, segundo o ministro Alexandre Padilha. Assim como os médicos inscritos no programa, eles poderão ser reprovados. "Só irão para os municípios os médicos que tenham condições de atender bem a população e de se comunicar [em português]", disse o ministro.
Na segunda etapa do acordo, prevista para 4 de outubro, mais 2.000 profissionais de Cuba virão ao país. Os demais devem vir até o fim do ano, porém nenhuma data foi divulgada.
O ministério irá pagar bolsa de R$ 10 mil mensais - o mesmo que o previsto no Mais Médicos - por cada profissional de Cuba. Mas o montante será repassado à Opas, que fará o encaminhamento ao governo cubano. Moradia e alimentação ficarão a cargo dos municípios.
No início do ano, Cuba ofereceu 6.000 profissionais ao Brasil, oferta que gerou polêmica e, em pouco tempo, foi suspensa pelo governo.
Na ocasião, críticos da medida lembraram que no acordo que Cuba realiza com outros países, como a Venezuela, para envio de médicos, a maior parte do dinheiro fica com o governo, e não com os profissionais. Questionado sobre isso, o ministro foi evasivo: "A preocupação do ministério é se [o profissional] tem qualidade, experiência e condições individuais de atender a população".
Padilha adiantou que já iniciou negociações com Espanha e Portugal para firmar acordos semelhantes ao fechado com o governo de Cuba.

Mais Médicos
Na primeira seleção, concluída na semana do dia 12 de agosto, o programa Mais Médicos teve 18.450 profissionais inicialmente inscritos, sendo que 1.920 deles atuam no exterior (sejam brasileiros ou estrangeiros). No entanto, apenas 1.816 finalizaram o processo de seleção. O total cobre cerca de 11% da demanda de médicos dos municípios.
O programa, assim como os acordos de cooperação para a vinda de estrangeiros, são alvos de ataque das entidades médicas, já que prevêm que profissionais atuem no país sem passar pelo exame de revalidação do diploma.


Proposta de teste de virgindade em faculdades gera polêmica na Indonésia

Do Terra – 21/08/2013

Um plano da Agência de Educação da cidade de Prabumulih, no sul da ilha de Sumatra, que propõe aplicar um teste de virgindade nas alunas como parte dos exames de admissão ao instituto gerou polêmica na Indonésia.
O diretor da agência, Muhammad Rasyid, afirmou que as razões para promover a iniciativa são o aumento da prostituição entre as estudantes e o aumento do sexo antes do casamento.
"Propusemos um teste de virgindade para as estudantes de bacharelado (...) dentro do orçamento regional de 2014", reconheceu Rasyid, afirmando "que toda mulher tem direito à virgindade" e que espera que as alunas não façam "atos negativos".
Um parlamentar indonésio que integra a comissão de Educação, Dedi Gumilar, questionou a constitucionalidade do plano.
"Por acaso temos uma lei que estabeleça que os estudantes devem ser santos? Segundo nossa constituição todos os cidadãos têm direito à educação", disse a legisladora em declaração ao jornal The Jakarta Globe.
Por sua vez, o vice-presidente da Comissão Nacional contra a Violência Machista, Masruchah, condenou a iniciativa e ressaltou que "a moralidade de uma estudante não deve ser determinada por seus genitais" e acrescentou que o corpo dessas jovens não pertence aos políticos.
Apesar de todas as críticas que o projeto gerou, o Ministério da Educação declarou que só pode aconselhar contra o plano, mas que a última palavra dependerá da agência de Educação de Prabumulih, já que tem autoridade para implantar esta classe de políticas.
A Indonésia, com 240 milhões de habitantes, é o país com mais muçulmanos do mundo e a maioria deles professa um islamismo moderado.


Alemanha cria 'terceiro gênero' para registro de recém-nascidos

Da BBC – 20/08/2013

A partir de 1º de novembro, a Alemanha oferecerá aos pais três opções para registrar seus filhos: "masculino", "feminino" e "indefinido". A nova lei foi aprovada em maio, mas seu teor só foi divulgado em agosto deste ano. Com isso, a Alemanha passa a ser o primeiro país europeu a oficializar o terceiro gênero.
Essa mudança é uma opção para pais de bebês hermafroditas, que nascem fisicamente com ambos os sexos.
A nova legislação abre a possibilidade de a criança, ao se tornar adulta, escolher posteriormente se prefere ser definida como homem ou mulher. Ou mesmo seguir com o sexo indefinido pelo resto da vida.

Questões indefinidas
Na Alemanha, alguns jornais disseram que a mudança é uma "revolução legal". No entanto, a lei não prevê como a escolha do sexo indefinido é refletida em documentos como o passaporte, onde existe apenas escolha entre "M" e "F". A revista alemã de direito familiar FamRZ sugere que a opção de sexo indefinido seja marcada com a letra "X".
A nova lei é amparada em uma decisão do tribunal constitucional alemão que estabeleceu que pessoas que se sentem profundamente identificadas com um determinado gênero têm o direito de escolher seu sexo legalmente.
Outro assunto ainda a ser definido é matrimônio. A lei alemã só permite atualmente casamentos entre homens e mulheres, o que não contempla pessoas de gêneros indefinidos.
Poucos países no mundo possuem legislações sobre terceiro sexo. A Austrália aprovou uma lei há seis semanas, mas desde 2011 os australianos já têm o direito de identificar-se com o sexo "X" no passaporte. Na Nova Zelândia, isso é possível desde 2012.
O correspondente da BBC na Alemanha, Demian McGuiness, afirma que ainda há outros pontos em aberto. No caso de uma pessoa de sexo indefinido ser presa, em qual presídio ela seria detida?
O grupo de direitos de pessoas transgêneros Trangender Europe vê avanços na legislação alemã, mas reivindica mais mudanças.
"É [uma mudança] lógica, mas não é uma lei tão progressista como gostaríamos que fosse", disse Richad Köhler, do Transgender Europe. Ele diz que a lei só contempla bebês que tiveram diagnóstico médico de hermafroditismo.
A entidade quer que as pessoas possam ter o direito de deixar a opção de gênero em branco, sem precisar se quer se declarar "indefinido".


terça-feira, 20 de agosto de 2013

O assunto é: Black Blocs: ação condenável ou legítima?

Interpretação de que os black blocs são meros grupos de vândalos e baderneiros é equivocada. Constituem-se como grupo político, agem como grupo político e sua ação possui fundamentação teórica e política

Do Brasil de Fato – 08/08/2013

Nas últimas semanas aumentaram as batalhas de rua em São Paulo e no Rio entre os black blocs e a política militar. Os black blocs fazem da ação direta a sua estratégia política e visam atingir sobretudo estruturas físicas do capital e do Estado - estilhaçam vidraças de bancos e picham prédios públicos, símbolos do poder.
De clara inspiração anarquista, os grupos black blocs identificam no Estado e no Capital a violência contra a sociedade. Para os black blocs, a violência está na ação do capital e do Estado e não na ação destrutiva simbólica por eles praticada. A performance destrutiva é uma concepção política, uma ação pedagógica e politizadora para o conjunto da sociedade.
Tapumes protegendo as fachadas de bancos, shoppings e prédios públicos fazem a população se perguntar: Do que se protegem?
A ação direta e virulenta dos black blocs remonta os anos 60, porém, ganharam visibilidade nos protestos contra a OMC em Seattle, naquela que ficou conhecida como a ‘Batalha de Seattle’ (1999) e depois em Genova (2001) por ocasião do encontro do G7 – que vitimou o ativista Carlo Giuliani – primeiro mártir do movimento antiglobalização.
Os encontros da OMC, do FMI, do G7 e do Banco Mundial são alvos dos black blocs - identificados como poderes paraestatais que subordinam os povos do mundo.
A interpretação de que os black blocs são meros grupos de vândalos e baderneiros é equivocada. Constituem-se como grupo político, agem como grupo político e sua ação possui fundamentação teórica e política. Aceitar ou não os métodos dos Black blocs é outra coisa.
Utilizando-se de uma hermenêutica foucaultiana, os black blocs exercem a biopolitica contra o biopoder.

Cesar Sanson é professor de sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Entrevista: “Black blocs são minoria, mas símbolo importante da resistência”

Cientista político, Saul Newman diz que esses manifestantes são a face mais visível do anarquismo hoje
Da Carta Capital – 02/08/2013

Os grupos de pessoas que se reúnem para quebrar bancos e concessionárias em protestos podem não ser os mais numerosos, mas são uma face reveladora da resistência nas manifestações ao redor de todo mundo. Está é a avaliação do cientista político Saul Newman sobre a tática dos black blocs. Professor de teoria política da Goldsmiths University, de Londres, Newman cunhou o termo pós-anarquismo, útil para definir formas de resposta direita, às vezes radicais, a um estado que interfere cada vez mais na vida de seus cidadãos.

Em entrevista a CartaCapital por e-mail, ele fala da dinâmica dos black blocs e como eles se relacionam com o anarquismo. Veja a íntegra abaixo:

Carta Capital - Qual é o espaço dos black blocs no anarquismo hoje?
Saul Newman - O Black Bloc se tornou o símbolo mais visível e marcante do anarquismo hoje. Aos olhos do público, o anarquismo e o Black Bloc são indistinguíveis. Além disso, a importância da tática Black Bloc em manifestações anticapitalistas e em insurreições recentes em todo o mundo tem alimentado muitos estereótipos da mídia -dos anarquistas como violentos e destrutivos. Isso é uma caricatura grosseira do anarquismo que tem uma longa história.
No entanto, enquanto Black Blocs podem só representar uma pequena minoria no movimento anarquista, eles são hoje um símbolo importante da resistência, e até mesmo do surgimento de novas formas de política antiautoritárias. Eles simbolizam a ação direta, a vontade de enfrentar a violência policial, o anonimato e a invisibilidade.
A face oculta tornou-se a imagem que define o ativismo político radical contemporâneo. É possível ver isso no Occupy, na Primavera Árabe, em protestos e manifestações em todos os lugares.

CC - Especialistas dizem que cada indivíduo na tática black bloc tende a lutar sua própria batalha, assim ele não é um grupo, mas uma tática usada sempre em um contexto específico. Como você analisa isso?
SN - Como uma tática e um símbolo, acho que ela é extremamente interessante e poderosa. A violência que está associada tem sido muitas vezes exagerada pelos meios de comunicação -geralmente envolve danos à propriedade, em vez de violência real contra as pessoas. Confrontos com a polícia são muitas vezes uma tática defensiva de contra violência.
Ele não é centralmente organizado, e não tem existência permanente - é simplesmente uma união de indivíduos singulares para um propósito comum. Cada participante luta como um indivíduo e também como parte de um grupo. O indivíduo não é sacrificado para a coletividade mais ampla, mas se envolve em uma livre colaboração com os outros.
Trata-se da formação temporária contingente, sem uma identidade clara, que aparentemente surge espontaneamente e, em seguida desaparece. Os indivíduos do grupo podem até não saber quem é a pessoa em pé ao lado deles é, e isso produz uma forma diferente de união - e não um baseado em identidade, mas no encontro de corpos e desejos. Isto é o que o torna tão interessante, e por que é tão difícil de controlar.
Sua estrutura incorpora um novo tipo de política, uma política de fluidez, de afinidade, singularidade e anonimato, ao invés de liderança e representação. O gesto de invisibilidade - a cobertura do rosto e da ocultação de identidade, que eu mencionei antes - é mais do que simplesmente uma medida de contravigilância, é também uma recusa de toda a ideia da identidade e da representação política, que até agora tem sido preponderante.

CC - Podemos dizer que as organizações de mídia, criticando sua atitude, tendem a dar-lhes mais poder?
SN - A mídia corporativa, em colaboração com os detentores do poder, fazem o seu melhor para demonizar o Black Bloc. E, de fato, usam seus confrontos bastante espetaculares e altamente visíveis para deslegitimar o protesto mais amplo. Uma das outras táticas retóricas utilizadas pelos meios de comunicação é fazer uma distinção entre manifestantes  violentos e pacíficos, bons e ruins, como forma de criar divisões dentro de um movimento . Parece-me que essas manipulações ideológicas não funcionam mais.
É verdade que o Black Bloc cria um espetáculo, mas é um espetáculo de sua própria criação, um contraespetáculo que visa subverter e sabotar o espetáculo midiático que toda a política democrática se tornou. O que eu acho interessante é a maneira que os manifestantes usam o poder da imagem para criar uma narrativa alternativa - filmando o protesto em que eles estão envolvidos em seus telefones celulares, postagem de imagens para sites de redes sociais, e até mesmo definir formas de mídia alternativa. Vivemos em uma sociedade do espetáculo, como o situacionista Guy Debord reconheceu há muito tempo, uma sociedade que é controlado e gerenciado através da circulação de imagens. E para enfrentar isso, ativistas e insurreições têm de criar uma espécie de contraespetáculo.


Quem são os anarquistas de preto que vandalizam SP

Da Veja – 04/08/2013

Quinta-feira, 20h40, correria na Avenida Paulista. Cercados por uma barreira de policiais por todos os lados, dezenas de jovens com o rosto coberto e roupas pretas partem em direção à drogaria Onofre, na esquina com a Rua Bela Cintra. Conseguem abrir distância do cordão de policiais, tentam atacar a farmácia, mas um grupamento da Polícia Militar os impede. Os arruaceiros recuam ante os golpes de cassetete e começa um confronto. Dois morteiros são jogados em meio ao caos. Seis pessoas são algemadas e levadas pelos policiais até a viatura da Força Tática.
Todos os seis, entre eles dois menores, foram detidos e passaram a madrugada da última sexta-feira nas celas do 78º DP, nos Jardins. Foram enquadrados por lesão corporal, resistência à prisão e favorecimento. Além deles, outros sete foram detidos pela PM por volta das 23 horas depois que a passeata dispersou na noite de quinta-feira. Eles foram acusados de dano qualificado, pichação e ato infracional. Segundo a PM, uma denúncia chegou por ligação telefônica: os vândalos estariam depredando três agências bancárias na Rua Augusta e destruindo seis caixas eletrônicos. Com o grupo, a PM apreendeu uma marreta de borracha, sprays, barras de ferro e objetos usados em depredação, máscaras contra gás lacrimogêneo e óculos de segurança. Na manhã desta sexta, os treze foram liberados. Só será aberto inquérito se os bancos apresentarem queixa da depredação.
O grupo de anarquistas mascarados que tem vandalizado a capital paulista se autodenomina “Black Bloc” e começou a agir à margem da onda de protestos que sacudiu o país em junho. Quando as passeatas perderam fôlego, passou a organizar seus próprios quebra-quebras pelas redes sociais. No Facebook, é possível encontrar páginas dos anarquistas de preto agendando mobilizações em São Paulo, no Rio de Janeiro e nas principais capitais do país. Em geral, os padrões são idênticos e terminam com um rastro de destruição de estabelecimentos comerciais e do patrimônio público. Os mascarados bradam contra os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). Também cobram informação sobre o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, na Favela da Rocinha, no Rio.
Perfil - Apesar da presença de menores de idade, a ampla maioria dos encapuzados é composta por jovens na faixa dos 20 anos, estudantes universitários de cursos como História e Ciências Sociais - da pública USP às particulares PUC, FMU e FAAP. São brancos e de classe média, com alguma familiaridade com pensadores da esquerda política - a lista de detidos inclui um professor universitário. Usam calças e casacos pretos. A indumentária também inclui lenços no rosto, mochilas nas costas e tênis, embora alguns prefiram um calçado mais forte: “Cara, estou sem meu coturno hoje”, disse um manifestante em tom de preocupação, na noite de quinta-feira.
Nesta quinta, horas antes do grupo se reunir em frente à prefeitura paulistana para um novo ato, o Ministério Público se manifestou a favor da libertação de cinco manifestantes que seguiam detidos após o protesto de terça-feira. Eles foram soltos nesta sexta, por determinação da Justiça. Na ocasião, as câmeras de TVs flagraram cenas lamentáveis de violência explícita, com o apedrejamento de agências bancárias, viaturas da Polícia Militar e uma concessionária de carros na Avenida Rebouças – um modelo branco foi pichado um símbolo anarquista. Ao defender a liberação, ocorrida nesta sexta, os promotores endossaram a defesa dos advogados, segundo quem os detidos não se conheciam e agiram autonomamente - a intenção é evitar a acusação de formação de quadrilha. "Há vídeos mostrando que estavam sozinhos, sem praticar vandalismo, quando foram presos", disse o advogado dos detidos, Luis Guilherme Ferreira ao jornal O Estado de S.Paulo.
A PM enquadrou os baderneiros por dano qualificado contra uma viatura, desacato à autoridade, resistência à prisão e formação de quadrilha. Na ocasião, foram detidos o publicitário e artista plástico Thiago Frias, de 31 anos; os estudantes Francisco de Campos Lopes e Nicolas Gomes de Deus, ambos de 20; Bruno Torres Mendes Soares e a estudante Andresa Macedo dos Santos, ambos de 19. Os quatro primeiros passaram três dias no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros. Andresa, no CDP de Franco da Rocha.

Tática - O termo "black bloc" (bloco negro, em inglês) se refere a uma tática de promover atos de vandalismo e depois se misturar à multidão, empurrando a massa para comportamentos similares. O método foi usado na década de 1990 por anarquistas europeus - surgiu na Alemanha nos anos 1970 e foi replicado em outros países. Em sua página no Facebook, o "Black Bloc SP" usa uma citação do ativista anarquista italiano Errico Malatesta e ataca políticos.
O grupo líder forma uma linha com cerca de quinze pessoas, braços entrecruzados, que marcham à frente das faixas de protesto. Para se agrupar, a palavra de ordem é: “Bloco!”. Pelo menos cinco dos líderes dão o tom dos gritos de ordem e definem o itinerário a ser seguido. A comunicação é feita por gestos.
“Não temos um coletivo organizado por trás, por isso ainda cometemos erros, nos dispersamos muito, mas vamos aprendendo na rua, na prática”, disse na quinta-feira um rapaz que afirmou ser anarquista há “alguns anos”, mas não quis se identificar.
O grupo de anarquistas de preto que saiu às ruas da capital paulista nas últimas semanas é significativamente menor que as multidões de junho. Mais: se as passeatas que reuniram milhares ainda são um caso a ser estudado na história recente do país, os atos promovidos pelo "Black Bloc" se configuram em um caso - cada vez mais claro - de polícia.