Do Exame.com – 15/08/2013
Cairo - O número de mortos
contabilizados na violência ocorrida ontem na capital do Egito passou dos 600 e
familiares buscam parentes desaparecidos entre os corpos alojados em uma
mesquita. A condenação mundial ao massacre promovido pelos apoiadores do presidente
deposto, Mohammed Morsi, ampliou, incluindo a resposta severa do presidente
Barack Obama, que cancelou os exercícios militares conjuntos entre os EUA e o
Egito.
Na quinta-feira, dia 15,
apoiadores de Morsi, invadiram e atearam fogo em dois edifícios do governo
local em Gizé, uma cidade perto do Cairo, segundo uma emissora de televisão
estatal. Repórteres da Associated Press viram os prédios em chamas e imagens
mostram os funcionários deixando o prédio em meio a uma nuvem de fumaça.
A violência se espalhou pelo país
e Ministério de Interior orientou a polícia a usar munição real para deter
ataques a prédios do governo e instalações das forças de segurança. "O
Ministério de Interior orientou todas as forças de segurança a usarem munição
real para deter qualquer ataque a prédios ou às forças do governo", dizia
uma nota divulgada pela pasta.
A Irmandade Muçulmana, tentando
se agrupar após o ataque ao seus acampamentos e prisão de seu principais
líderes, convocou para a sexta-feira, dia 16, uma marcha no Cairo. O grupo
afirmou que a marcha terá início na mesquita Al Iman e será um protesto
"pela morte de parentes". A manifestação é um desafio ao estado de
emergência e toque de recolher decretado ontem pelo governo.
O Ministério da Saúde do Egito
atualizou para 638 o número de pessoas mortas nos conflitos ocorridos na
quarta, dia 14, entre policiais e simpatizantes do presidente deposto Mohammed
Morsi. Um porta-voz do ministério, Khaled el-Khateeb, informou também que o
total de feridos é de aproximadamente quatro mil.
Histórico
A onda de violência teve início
quando a polícia do Cairo tentou desfazer dois acampamentos de manifestantes a
favor de Morsi, que foi derrubado do poder em 3 de julho, e logo se espalhou
para outras partes da capital e outras cidades do país.
Segundo El-Khateeb, 288 pessoas
foram mortas no maior dos dois campos, no distrito de Nasr City, na área leste do
Cairo.
O governo Obama pediu um fim
imediato da repressão militar no Egito e a retirada do estado de emergência, em
um endurecimento significativo da posição americana sobre o país do norte da
África.
Os EUA resolveram abandonar os
planos para realizar exercícios militares com os egípcios que estavam previstos
para começar em aproximadamente um mês, disseram altos funcionários americanos.
No mês passado, em julho, o
Pentágono congelou um embarque de jatos de combate F-16 ao Egito, mas disse que
o exercício iria adiante como planejado. A mudança reflete as crescentes
preocupações sobre as medidas adotadas pelo poderoso chefe militar do Egito, o
general Abdel Fattah Al Sisi, contra os protestos da Irmandade Muçulmana, que
se tornaram sangrentos na quarta, dia 14 de agosto.
Um banner do presidente egípcio
deposto, Mohamed Mursi, em prédio após ataque em acampamento de manifestantes
no Cairo
Os EUA tinham se recusado até
agora a congelar aproximadamente US$ 1,3 bilhão em ajuda militar aos generais
do Egito. As autoridades dos EUA disseram que continuarão a revisar a ajuda
futura, levando em consideração as ações do Exército egípcio que, se acredita,
provocaram a morte de mais de 190 pessoas.
"Os eventos de hoje são
deploráveis e contra as aspirações egípcias de paz, inclusão e democracia
genuína", afirmou ontem o secretário de Estado americano John Kerry no
Departamento de estado americano. "Nós nos opomos fortemente a um retorno
do estado de emergência e pedimos ao governo para respeitar os direitos humanos
básicos, incluindo liberdade de assembleia pacífica e processo legal adequado
de acordo com a lei."
O novo presidente do Irã, Hasan
Rouhani, conclamou o exército do Egito a parar com a repressão dos
manifestantes que exigem a restauração da democracia e o retorno do presidente
Mohammed Morsi, deposto em um golpe militar há pouco mais de um mês.
"Digo às Forças Armadas do
Egito que os egípcios são uma grande nação em busca de liberdade. Não os
reprimam", declarou Rouhani em discurso no Parlamento iraniano. Ele
criticou o que qualificou como "brutalidade" do exército.
O primeiro-ministro da Turquia,
Recep Tayyip Erdogan, pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança das
Nações Unidas para discutir a situação no Egito, onde aproximadamente 300
pessoas foram mortas em uma ação da polícia para desmontar acampamentos de
protestos montados por partidários do presidente deposto Mohammed Morsi.
Erdogan disse também que os
líderes do Egito deveriam realizar um julgamento de uma "maneira justa e
transparente" da ação da polícia que, segundo ele, se transformou em um
"massacre".
O líder turco também criticou as
nações ocidentais e outros por não falarem contra a deposição de Morsi em 3 de
julho, dizendo que eles "tinham o sangue de crianças inocentes em suas
mãos". O governo de Erdogan com raízes islamitas, que forjou uma aliança
com Morsi, é um critico da intervenção militar no Egito.
A alta comissária de Direitos
Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Navi Pillay, pediu hoje um
amplo inquérito sobre a repressão das forças de segurança do Egito contra os
apoiadores do presidente deposto Mohammed Morsi, que deixou pelo menos 343
mortos.
"O número de mortos e
feridos, mesmo segundo os dados do governo, aponta para um uso excessivo, até
mesmo extremo, da força contra os manifestantes", disse Pillay em
comunicado. "É preciso que haja uma investigação independente, imparcial,
efetiva e credível sobre a conduta das forças de segurança. Qualquer um
considerado culpado de irregularidades precisa ser responsabilizado",
acrescentou.
A onda de violência no Egito
provocou reações em todas as principais lideranças mundiais. O papa Francisco
pediu orações em prol "da paz, diálogo e reconciliação naquela querida
terra". O Escritório de Relações Exteriores da Alemanha convocou o
embaixador egípcio no país para cobrar explicações. Segundo o ministro Guido
Westerwelle, o embaixador foi informado "que o banho de sangue no Egito
precisa acabar".
O primeiro-ministro da Turquia,
Recep Erdogan, acusou o Ocidente de ignorar a violência no Egito e pediu que o
Conselho de Segurança da ONU marque uma reunião urgentemente para discutir a
situação. Segundo ele, os líderes egípcios precisam ser julgados de maneira
justa e transparente pelo "massacre" cometido.
Já os Emirados Árabes Unidos
defenderam a repressão aos protestos. "O lamentável é que grupos
religiosos extremistas insistam na retórica da violência, prejudicando os
interesses públicos e afetando a economia", diz o governo em comunicado.
O Egito retirou seu embaixador da
Turquia em mais um sinal da rápida deterioração das relações entre os dois
países desde o golpe militar que depôs Mohammed Morsi no início de julho.
A convocação do embaixador
egípcio em Ancara foi anunciada por meio de uma lacônica nota divulgada no dia
15 de agosto pelo Ministério das Relações Exteriores do Egito.
Antes da decisão, o
primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, havia criticado as
potências ocidentais por ignorarem a gravidade da situação no Egito e pedido
uma reunião urgente do Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações
Unidas (ONU) sobre o assunto.
Egito e Turquia mantiveram boas
relações durante o período em que Morsi, primeiro presidente democraticamente
eleito da história de seu país, esteve no poder.
http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/onda-de-violencia-no-egito-deixa-mais-de-600-mortos?page=1
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