Da Carta Capital – 28/06/2013
As empresas de saneamento básico
no Brasil desperdiçam cerca de 40% da água que distribuem, um nível quase
quatro vezes superior ao de países como Alemanha e Japão. É o que aponta o
levantamento Manual sobre Contratos de Performance e Eficiência para Empresas
de Saneamento em Brasil, realizado pela GO Associados a pedido da International
Finance Corporation (IFC), instituição de desenvolvimento do Banco Mundial
voltada ao setor privado, em parceria com o governo da Espanha. O documento foi
divulgado nesta quinta-feira 27, em São Paulo.
Esse nível de desperdício tem se
mantido praticamente estável nos últimos dez anos, com algumas operadoras de
saneamento atingido índices superiores a 80%. O estudo estima que o Brasil
precisa reduzir o desperdício em ao menos dez pontos percentuais para chegar
aos níveis de perdas semelhantes aos países desenvolvidos.
Segundo o documento, a redução do
desperdício de água entre 2009 e 2025 poderia gerar ganhos de até 37,27 bilhões
de reais ao final de 17 anos. A estimativa considera uma redução de 50% das
perdas, caindo dos atuais 37,4% de desperdício de média nacional para 23,2% - a
média da Sabesp para contratos com financiamento internacional. “O investimento
anual no saneamento no Brasil fica em 10 bilhões de reais [pelas empresas]. O
controle das perdas é o equivalente a três anos de investimentos. É um impacto
grande”, diz Gesner Oliveira, ex-presidente da Sabesp e sócio da Go Associados.
Se as empresas do setor
eliminassem as perdas também na energia, aponta o levantamento, poderia haver
ganhos também. No cenário mais otimista da pesquisa, com uma redução de 25% do
desperdício, os lucros poderiam chegar a 6,25 bilhões de reais. No mais
conservador, com 15%, ficariam em 3,67 bilhões.
Os estados com maior desperdício
são Amapá e Acre, com mais de 70% de perdas. Entre os mais eficientes estão o
Distrito Federal, Espírito Santo e o Paraná, com menos de 30%. São Paulo e Rio
de Janeiro possuem níveis entre 30% e 40%. “A eficiência na distribuição de
água não ganhou a atenção da classe política, mas esse é um ponto importante
para a sustentabilidade. Ao reduzir o nível de perdas, haverá mais água
disponível”, afirma Oliveira.
Segundo o estudo, a Cosama
(Amazonas) teve o maior desperdício (80,7%) entre as operadoras estaduais. A
SAERB (Rio Branco), com 76,5%, foi a menos eficiente no âmbito municipal. Já a
Sanepar (Paraná) foi a mais eficiente nos estados (21,2%) e a Sanasa (Campinas)
nos municípios (18,0%). Foram analisadas as 52 maiores empresas brasileiras em
termos de população atendida, estaduais e municipais. “Com menos perdas, não é
preciso fazer muitos investimentos na ampliação da captação. O investimento
para reduzir as perdas pode ser menor que um grande aporte de expansão”, diz
Fernando Marcato, um dos responsáveis pelo estudo.
Contratos por desempenho. O
estudo defende que as empresas de saneamento tentem reduzir a perda física de
água (vazamentos nas ruas, por exemplo), contratando empresas privadas
especializadas para identificar a melhor forma de reduzir o desperdício e
também executar as soluções, além de repassar a tecnologia utilizada à empresa
de saneamento.
Esses contratos seriam por
desempenho e não remuneração fixa. A ideia é estimular o agente privado a
entregar o serviço e as metas do contrato. O modelo, diz o texto, ajudaria a
driblar um dos maiores problemas associados aos baixos índices de investimento
no setor de saneamento: a baixa capacidade dos operadores de se financiar.
“Essa limitação está relacionada às condições econômico-financeiras ainda precárias
dos operadores, que, por sua vez, se justificam em função da baixa eficiência
operacional e de gestão. Ou seja, os altos custos dessas empresas e a baixa
capacidade de geração de receitas diminuem a capacidade das operadoras de obter
recursos financeiros”, aponta o estudo.
Segundo o documento, das 26
empresas estaduais de saneamento, apenas sete possuem condições adequadas para
captação de financiamentos. Com os contratos de desempenho, a concessionária
reduziria o aporte de recursos para reduzir as perdas, pois a contratada
realizaria os investimentos. A empresa seria paga com a receita extra gerada
pela economia com as perdas.
O modelo seria, porém, mas
difícil de financiar, acredita Rogerio Pilotto, executivo-sênior de
investimentos para infraestrura da IFC. “É difícil porque tem um componente
técnico, um risco em relação ao serviço ser prestado pela empresa de
engenharia. Um banco normal tem dificuldade de avaliar esse risco porque está
acostumado a estudar balanços e não o componente de engenharia.”
Em setembro de 2012, a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), mostrou que oito em cada dez casas brasileiras têm água
encanada (84,6%), o equivalente a 51,8 milhões do total de domicílios.
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