Da Rede Brasil Atual – 14/05/2013
Los Angeles – A concentração de
dióxido de carbono (CO2) na atmosfera alcançou um novo marco na história das
medições científicas, uma marca que certifica, segundo os analistas, a
realidade de um aquecimento global de consequências imprevisíveis e cada vez
mais preocupantes.
Na semana do dia 06 de maio, a
presença de CO2 no ar chegou a 400 partes por milhão de moléculas nos registros
da estação atmosférica Mauna Loa, no Havaí, considerada o epicentro mundial
para o estudo dos gases do efeito estufa desde que começou a operar, em 1958.
O número em si não se traduz em
uma "ameaça imediata" para o ser humano, como explicou à Agência Efe
o geoquímico Ralph Keeling do Centro Oceanográfico de San Diego, na Califórnia,
mas é um dado simbólico com o qual os cientistas tentam conscientizar mentes.
"É um patamar ao qual não
deveríamos ter chegado. De fato, não seria preciso ter superado os 350",
declarou Keeling, um dos responsáveis do relatório publicado na sexta-feira
pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA, em inglês) dos
Estados Unidos.
Este especialista sustenta que a
civilização se encontra "em zona de perigo" sem que no horizonte
próximo se vejam sinais de melhoria. Em 25 anos estima-se que o CO2
representará 450 partes por milhão de moléculas de ar dado o contínuo uso de
combustíveis fósseis para o desenvolvimento dos países.
A queima de carvão, petróleo e
gás natural está sendo o motor da dramática aceleração do aumento do CO2 na
atmosfera, disse o diretor da divisão de vigilância global da NOAA em seu
laboratório do Colorado, James Butler.
"Durante a civilização
humana o dióxido de carbono esteve em níveis de entre 180 a 280 partes por
milhão. Em pouco mais de 100 anos, a espécie humana o elevou a 400. Não há
ciclo natural neste planeta capaz de fazer algo assim tão rápido",
esclareceu Butler.
Ainda não se sabe se existe um
ponto sem retorno, aquele que uma vez superado gere uma desestabilização tão
drástica que condene o ser humano a calamidades climáticas globais que, por
enquanto, são mais próprias dos filmes; um ultimato que, apesar de trágico, nos
ajudaria a tomar medidas para frear as emissões.
"As pessoas não veem perigos
em curto prazo, portanto não se assustam, isso é parte do problema. Se nos
concentrarmos no longo prazo, nos daremos conta que a magnitude do que estamos
fazendo é muito preocupante", insistiu Keeling, cujo pai foi pioneiro no
estudo do dióxido de carbono.
A chamada "Curva de
Keeling", criada por Charles David Keeling, está na base das demonstrações
que validam as teorias da mudança climática que deram origem às cúpulas
ambientais de Kioto e Copenhague. Charles Keeling faleceu em 2005 e seu filho
Ralph continuou seu legado.
"Não penso que meu pai teria
se surpreendido muito por termos chegado a este ponto, embora ele esperasse
que, uma vez sabendo da existência de uma rápida mudança no clima, teríamos
feito mais", comentou seu descendente.
Para Butler, as pessoas têm de
fazer um esforço para "entender suficientemente" que o aquecimento
global "é verdade" e "têm de confiar em quem sabe mais",
mas admite que "isso é difícil".
Uma vez na atmosfera, o CO2
permanece ali durante milhares de anos, o que faz com que as mudanças
climatológicas radiquem nas emissões acumulativas. "Leva entre 10 e 20
anos para que se notem os efeitos", indicou Butler.
A taxa de aumento de dióxido de
carbono se acelerou desde que começaram as análises contínuas em 1958, ao
passar de 0,7 partes por milhão ao ano então a uma média de 2,1 partes por
milhão na última década.
Devido ao aumento da temperatura
no planeta, se prevê que nos próximos anos os gases metano que se encontram em
sedimentos superficiais nos oceanos e sob o gelo do ártico se liberem na
atmosfera. Esse gás poderia acelerar até cinco vezes mais o aquecimento global.
Algo similar já aconteceu em
tempos pré-históricos, lembrou Butler. Também não é a primeira vez que o CO2 se
situa nos níveis atuais, mas isso ocorreu de forma gradual em períodos de
milhares de anos quando o homem ainda dava seus primeiros passos como
australopiteco.
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