Do BBC Brasil - 22/04/2013
Uma nova estratégia de
"atração de cérebros" poderá trazer cerca de 6 milhões de
profissionais estrangeiros para o Brasil nos próximos anos, segundo a
Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) do governo. Com o auxílio de grupos
de especialistas e consultorias de mercado, a secretaria quer desenvolver uma
política de atração de profissionais - o número, no entanto, não inclui
imigrantes de baixa qualificação e, sim, profissionais altamente qualificados
que possam atender a demanda atual da economia brasileira.
"Imigrantes qualificados são
o foco do esforço. Não é uma política geral de imigração, é uma estratégia de
atração de cérebros.", disse o ministro-chefe interino da SAE Marcelo Neri
à BBC Brasil. A proposta deve chegar à presidente Dilma Roussef nos próximos 40
dias. Neri afirmou que a estimativa de 6 milhões foi feita considerando
levantamentos de uma comissão de especialistas e de pesquisas com as empresas e
o público em geral.
Segundo Neri, o Brasil é um dos
países com a menor proporção de imigrantes na população, o que reflete "um
fechamento do país ao fluxo de pessoas". Os estrangeiros representam hoje
0,2% da população. Com a adição de seis milhões nos próximos anos, este
percentual subiria para cerca de 3%.
"O Brasil é muito fechado
para imigrantes, mesmo em relação à América Latina que já não é tão aberta para
estrangeiros." Para Neri, esse "fechamento" deve ser revertido
para responder à demanda crescente por profissionais altamente qualificados,
especialmente na áreas de engenharia e saúde. No entanto, sindicatos nacionais
temem que trazer mão de obra de fora prejudique a força de trabalho doméstica –
que, de acordo com eles, é suficiente em termos numéricos, mas precisa de
valorização e melhor qualificação.
Neri afirma que a nova estratégia
"leva em conta a necessidade atual de mão de obra qualificada, mas mantém
o cuidado com o trabalhador brasileiro". "Não é uma abertura de
porteira. Trazer profissionais altamente qualificados cria associações mais
fortes, cria mais massa crítica, se aprende muito com outros
profissionais."
'Apagão
de mão de obra'
A expressão "apagão de mão
de obra" é usada com frequência por analistas de mercado nos últimos anos
para se referir a uma suposta escassez de profissionais altamente qualificados
no Brasil.
De acordo com a Pesquisa de
Escassez de Talentos 2012 da consultoria internacional Manpower Group, o Brasil
é o segundo país do mundo em dificuldade para preencher vagas, atrás apenas do
Japão. A falta de candidatos disponíveis e a falta de especialização são
apontadas por empresários como as duas principais razões do problema. Mas, em
2011, um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
negou a existência de um "apagão" no topo da pirâmide de
profissionais brasileiros.
"O verdadeiro apagão de mão
de obra está na base, na mão de obra pouco qualificada, que é onde os salários
estão subindo mais", diz o ministro Marcelo Neri, que é também o
presidente do Ipea. O ministro, no entanto, afirma que nos últimos anos algumas
áreas de especialidade começaram a dar sinais de que a oferta de profissionais
domésticos não seria suficiente para atender ao mercado em crescimento do país.
"(Entre os profissionais
qualificados) você não tem um apagão completo, mas você tem áreas mais
sombreadas do que outras. O fato é que o mercado de trabalho em 2012 e 2013 se
aproxima do que se pode chamar de um apagão. A luz ficou mais fraca." Um
levantamento da Brasil Investimentos e Negócios (Brain) - consultoria que
realiza pesquisas sobre a inserção do Brasil no mercado internacional e
colabora com a SAE - afirma que medicina, engenharia civil, engenharia química
e arquitetura são éreas em que o país precisa de mais profissionais do que os
disponíveis.
"Independentemente da
política realizada para a educação, não vamos ter resultados imediados. O
resultado de políticas públicas acontece em duas ou três gerações", diz
André Luiz Sacconato, analista da Brain. "Existe um buraco entre os
resultados de políticas e o que o Brasil necessita hoje. Os imigrantes viriam
para suprir essa lacuna." Outro benefício, de acordo com a Brain, são os
empregos criados a partir da importação de profissionais. Cada profissional
estrangeiro empregado no Brasil poderia gerar entre 1,3 e 4,6 empregos para
brasileiros.
"Temos claramente obras
paradas porque não tem engenheiro civil. Quando se coloca um engenheiro civil
lá, se gera emprego para mestres de obras e outros. Isso é bom para a
economia", afirma Sacconato. "É algo complicado, vai mexer com
sindicatos e associações de classe. Mas não queremos tirar o emprego de
ninguém, são empregos complementares."
Discordâncias
Atualmente, segundo o Ministério
do Trabalho e consultorias, a maior parte dos estrangeiros que obtém o visto de
trabalho brasileiro são profissionais qualificados para as indústrias de
extração de petróleo e construção civil - especialmente obras de
infraestrutura.
Mas o presidente da Federação
Nacional dos Engenheiros, Murilo Pinheiro, questiona que haja falta de
engenheiros locais para atender à demanda. "A demanda por profissionais
nessas áreas realmente aumentou, mas não está faltando. Se for preciso trazer
um engenheiro de uma matéria que não existe aqui, (a importação) é de fato
interessante, mas não entendo a necessidade de trazer amplamente engenheiros
civis", disse Pinheiro à BBC Brasil.
O presidente da Federação
Nacional dos Arquitetos, Jeferson Salazar, afirma que apesar da demanda, o
setor público não absorve a quantidade de profissionais que chegam ao mercado a
cada ano – cerca de 7 mil. "Nos últimos 25 anos, o número de escolas no
Brasil cresceu 6 vezes. A quantidade de jovens arquitetos com subemprego ou
desempregados no país é imensa e o governo não tem nenhum plano para utilizar
esse exército de mão de obra", disse à BBC Brasil.
"Sou a favor da vinda de
alguns profissionais qualificados que possam contribuir com o desenvolvimento
da arquitetura no Brasil. Esses profissionais serão bem-vindos se trouxerem
contribuições." A medicina, segundo Marcelo Neri, é a área que mais se
enquadra na ideia de um apagão de mão de obra, a julgar pelos indicadores de
mercado. Entretanto, o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Geraldo
Ferreira, afirma que o número atual de profissionais no Brasil – cerca de 1,9
médicos para cada mil pessoas – é capaz de atender o mercado nacional, na
condição de que sejam criadas melhores estratégias de distribuição de
profissionais e planos de carreira no setor público.
"A presidente está fazendo o
planejamento estratégico de elevar o número para 2,4 médicos para mil
habitantes. Realmente, para atingir isso hoje, faltam médicos. Mas se o
planejamento é para atingir essa meta em 2020, nossa avaliação é diferente da do
governo, que trabalha com a ideia de que teríamos que importar médicos",
disse Ferreira à BBC Brasil. "Com o lançamento de 17 mil médicos por ano
no mercado, acreditamos que teríamos isso, sim. O que precisamos é melhorar a
atratividade do setor público no Brasil para mantê-los lá. Injetar
profissionais não vai necessariamente resolver os problemas", disse à BBC
Brasil.
Campanhas para atrair médicos
estrangeiros para o setor público já existem em diversos Estados brasileiros.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/04/130416_brasil_imigrantes_cc.shtml
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/04/130416_brasil_imigrantes_cc.shtml
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