Do Terra – 30/08/2013
O presidente da Bolívia, Evo
Morales, garantiu na sexta-feira, dia 30 de agosto, que "nenhum
grupo" conseguirá fazê-lo entrar em conflito com a presidente Dilma
Rousseff, e afirmou que tentará solucionar com ela, através do diálogo e com
"maturidade política", a crise diplomática aberta entre ambos os
países por conta da saída do senador boliviano Roger Pinto Molina.
"Tantos problemas se
apresentam (com o Brasil) e resolvemos. Resolvemos mediante o diálogo direto às
vezes de presidente com presidente. Vamos buscar esse caminho certamente",
prometeu Morales em entrevista coletiva em Paramaribo, onde participa da cúpula
da União das Nações Sul-americanas (Unasul).
Em sua opinião, existem
"alguns grupos no Brasil que querem um conflito", mas "não vão
conseguir", porque "somos presidentes eleitos" e existe uma
"maturidade política" em ambas as partes.
Os dois líderes se reuniram na
sexta, dia 30, para tratar da crise aberta por causa da saída do senador Roger
Pinto da Bolívia, que estava asilado na embaixada do Brasil em La Paz desde
maio de 2012, sem o respectivo salvo-conduto e com a cumplicidade de um
diplomata brasileiro. Roger Pinto conseguiu deixar a Bolívia e entrar no Brasil
no último sábado, o que provocou a saída de Antonio Patriota do Ministério das
Relações Exteriores.
O presidente boliviano pediu na
quarta-feira, dia 28, que o governo brasileiro mandasse o senador de volta à
Bolívia para que ele possa responder às acusações de corrupção contra si. O
governo boliviano exigiu "explicações" do Brasil pela saída do
senador, a quem classificou como "foragido", já que foi condenado em
um processo por corrupção e é réu em outros casos, mas ao mesmo tempo assegurou
que esse episódio não vai afetar as relações "estreitas" entre os
dois países.
"Eu não tenho que julgar o
embaixador ou ex-embaixador do Brasil na Bolívia. É um tema interno do Brasil.
Quero ser muito responsável. Agora, nós nunca consideramos que Roger Pinto era
um asilado político. Repito novamente: é um criminoso que tem que ser julgado
pela Justiça", defendeu Morales. "É importante que todos os governos,
não só da América do Sul, da América Latina e do Caribe, mas do mundo inteiro,
contribuam na luta contra a corrupção", disse.
Segundo Morales, "às vezes a
classe política se desgasta porque em alguns países há abusos de poder e
corrupção", mas "nenhum governo pode proteger ou acobertar
corruptos". "Nosso grande interesse é certamente que nos devolvam os
acusados para serem submetidos à Justiça boliviana, pela via jurídica ou pela
política. Isso é o que quer o governo nacional", defendeu.
Morales detalhou que o encontro
previsto entre ambas as partes para hoje não é só para abordar esse tema, mas
"outros temas e acordos que precisamos revisar". O presidente
boliviano também mencionou o conflito que o Equador mantém com a companhia
petrolífera Chevron que já dura cerca de duas décadas e que a empresa levou
para um tribunal internacional de arbitragem. Morales disse "admirar a
luta justa" do presidente equatoriano, Rafael Correa.
"Quem não é vítima das
transnacionais?", perguntou o líder boliviano durante a entrevista
coletiva, na qual expressou "toda" sua "solidariedade e
apoio" ao governo equatoriano. Morales afirmou que "não é possível
que as empresas, petrolíferas especialmente, estejam acima de nossas
constituições e políticas de Estado. Não aceitaremos isso".
Além disso, lamentou que
"quase sempre que enfrentamos as transnacionais (no âmbito doméstico) nós
ganhamos", mas quando "somos levados aos tribunais internacionais,
são sempre as empresas que ganham, nunca os Estados. Isso é um erro".
"Os investidores do exterior, da Europa e dos EUA, querem em primeiro
lugar segurança jurídica para o seu dinheiro e para suas empresas, não para a
pátria e o povo", criticou Morales.
Por isso, defendeu a ideia de que
Unasul discuta formas de se garantir que "países e investidores que vêm de
fora respeitem nossas legislações nacionais primeiro".
Confira o pequeno debate realizado pelo Jornal da Cultura sobre a questão da Bolívia, com Maristela Basso, professora da Faculdade de Direito da USP e Carlos Novaes, cientista político:
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