Do G1 – 29/08/2013
O ex-aluno da Universidade de São
Paulo (USP), em São Carlos, que invadiu um alojamento do campus na noite de
quarta-feira, dia 28, e efetuou alguns disparos, relatou ao G1 por telefone na
quinta-feira (29) que sofre bullying dos estudantes na universidade e na
internet há pelo menos seis meses, depois que denunciou ter sofrido um suposto
abuso sexual em um trote. Ele afirmou que foi armado à universidade porque
estava com raiva. "Eu estava totalmente desequilibrado", disse.
A Polícia Civil pediu a prisão
temporária do jovem, que continua foragido. A USP informou, em nota, que vai
reforçar a segurança na universidade com a ajuda da Polícia Militar a partir da
sexta-feira (30). Os estudantes do alojamento estão com medo de voltar ao
local.
Bullying
Segundo o rapaz de 23 anos, os
alunos utilizavam as redes sociais para pressioná-lo. “Isso persistiu até a
semana passada (dia 19). Faziam palhaçadas com a minha foto e brincadeiras sem
graça com fotos de animais. Eu estava tentando preservar o que restava da minha
imagem”, contou.
O ex-aluno do curso de ciências
exatas, que trancou a matrícula após o episódio ocorrido em março, disse ainda
que também sofria ameaças e difamações quando postava alguma crítica no
Facebook em relação à situação que vivenciava. “Dei minha opinião em um dos
grupos sobre determinado assunto e disseram assim: ‘estupra, mas não mata’, se
referindo a mim”, contou.
O estudante disse que ficou cada
vez mais revoltado com a hostilidade sofrida. Ele também afirmou que estava bem
depressivo pelo fato de ter abandonado a faculdade. “Nem sou mais aluno e mesmo
depois de ter saído continuaram me perseguindo. Eles sabiam que isso chateava,
eu pedia para parar, mas não paravam”, relatou.
Ele também acusou a universidade
de ser omissa diante dos casos de violência. "A violência dentro da USP é
uma coisa bastante descarada, vulgar. A universidade tem conhecimento disso,
mas não toma providência, é bastante negligente. Foi um dos motivos que me fez
desistir da universidade", afirmou. Procurada pelo G1, a USP não comentou
as acusações.
Tiros
O ex-aluno disse que foi à
universidade durante a tarde da quarta-feira, dia 28, para acessar a internet
do local. Ao chegar, se deparou com um dos estudantes que, segundo ele,
participou das agressões no alojamento seis meses atrás. “Ele foi bastante
hostil comigo e tivemos um bate-boca”, relatou.
Segundo o ex-aluno, ele foi para
casa com raiva e à noite voltou à USP, armado. Ele se recusou a falar quando e
como conseguiu o revólver. Na universidade, disse ter encontrado outro
estudante que também participou do incidente no alojamento. O rapaz acabou
levando uma coronhada porque desobedeceu a ordem de ficar parado.
“Ele fez um movimento brusco e me
assustei. Eu estava com arma abaixada, não apontada. Foi uma forma de
intimidar. Eu não pensava em atirar. Dei uma coronhada e acabou disparando. O
primeiro foi acidental, depois o pessoal começou a correr, disparei mais duas
vezes. Na minha cabeça passou pouca coisa aquela hora, a consciência mesmo
estava nula. Não pensava em muita coisa”, contou.
O ex-aluno disse que atirou para
o alto sem mirar em ninguém, mas que tomaria outra atitude como reação de
defesa caso tentassem tomar a arma dele. Disse ainda que foi a primeira vez que
atirou. Os disparos acertaram as paredes e as janelas do alojamento, mas não
atingiram ninguém. O estudante que levou a coronhada foi socorrido à Santa Casa,
medicado e liberado.
“Eu não estava mais respondendo
por mim. Quando atirei não, pensei em nada, estava totalmente desequilibrado.
Eu me sinto vítima, não tenho culpa disso. Se estou desequilibrado, é porque o
pessoal não para de me atormentar", declarou.
Fuga
O estudante contou que após a
ação fugiu de bicicleta para Araraquara, que fica a 43 quilômetros de São
Carlos, e que dormiu sentado na rodoviária. “Tentei procurar um hotel para
ficar, mas não achei nenhum de custo acessível. Comi um lanche, estava com
pouco dinheiro, fiquei até certo horário e depois peguei um ônibus”, relatou.
Ele afirmou que se desfez da arma, mas não deu detalhes.
O jovem disse que não falou nada
para o pai, que mora na capital, porque ele sofre com problemas de saúde. Para
a mãe, contou apenas que aconteceu algo, mas sem se aprofundar.
O estudante ressaltou que não irá
se apresentar à polícia até ligar para a universidade nos próximos dias para
fazer algumas cobranças, principalmente em relação ao que foi apurado na
sindicância sobre o susposto abuso.
“Eu torço para que as pessoas que
cometeram o erro se arrependam porque estão me dando esse transtorno há muito
tempo, o que mexe com o meu psicológico. É divertido para eles ficar me
aborrecendo”, concluiu.
Suspensão
das aulas e segurança
A Universidade de São Paulo (USP)
suspendeu as aulas de graduação em São Carlos na quinta-feira (29), para
garantir a segurança dos estudantes. Em nota, divulgada durante a tarde, a
assessoria de imprensa informou que, após uma reunião entre dirigentes do
campus e a PM, foi decidido que a segurança será intensificada.
"Como providência imediata,
foi definida a intensificação da fiscalização e do patrulhamento no interior e
ao redor do campus, através do trabalho conjunto entre a Superintendência de
Prevenção e Proteção Universitária da USP e a Polícia Militar, tendo como
objetivo uma maior percepção de segurança", diz um trecho da nota.
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