Do Pragmatismo Político –
30/08/2013
No último dia 14 de junho,
enquanto as atenções estavam voltadas para os protestos nas ruas de São Paulo,
o Diário Oficial do Estado publicou a compra – sem licitação – de 5.200
assinaturas semestrais da revista Veja para serem distribuídas nas escolas da
rede pública. O valor contratado foi de R$ 669.240,00, a ser desembolsado em
nome da Fundação para o Desenvolvimento da Educação, órgão do governo estadual.
Há anos os governos tucanos
paulistas recebem duras críticas pela compra em grande volume destas revistas e
jornais. As críticas começam pela dispensa de licitação, afinal há pelo menos
outras três revistas semanais no Brasil que concorrem com a Veja.
A linha editorial da publicação
é, digamos assim, a mais simpática ao governo paulista e hostil à oposição
dentro do estado. E isso atrai questionamentos aos governadores tucanos da vez,
sobre haver mais interesse político próprio do que público nesta compra.
Outro ponto polêmico é se a
revista é realmente adequada para ser direcionada ao ambiente escolar, tantas
são as polêmicas em torno de suas reportagens. E não me refiro apenas aos
diversos casos que ensejaram processos e condenações, seja de indenização por
danos morais, seja de direitos de resposta.
Há também casos de reportagens
contestadas e repelidas pelo meio acadêmico e científico, inclusive um caso de
apologia ao consumo de remédios para emagrecer que haviam sido proibidos pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). E lembremos que, no ano
passado, a revista esteve envolvida com o escândalo do bicheiro Carlinhos
Cachoeira, cujas interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça captaram
diálogos que sugerem estreita proximidade entre o alto escalão da Veja, bem
acima do recomendável e até hoje mal explicada.
Com esse perfil editorial, que
não podemos chamar de educativo, seria melhor o governador Geraldo Alckmin
deixar que quem a queira ler que a compre, em vez de fazer distribuição
compulsória para escolas com dinheiro público.
Além disso, a revista sequer está
direcionada para a faixa etária dos estudantes. A própria editora Abril
publica, em seu perfil dos leitores que apenas 11% têm mais de dez e menos de
19 anos. A maior fatia de leitores tem mais de 50 anos.
Mesmo que não existisse nenhum
dos argumentos anteriores, recente pesquisa da Fundação Perseu Abramo registrou
que 37% dos entrevistados se informam pela internet, contra 24% por revistas
impressas. A pesquisa ouviu 2,4 mil pessoas de todas as idades acima de 16
anos. Se fosse refeita só com a faixa etária de estudantes até o ensino médio,
a diferença a favor da internet seria muito maior, pois as novas gerações usam
intensamente as redes. Por isso, o mais provável é que grande parte dos
exemplares comprados para as escolas fiquem encostados em vez de serem lidos
pelos alunos, o que revela um mau gasto de dinheiro público.
Enfim, a decisão de continuar
comprando estas assinaturas é muito boa para os interesses empresariais dos
donos da revista, inclusive sustentando a tiragem artificialmente, o que segura
o preço dos anúncios. Pode ser boa também para os interesses políticos do
governador, mas é péssima para os cofres públicos paulistas e para os
estudantes das escolas públicas.
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