Do Brasil247 – 12/01/2014
Em janeiro de 1989, ainda no
governo do ex-presidente José Sarney, foi promulgada a Lei 7.716, que define os
crimes de preconceito de raça ou de cor. O artigo quinto é claro e define como
crime "recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a
servir, atender ou receber cliente ou comprador". As penas de reclusão
variam de um a três anos.
Foi exatamente isso o que ocorreu
no dia 10 de janeiro no shopping JK Iguatemi, do empresário Carlos Jereissati,
quando seguranças do shopping fizeram uma triagem para definir quem poderia
entrar e quem deveria ficar de fora – no segundo grupo, estariam todos aqueles
que tivessem aparência de jovens da periferia, ou seja, pardos ou negros.
Cientes de que não poderiam
discriminar clientes de forma tão explícita – até porque a lei 7.716 é clara e
tem penas severas –, os donos do shopping só conseguiram fazer a triagem porque
obtiveram uma liminar judicial. Ou seja: o preconceito foi respaldado pela
Justiça. Temia-se que jovens da periferia realizassem no JK Iguatemi, Meca do
luxo, em São Paulo, um "rolezinho" – manifestação que afirma a
identidade desses jovens e tenta mostrar para a sociedade que não são
invisíveis ou cidadãos de segunda classe. No entanto, com a liminar, a Justiça
contribuiu para que fosse erguida, em São Paulo, a muralha do preconceito.
Diante disso, o blogueiro Eduardo
Guimarães, colunista do 247, afirma que um direito constitucional dos jovens da
chamada nova classe média foi violado. E o sociólogo Rudá Ricci compara o
rolezinho ao movimento "occupy" – a diferença é que, desta vez, exercido
por cidadãos da periferia.
Tão grave quanto o ocorrido no JK
Iguatemi foi o desfecho do "rolezinho" no shopping Itaquera, na zona
leste de São Paulo. Lá, os jovens foram agredidos com cassetetes e balas de
borracha pela polícia, sem que tivesse havido qualquer registro de violência.
No sábado, dia 18, haverá um novo
"rolezinho" no shopping Itaquera. No JK, a liminar ainda impede a
entrada de todo e qualquer menor desacompanhado – a menos que convença os
seguranças que não tem tipo de jovem da periferia. Ou seja: a justiça consagrou
o apartheid brasileiro.
O que também comprova o atraso do
País na promoção da igualdade. Em 11 de junho de 1963, quando negros eram
impedidos de frequentar os mesmos estabelecimentos comerciais dos brancos, nos
Estados Unidos, o então presidente John Kennedy fez um de seus mais importantes
discursos. Disse o básico: que todos os cidadãos americanos, independente da
cor ou da aparência, têm direito de frequentar os mesmos estabelecimentos.
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