Imprensa
Marrom
Pouca gente sabe o berço dessa
expressão que designa o jornalismo sensacionalista. Surgiu inspirada na
expressão americana yellow press, que
apareceu no final do século 19 quando dois jornais novaiorquinos disputavam a
primazia de publicar, com exclusividade, a tira de histórias em quadrinhos As
Aventuras de Yellow Kid, o herói amarelo. A baixaria foi tão grande que o
amarelo do nome do cobiçado personagem virou sinônimo de imprensa sem
escrúpulos.
Em 1959, o jornalista Alberto
Dines, ao produzir matéria sobre o suicídio de um cineasta que vinha sendo
chantageado por uma revista com o sugestivo nome de Escândalo - useira e
vezeira em extorquir dinheiro de pessoas fotografadas em situações
comprometedoras - deu-lhe o título de "Imprensa Amarela Leva Cineasta ao
Suicídio". Imediatamente o chefe de reportagem do veículo, Calazans
Fernandes, fez o ácido comentário: “O amarelo é uma cor bonita, está até na
bandeira nacional. Não merece ser usado numa notícia como essa. Vamos mudar
para o marrom, que é escuro e lembra sujeira”.
Imprensa
chapa-branca
O debate sobre o jornalismo é
antigo e já tem resposta: a lei deve garantir que a imprensa seja livre. A
qualidade da informação depende da sociedade e – me perdoem o palavrão – do
mercado.
Considerem, por exemplo, a
imprensa chapa-branca, aquela que vive do dinheiro do governo, transferido via
publicidade ou benefícios fiscais. O jornalismo que sai daí obviamente não é
livre. Do mesmo modo, as empresas que o veiculam não têm consistência econômica
– pois não sobrevivem fora das verbas públicas, cuja doação depende dos
governantes de plantão – e, assim, também não podem ser independentes e
isentas.
É engraçado: a imprensa
chapa-branca produz jornalismo marrom – que privilegia uma determinada visão
dos fatos, aquela sustentada pelo seu patrocinador. Além do governo, o
patrocinador pode ser um partido, um político ou uma igreja, conforme se vê na
experiência brasileira dos últimos tempos. O que há de comum entre todos é a vinculação
com alguma instância de governo, municipal, estadual e/ou federal.
O que distingue essa imprensa
daquela livre e independente é o público e, de novo, o mercado. Jornalismo é
caro. Por isso, produzir e veicular notícias tem que ser encarado como um
negócio e uma missão.
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