São Paulo - Dar continuidade ao
processo de recuperação do dependente químico após o período de estabilização é
o objetivo do Cartão Recomeço, lançado hoje (9) pelo governo estadual, que vai conceder
R$ 1.350 por mês para custear a permanência de até 180 dias em comunidades
terapêuticas.
"É uma iniciativa inovadora
e, tecnicamente, muito consistente. Primeiro a pessoa estabiliza e depois ela
precisa de alguns meses para recuperar a dignidade, readquirir alguns
valores", explicou o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador do
programa e professor titular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Laranjeira destaca que essa é uma
etapa complementar ao período clínico. "O tratamento da dependência
química, especialmente do crack, não se resume a um ou dois meses de
internação. Você vai precisar de uma série de medidas. Um suporte para a pessoa
recuperar o trabalho, a vida social. Esse é um processo mais complexo e tem que
ser feito", disse. Para ele, esse trabalho pode ser assumido por entidades
já qualificadas para esse tipo de atendimento.
O governador Geraldo Alckmin
lembrou que o crack chegou ao Brasil no início dos anos 1990 e, em menos 25
anos, já tem caráter epidêmico. "O custo [do crack é menor] e [ele] é uma
droga que vicia rapidamente. Além disso, traz consequências do ponto de vista
da segurança. Estamos colhendo as consequências disso e não é permitido ao
Estado se omitir diante de uma situação dessa", avaliou.
Alckmin destacou que, nessa
ampliação do programa de enfrentamento ao crack, não serão credenciados
hospitais, pois isso continua a ser responsabilidade do governo. "Estamos
cuidando da parte social", explicou.
O estado dispõe de 1.004 leitos
hospitalares exclusivos para tratamento de dependentes químicos, segundo o
governo estadual. Com o cartão, o governo espera atender até 3 mil pessoas em
comunidades terapêuticas, que funcionará como uma etapa seguinte à internação.
Os recursos serão repassados à entidade, não havendo possibilidade do paciente
acessá-los diretamente. Para participar do programa, os pacientes devem buscar
os centros de Atenção Psicossocial (Caps), sob responsabilidade dos municípios.
A expectativa é que o cartão
comece a funcionar em até 60 dias, em 11 cidades: Diadema, Sorocaba, Campinas,
Bauru, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, São José dos
Campos, Osasco, Santos e Mogi das Cruzes. "O cartão veio como uma forma de
agilizar a ampliação do programa para o interior", disse Rodrigo Garcia,
secretário de Desenvolvimento Social, órgão responsável pelo credenciamento das
instituições e pelo monitoramento das ações.
O credenciamento das comunidades
terapêuticas para receber os recursos do cartão será feito por edital. Segundo
Garcia, as instituições deverão obedecer algumas regras, como manter um
departamento de recursos humanos com assistentes sociais, psicólogos e oficineiros.
"Ao lado dos serviços que ela vai prestar, nós exigimos as
instalações". Garcia informou que existem pelo menos 130 comunidades no
estado que podem se qualificar para o atendimento.
De acordo com o secretário, já
existe na capital esse modelo de atendimento, proporcionado pelo convênio
direto com as comunidades terapêuticas. "É um modelo próprio. Temos hoje
270 vagas em 13 entidades diferentes localizadas no entorno de São Paulo".
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