Da BBC Brasil – 16/01/2014
Um encontro de adolescentes,
convocado pelas redes sociais, realizado dentro de um shopping center - e que
acabou em confusão e confrontos com a polícia.
A descrição, que poderia servir
para um "rolezinho" em São Paulo, é na verdade de um "flash mob" ocorrido em 26 de
dezembro no Brooklyn, em Nova York.
Assim como no Brasil, esses
episódios têm despertado debates sobre o papel dos shopping centers, o direito
de se reunir no local e as motivações desses jovens.
No Brooklyn, o Kings Plaza
Shopping Center foi palco de um encontro de ao menos 300 jovens, convocados
pelas redes sociais. Testemunhas disseram à imprensa local que eles gritavam,
empurravam transeuntes e roubaram lojas. O shopping acabou fechando as portas
por uma hora, informa o New York Post.
No dia seguinte, menores de idade
não acompanhados de adultos foram barrados do local, despertando críticas dos
que se sentiram tolhidos pela medida - e que queriam apenas fazer compras - e
elogios dos que temiam novas cenas de confusão.
Dezenas de incidentes parecidos
ocorreram em outras cidades americanas nos últimos anos. Em Chicago, em abril
passado, centenas de jovens se juntaram no centro da cidade, convocados pelas
redes sociais, e o episódio acabou em briga; a imprensa americana traz relatos
parecidos de "flash mobs"
realizados no mesmo mês no centro da Filadélfia e, em 2012, em uma loja do
Walmart em Jacksonville, na Flórida.
Em 2011, também na Filadélfia, a
prefeitura estabeleceu um toque de recolher para adolescentes, impedidos de
ficar nas ruas após as 20h ou 22h (dependendo da idade dos jovens), na
tentativa de evitar os encontros.
Não está claro se esses "flash mobs" em questão foram
organizados com fins violentos, mas a maioria das reuniões - assim como no
Brasil - ocorreu pacificamente.
'Formas
de se expressar'
Um episódio do tipo ocorrido em
agosto de 2011 em Kansas City - e que resultou em três jovens feridos a tiros -
levou um grupo de acadêmicos do Consórcio Educacional da cidade a pesquisar o
fenômeno.
Após entrevistar 50 dos
adolescentes que participaram do episódio, em 2012, uma das conclusões foi a de
que os jovens "estão buscando formas de se expressar enquanto se conectam
com outros (pela internet)" - e que qualquer ação oficial para lidar com o
fenômeno deve levar isso em conta.
"Os jovens se envolveram em 'flash mobs' para se expressar, chamar
atenção, serem vistos e lembrados e se expressarem", diz a pesquisa.
Além disso, afirmam os
pesquisadores, esses jovens estão "entediados" - e sua interação no
mundo digital, onde os "flash mobs" são organizados, é uma importante
forma de diminuir o tédio.
Por isso, toques de recolher como
os implementados nos EUA terão pouca eficácia se não forem combinados "com
atividades alternativas, acessíveis e divertidas" e incentivos a "flash mobs do bem", sem atitudes
violentas.
Ao mesmo tempo, muitos desses
jovens também lidam com limitações econômicas, moram em bairros violentos ou
negligenciados e se queixaram que só foram parar no noticiário quando ocuparam
espaços centrais de Kansas City.
Questões
sociais
O debate americano tem se
estendido também para questões raciais e sociais.
O New York Times destacou que a
maioria dos jovens que participaram de um "flash mob" na Filadélfia em 2010 eram negros, de bairros
pobres, e agiram em bairros predominantemente brancos.
Em contrapartida, críticos dizem
que a polícia alvejou sobretudo jovens negros quando agiu para conter
distúrbios.
A ONG Public Citizens for Children and Youth, de apoio à juventude da
Filadélfia, levantou na época a possibilidade de episódios do tipo serem uma
consequência no corte de verbas a programas sociais que mantinham os jovens
ocupados após as aulas.
"Precisamos de mais empregos
para os jovens, mas programas pós-aulas, mais apoio dos pais", disse a ONG
ao New York Times.
Articulistas também debatem -
assim como no Brasil - o papel dos shopping
centers em subúrbios dos EUA, alegando que faltam espaços públicos
comunitários, e citam a desilusão geral dos jovens com outros tipos de
engajamento político ou social.
"É um grupo de jovens que
sente raiva e impotência, e tenta obter um senso de poder", disse à CNN o
psicólogo Jeff Gardere.