A partir da
coletânea a seguir e das ideias de que você dispuser, desenvolva uma
dissertação-argumentativa sobre o tema:
Formação social brasileira e o futebol
Atenção: atribua a
seu texto o título “Futebol, o país do Brasil”
Apresentação
do tema - Formação social brasileira. Tratar de formação social
brasileira não é coisa simples. O Brasil é um país de grandes contrastes
regionais e de multiplicidade cultural, ou seja, é muito complexo e difícil
denominar o que é o Brasil tomando apenas uma perspectiva. Contudo, um ponto de
partida apresentado pelo antropólogo Roberto Damatta é por demais valioso: “o
que faz o brasil, Brasil?”.
Não se desanime.
O futebol é um
ótimo catalisador para o tema, já que envolve essa complexidade. Apesar de se
fazer presente em nossa nação somente no século XIX, esse esporte a envolveu de
maneira tal que é impossível falar de Brasil sem espiar pela sua fechadura.
A seguinte
coletânea de textos foi elaborada com recortes textuais que demonstram algumas
facetas do futebol brasileiro e como tal esporte perpassa nosso cotidiano, os
textos buscam tratar de como tal esporte faz sentido em nossas vidas, e hora ou
outra, de nossas reais preocupações.
Nexos
importantes sobre as razões do interesse dos brasileiros pelo futebol:
- futebol libera
tensões
- futebol é uma
forma de afirmação
- futebol é meio
de fuga de frustração
- futebol é fonte
de alegria
- futebol é meio
de ascensão social das classes populares.
Prelúdio
O futebol é um ramo da arte, eu chamaria de arte
popular.
(É uma partida de futebol – Skank).
“Balão subindo,
descendo, vai saltando Pelé, Pelé cabeceia, levantou para Coutinho, Coutinho
dominou, passou por um contrário, tenta devolver para Pelé, a bola é rechaçada,
volta para Coutinho, domina, faz o breque, escapa de Amaro, virou, tenta o
tiro, chutou para o gol, defendeu Heitor, largou vai para escanteio. Um bonito
tiro de virada de Coutinho, Ênnio (Ênnio Rodrigues, comentarista da equipe de
Fiori).
Quem
recebe, entretanto, é o santista zagueiro Ismael, Ismael dominou, parou em cima
da intermediária corintiana, vai levantar, ergueu para a boca do gol, sobe
Pelé, deixou para Coutinho, preparou, chutou, é goooooooooooool!!!!” (Narração
de Fiori Giglioti (1928-2006). Rádio Bandeirantes; Radio Record AM).
Para
“matar a coletânea no peito” e “enfiar para o gol”:
Para explicar o papel que o futebol representa no
Brasil, temos que admitir uma combinação entre as exigências técnicas do futebol
e as características sócioculturais do povo brasileiro. O futebol seria, ao
mesmo tempo, um modelo da sociedade brasileira e um exemplo para ela se
apresentar. Em outras palavras, o futebol constituir-se-ia, por um lado, numa
imagem da sociedade brasileira e, por outro, num exemplo que daria a ela um
modelo para se expressar. O homem brasileiro comportar-se-ia na vida como num
jogo de futebol, com chances de ganhar ou perder - e às vezes empatar -, tendo
que se defrontar com adversários, tendo que respeitar certas regras, mantendo
respeito por uma autoridade constituída, jogando dentro de um tempo e de um espaço,
marcando e sofrendo gols, fazendo jogadas de categoria e cometendo erros
fatais. Após uma derrota, haveria sempre a chance de se recuperar no próximo
jogo.
É nesse sentido que Roberto DaMatta - um estudioso
do futebol como fenômeno cultural brasileiro - afirma que cada sociedade tem o
futebol que merece, já que deposita nele uma série de questões e demandas que
lhes são relevantes. Assim, o futebol brasileiro não é apenas uma modalidade
esportiva com regras próprias, técnicas determinadas e táticas específicas; não
é apenas manifestação lúdica do homem brasileiro; nem tampouco é “o ópio do
povo”, como preferem alguns. Mais que tudo isso, o futebol é uma forma que a
sociedade brasileira encontrou para se expressar. É uma maneira de o homem
nacional extravasar características emocionais profundas, tais como paixão,
ódio, felicidade, tristeza, prazer, dor, fidelidade, resignação, coragem,
fraqueza e muitas outras.
Pois não é no futebol que o torcedor machão chega
às lágrimas, tanto de alegria como de tristeza? Não é no futebol que a gente
aprende que após uma seqüência de derrotas virá a redentora vitória? Não é no
futebol que se aprende que não se pode comemorar antes que o juiz apite o final
do jogo? Não é o futebol que ensina que não se pode entrar em campo de salto
alto? Não é o futebol que ensina que não se deve subestimar o adversário? Não é
o futebol que, por vezes, faz todas as emoções extrapolarem desordenadamente
levando a confrontos físicos com torcedores adversários?
É por esse viés que falamos das contradições do
futebol brasileiro, apenas aparentes se procurarmos compreender a lógica
cultural desse importante fenômeno nacional. Não é o Brasil o país dos
contrastes e das ambiguidades? Um país cujo povo consegue conciliar
criativamente a superstição com a religiosidade e a ciência. Um país que, entre
o não e o sim, entre o pode e o não pode, descobriu o jeitinho brasileiro como
forma de vida. Um país que encontrou no futebol sua melhor tradução, fazendo
dele uma de suas maiores expressões.[1]
Coletânea.
Texto 1. (1938). “Foot-ball
mulato”. Jornal Diário de Pernambuco,
17 de Junho. Gilberto Freyre.
[...] nosso futebol
mulato, com seus floreios artísticos cuja eficiência - menos na defesa que no
ataque - ficou demonstrada brilhantemente nos encontros deste ano com os
poloneses e os tcheco-eslovacos, é uma expressão de nossa formação social,
democrática como nenhuma e rebelde a excessos de ordenação interna e externa; a
excessos de uniformização, de geometrização, de estandardização; a
totalitarismos que façam desaparecer a variação individual ou espontaneidade
pessoal.
No futebol, como na política, o
mulatismo brasileiro se faz marcar por um gosto de flexão, de surpresa, de
floreio que lembra passos de dança e de capoeiragem. Mas sobretudo de dança.
Dança dionisíaca. Dança que permita o improviso, a diversidade, a
espontaneidade individual. Dança lírica. Enquanto o futebol europeu é uma
expressão apolínea de método científico e de esporte socialista em que a ação
pessoal resulta mecanizada e subordinada à do todo - o brasileiro é uma forma
de dança, em que a pessoa se destaca e brilha. (Adaptado de FREYRE, G. apud
FRANZINI, F. No campo das idéias:
Gilberto Freyre e a invenção da brasilidade futebolística. Buenos Ayres:
Lecturas: Educación Física y Deporte. Ano 5 nº 26 - Revista digital
(http://www.efdeportes.com), 2000.)
Texto 2. O
Mulatismo Flamboyant: Apropriações do futebol como expressão da formação social
brasileira.
O esporte moderno é um território repleto de
mitos poderosos, que cria e recria em uma base diária os heróis épicos e
histórias, construindo uma das culturas mais
influentes na era globalizada. Alguns esportes (entre os quais o
Futebol) se tornaram mais do que meros
jogos. Eles brilham com luz própria, e se transformaram, ao longo do século passado, em lúdicos rituais
religiosos de enormes proporções que, cada vez
mais fortemente, exercem uma forte influência na construção da
identidade nacional contemporânea.
O processo de
construção de uma nação é um tecido formado por diferentes tendências políticas, econômicas e sociais
ancoradas em símbolos, rituais e práticas que unem a população em celebrações
periódicas com um forte sentido de coletividade. E hoje, as comemorações do futebol participam
ativamente na formação e no reforço do
sentimento de coletividade, a nação, o "nós" que está
localizado superficialmente e além das
consciências individuais.
O caso do Brasil,
um dos muitos estados-nação onde o futebol é vivido à escala religiosa, é um bom exemplo de como esse
esporte (metáfora de guerra e luta pelo poder
social), e as ações que o cercam e onde é desenvolvido, foi transformado
em um recipiente enorme de signos
através dos quais podem ser vislumbrados alguns dos segmentos que tecem e formam a imagem
nacional. O futebol é mais que um jogo no
Brasil. É, como no título do livro de Alex Bellos (2002), "o meio
de vida do brasileiro”. Brasileiros
jogam futebol em cada rincão do país: na escola, nas praias, nas ruas, nas
favelas, nos condomínios e até entre os carros. A partir de formatos de lazer,
criam torneios e campeonatos organizados, desde o básico até os níveis
profissionais, que envolvem grandes quantidades de patrocínio e dinheiro. O futebol
é destaque em qualquer tipo de mídia, todos os dias. O país para durante a Copa
do Mundo. Escolas, bancos e os tribunais são fechados. Todos estão assistindo
"o jogo".
No contexto
brasileiro, a análise das comemorações de futebol permite uma abordagem
privilegiada para o processo de construção da identidade nacional (...). (TIAGO J. F. DE ALBUQUERQUE MARANHÃO - Anais do XXVI Simpósio Nacional de História
– ANPUH • São Paulo, julho 2011)
Texto
3. Como se tornar um
jogador de futebol (Revista Infanto-juvenil
– Mundo Estranho – Ed. Abril).
Não basta saber fazer umas embaixadas e
uns dribles parecidos com os do Ronaldinho. Para ser um craque profissional no
Brasil é preciso vencer uma peneira de altíssimo nível. (Artur Louback Lopes -
Edição 48)
Texto 4. Jovens buscam ascensão
social nos gramados
A maioria dos garotos de origem pobre no Brasil sonha em ser jogador
de futebol. Afinal, num país com a oitava pior distribuição de renda do
mundo, as chances de ascensão social são pequenas. A exemplo de jogadores
como Romário e Ronaldo, que vieram de comunidades pobres e rapidamente
ficaram milionários, muitos garotos querem seguir carreira nos gramados. De
acordo com o professor do Instituto de Economia da Unicamp, Marcelo Weishaupt
Proni, o futebol foi e continua sendo uma das poucas formas de ascender socialmente
no Brasil, principalmente porque, segundo ele, “nos últimos 20 anos, as
possibilidades de mobilidade social diminuíram e a recessão econômica que
atingiu o país na década de 80 reduziu as chances de ascensão social”,
diz. (Cauê Nunes – Revista Com
Ciência – Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, 2006)
|
Texto 5 : Carlos Drummond de Andrade
Futebol
se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.
A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas-de-pau.
Mesma a volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
ou no árido espaço do morro.
São vôos de estátuas súbitas,
desenhos feéricos, bailados
de pés e troncos entrançados.
Instantes lúdicos: flutua
o jogador, gravado no ar
- afinal, o corpo triunfante
da triste lei da gravidade.
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.
A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas-de-pau.
Mesma a volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
ou no árido espaço do morro.
São vôos de estátuas súbitas,
desenhos feéricos, bailados
de pés e troncos entrançados.
Instantes lúdicos: flutua
o jogador, gravado no ar
- afinal, o corpo triunfante
da triste lei da gravidade.
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