segunda-feira, 21 de julho de 2014

FUTEBOL, O PAÍS DO BRASIL

A partir da coletânea a seguir e das ideias de que você dispuser, desenvolva uma dissertação-argumentativa sobre o tema:
Formação social brasileira e o futebol

Atenção: atribua a seu texto o título “Futebol, o país do Brasil”

Apresentação do tema - Formação social brasileira. Tratar de formação social brasileira não é coisa simples. O Brasil é um país de grandes contrastes regionais e de multiplicidade cultural, ou seja, é muito complexo e difícil denominar o que é o Brasil tomando apenas uma perspectiva. Contudo, um ponto de partida apresentado pelo antropólogo Roberto Damatta é por demais valioso: “o que faz o brasil, Brasil?”.
Não se desanime.

O futebol é um ótimo catalisador para o tema, já que envolve essa complexidade. Apesar de se fazer presente em nossa nação somente no século XIX, esse esporte a envolveu de maneira tal que é impossível falar de Brasil sem espiar pela sua fechadura.

A seguinte coletânea de textos foi elaborada com recortes textuais que demonstram algumas facetas do futebol brasileiro e como tal esporte perpassa nosso cotidiano, os textos buscam tratar de como tal esporte faz sentido em nossas vidas, e hora ou outra, de nossas reais preocupações.

Nexos importantes sobre as razões do interesse dos brasileiros pelo futebol:

- futebol libera tensões
- futebol é uma forma de afirmação
- futebol é meio de fuga de frustração
- futebol é fonte de alegria
- futebol é meio de ascensão social das classes populares.

Prelúdio
O futebol é um ramo da arte, eu chamaria de arte popular.
(É uma partida de futebol – Skank).

“Balão subindo, descendo, vai saltando Pelé, Pelé cabeceia, levantou para Coutinho, Coutinho dominou, passou por um contrário, tenta devolver para Pelé, a bola é rechaçada, volta para Coutinho, domina, faz o breque, escapa de Amaro, virou, tenta o tiro, chutou para o gol, defendeu Heitor, largou vai para escanteio. Um bonito tiro de virada de Coutinho, Ênnio (Ênnio Rodrigues, comentarista da equipe de Fiori).
Quem recebe, entretanto, é o santista zagueiro Ismael, Ismael dominou, parou em cima da intermediária corintiana, vai levantar, ergueu para a boca do gol, sobe Pelé, deixou para Coutinho, preparou, chutou, é goooooooooooool!!!!” (Narração de Fiori Giglioti (1928-2006). Rádio Bandeirantes; Radio Record AM).
Para “matar a coletânea no peito” e “enfiar para o gol”:
Para explicar o papel que o futebol representa no Brasil, temos que admitir uma combinação entre as exigências técnicas do futebol e as características sócioculturais do povo brasileiro. O futebol seria, ao mesmo tempo, um modelo da sociedade brasileira e um exemplo para ela se apresentar. Em outras palavras, o futebol constituir-se-ia, por um lado, numa imagem da sociedade brasileira e, por outro, num exemplo que daria a ela um modelo para se expressar. O homem brasileiro comportar-se-ia na vida como num jogo de futebol, com chances de ganhar ou perder - e às vezes empatar -, tendo que se defrontar com adversários, tendo que respeitar certas regras, mantendo respeito por uma autoridade constituída, jogando dentro de um tempo e de um espaço, marcando e sofrendo gols, fazendo jogadas de categoria e cometendo erros fatais. Após uma derrota, haveria sempre a chance de se recuperar no próximo jogo.
É nesse sentido que Roberto DaMatta - um estudioso do futebol como fenômeno cultural brasileiro - afirma que cada sociedade tem o futebol que merece, já que deposita nele uma série de questões e demandas que lhes são relevantes. Assim, o futebol brasileiro não é apenas uma modalidade esportiva com regras próprias, técnicas determinadas e táticas específicas; não é apenas manifestação lúdica do homem brasileiro; nem tampouco é “o ópio do povo”, como preferem alguns. Mais que tudo isso, o futebol é uma forma que a sociedade brasileira encontrou para se expressar. É uma maneira de o homem nacional extravasar características emocionais profundas, tais como paixão, ódio, felicidade, tristeza, prazer, dor, fidelidade, resignação, coragem, fraqueza e muitas outras.
Pois não é no futebol que o torcedor machão chega às lágrimas, tanto de alegria como de tristeza? Não é no futebol que a gente aprende que após uma seqüência de derrotas virá a redentora vitória? Não é no futebol que se aprende que não se pode comemorar antes que o juiz apite o final do jogo? Não é o futebol que ensina que não se pode entrar em campo de salto alto? Não é o futebol que ensina que não se deve subestimar o adversário? Não é o futebol que, por vezes, faz todas as emoções extrapolarem desordenadamente levando a confrontos físicos com torcedores adversários?
É por esse viés que falamos das contradições do futebol brasileiro, apenas aparentes se procurarmos compreender a lógica cultural desse importante fenômeno nacional. Não é o Brasil o país dos contrastes e das ambiguidades? Um país cujo povo consegue conciliar criativamente a superstição com a religiosidade e a ciência. Um país que, entre o não e o sim, entre o pode e o não pode, descobriu o jeitinho brasileiro como forma de vida. Um país que encontrou no futebol sua melhor tradução, fazendo dele uma de suas maiores expressões.[1]

Coletânea.

Texto 1. (1938). “Foot-ball mulato”. Jornal Diário de Pernambuco, 17 de Junho. Gilberto Freyre.
 [...] nosso futebol mulato, com seus floreios artísticos cuja eficiência - menos na defesa que no ataque - ficou demonstrada brilhantemente nos encontros deste ano com os poloneses e os tcheco-eslovacos, é uma expressão de nossa formação social, democrática como nenhuma e rebelde a excessos de ordenação interna e externa; a excessos de uniformização, de geometrização, de estandardização; a totalitarismos que façam desaparecer a variação individual ou espontaneidade pessoal.
    No futebol, como na política, o mulatismo brasileiro se faz marcar por um gosto de flexão, de surpresa, de floreio que lembra passos de dança e de capoeiragem. Mas sobretudo de dança. Dança dionisíaca. Dança que permita o improviso, a diversidade, a espontaneidade individual. Dança lírica. Enquanto o futebol europeu é uma expressão apolínea de método científico e de esporte socialista em que a ação pessoal resulta mecanizada e subordinada à do todo - o brasileiro é uma forma de dança, em que a pessoa se destaca e brilha. (Adaptado de FREYRE, G. apud FRANZINI, F. No campo das idéias: Gilberto Freyre e a invenção da brasilidade futebolística. Buenos Ayres: Lecturas: Educación Física y Deporte. Ano 5 nº 26 - Revista digital (http://www.efdeportes.com), 2000.)

Texto 2. O Mulatismo Flamboyant: Apropriações do futebol como expressão da formação social brasileira.

 O esporte moderno é um território repleto de mitos poderosos, que cria e recria em uma base diária os heróis épicos e histórias, construindo uma das culturas mais  influentes na era globalizada. Alguns esportes (entre os quais o Futebol) se tornaram  mais do que meros jogos. Eles brilham com luz própria, e se transformaram, ao longo  do século passado, em lúdicos rituais religiosos de enormes proporções que, cada vez  mais fortemente, exercem uma forte influência na construção da identidade nacional contemporânea.
O processo de construção de uma nação é um tecido formado por diferentes  tendências políticas, econômicas e sociais ancoradas em símbolos, rituais e práticas que unem a população em celebrações periódicas com um forte sentido de coletividade. E  hoje, as comemorações do futebol participam ativamente na formação e no reforço do  sentimento de coletividade, a nação, o "nós" que está localizado superficialmente e além  das consciências individuais.
O caso do Brasil, um dos muitos estados-nação onde o futebol é vivido à escala  religiosa, é um bom exemplo de como esse esporte (metáfora de guerra e luta pelo poder  social), e as ações que o cercam e onde é desenvolvido, foi transformado em um  recipiente enorme de signos através dos quais podem ser vislumbrados alguns dos  segmentos que tecem e formam a imagem nacional. O futebol é mais que um jogo no  Brasil. É, como no título do livro de Alex Bellos (2002), "o meio de vida do brasileiro”.  Brasileiros jogam futebol em cada rincão do país: na escola, nas praias, nas ruas, nas favelas, nos condomínios e até entre os carros. A partir de formatos de lazer, criam torneios e campeonatos organizados, desde o básico até os níveis profissionais, que envolvem grandes quantidades de patrocínio e dinheiro. O futebol é destaque em qualquer tipo de mídia, todos os dias. O país para durante a Copa do Mundo. Escolas, bancos e os tribunais são fechados. Todos estão assistindo "o jogo".
No contexto brasileiro, a análise das comemorações de futebol permite uma abordagem privilegiada para o processo de construção da identidade nacional (...).  (TIAGO J. F. DE ALBUQUERQUE MARANHÃO - Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011)

Texto 3. Como se tornar um jogador de futebol (Revista Infanto-juvenil – Mundo Estranho – Ed. Abril).

Não basta saber fazer umas embaixadas e uns dribles parecidos com os do Ronaldinho. Para ser um craque profissional no Brasil é preciso vencer uma peneira de altíssimo nível. (Artur Louback Lopes - Edição 48)

Texto 4. Jovens buscam ascensão social nos gramados
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A maioria dos garotos de origem pobre no Brasil sonha em ser jogador de futebol. Afinal, num país com a oitava pior distribuição de renda do mundo, as chances de ascensão social são pequenas. A exemplo de jogadores como Romário e Ronaldo, que vieram de comunidades pobres e rapidamente ficaram milionários, muitos garotos querem seguir carreira nos gramados. De acordo com o professor do Instituto de Economia da Unicamp, Marcelo Weishaupt Proni, o futebol foi e continua sendo uma das poucas formas de ascender socialmente no Brasil, principalmente porque, segundo ele, “nos últimos 20 anos, as possibilidades de mobilidade social diminuíram e a recessão econômica que atingiu o país na década de 80 reduziu as chances de ascensão social”, diz. (Cauê Nunes – Revista Com Ciência – Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, 2006)



Texto 5 : Carlos Drummond de Andrade
Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.

A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas-de-pau.
Mesma a volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
ou no árido espaço do morro.

São vôos de estátuas súbitas,
desenhos feéricos, bailados
de pés e troncos entrançados.
Instantes lúdicos: flutua
o jogador, gravado no ar
- afinal, o corpo triunfante
da triste lei da gravidade.




[1] Adaptação ao texto de Jocimar Daolio – O futebol Brasileiro e suas contradições.

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